O Sol se põe mais cedo no Japão

Os filhos do Sol nascente vieram para os campos do Ocidente – o Sol já estava no poente. E eles voltam ao futuro. Ao Oriente onde recomeça a madrugada: a esperança da madrugada. Banzai!

* De onde vêm os japs? Do Sul da China? Do império do Meio? Do Sudeste da Ásia? Das espumas do Pacífico? Não sabem de onde vêm – certamente sabem para onde vão…

* No dia 18 de junho de 1908 o “Kasato Maru” deixou 799 pioneiros no Porto de Santos. Desceram em nossas terras carregando bandeiras verde-amareladas de seda. Eram ordeiros. Tinham dois mil anos de agricultura nas costas.

* Bem mais tarde vieram os “Cotia-Seinem”, jovens que seriam responsáveis pelo aumento da produtividade e modernização de parte de nossa agricultura. Depois vieram as multinacionais. Nisseis, sanseis, yonseis, goseis, eles estão aí. Eles trabalham!

* O confucionismo transformou o Japão numa nação unida. Eles bancaram sozinhos uma guerra contra a China, enfrentaram os EUA, fecharam-se e se abriram ao Ocidente. O confucionismo promove uma ética coletivista, de caráter hierárquico.

* Com o Japão, o capitalismo deixa de ser monocromático. A livre competição não conta. O que soma é a colaboração. Ninguém muda de emprego. As propostas vêm da base. A direção decide.

* Keidaren: a Federação das Organizações Econômicas do Japão, onde o setor privado realiza suas articulações com os governos do mundo. Seu presidente é Eishiro Saito, dono da maior siderúrgica do mundo. E maior importador de ferro do Brasil. A Vale é “nossa”. É vossa.

* Akyo Morita, o autor do best-seller, dono da Sony, mas investiu pouco no Brasil, ao contrário de Tohey Mimura, da Mitsubishi, cada vez mais ativa no Brasil: fazendas produtivas, alimentos, carros virão?

* Setsuya Tabuchi está associado no Brasil a Bozzano-Simonsen e a Namura Securities que é a maior corretora de valores mobiliários do mundo. Fumio Tanaka gosta de madeira. É dono da “Oji Paper Co.”: papelada…

* O interior do Japão: the Backlands: Kamakura, sede do governo feudal no ano 1000, com seus templos e santuários: onde se pode ver a imagem (branca) da deusa da Misericórdia. Caminho do Monte Fuji, das montanhas de Hakone, dos rios de Sukumo e Hayakawa, do balneário de Gora, do lago de Ashi, 723 metros acima do nível do mar.

* O Fuji: a 3.776 metros de altura, vulcão de forma cônica hoje apagado, mas de cujas entranhas infernais saltavam toneladas de lavas ferventes -quentes como as tripas do demônio: atração e inspiração espiritual para poetas e malditos.

* O templo budista de Keuchoji, o principal dos grandes Zens guarda as portas da China e o pavilhão relicário. O Engo-Kuji: local de meditação. O festival do Templo Ryukd-Ji, com as ruas coloridas pelas lanternas e bandeirolas pirotécnicas. Luz na noite – na grande esperança da noite…

* A grande imagem de Mirokubosatsu, do lado oriental do tempo budista Koriji: diante dela há que arrojar a fronte ao pó, em gesto de reverência humilde. Depois, o Kodama – o trem-bala. Banzai!

* Bairros de Tóquio: Ayoama é o mais rico. Em Akihabara estão os gadgets eletrônicos e a parafernália computadorizada. Rappongi é onde os fantasiados de intelectuais se reúnem. Ginza, o mais internacional. Ueno, o da cultura oficial, dos museus. Shinjuko, o das ruas coloridas. Tóquio-san.

* As ruas de Tóquio muitas vezes não têm nome, nem número. Por isso não saiam de táxi – aliás, não andem de táxi, mas de metrô – sem um babilaque escrito em jap. Nem todos entendem idiomas ocidentais. A revista Tokio indica todos os espetáculos.

* Os japoneses inventaram o “business-hotel”, um novo tipo de hospedagem, com acomodações pequenas, sem serviços de quarto. Os Ryokans são hotéis tradicionais, onde não se entra de sapato. Os hotéis-cápsula. Há quem goste. A gurizada vai para os albergues da juventude. Mas a alvorada é matinal.

* O Japão é o ponto final, a linha de chegada de todas as rotas que demandam ao Oriente Extremo. Tudo o que ali chega é mastigado e digerido de forma metabólica, assimilado. Adaptado à cultura milenar.

* O budismo atravessou as escarpas geladas da Índia e do Tibete, os desertos inclementes da China e chegou às ilhas nipônicas para conviver com o xintoísmo, o confucionismo, o taoísmo. O xintoísmo domina os ritos iniciais e de passagem; o budismo disciplina a ética, a política e as armas; o budismo leva à metafísica.

* O milagre japonês tem um santo: o povo disciplinado. Não existem analfabetos e 45 mil escolas educam todos até o fim do secundário. As crianças estudam das sete da manhã às quatro da tarde. Como se vê, não é um santo-inzoneiro-brasileiro, oba, oba…

* A maior empresa do mundo é japonesa. O maior banco também. Dos vinte maiores grupos mundiais, treze são japs. A renda per capita também é a primeira. E eles querem cada vez mais matérias-primas.

* A grande Tóquio chamava-se Edo e surgiu da organização militar do Xogum Tokugawa. Era a cidade do Leste, que foi feita capital pelo imperador meiji Teno. Hoje sua população já não se amontoa em torno dos castelos. Ganha altos salários, mas tem dificuldades de deslocamento: poluição!

* Japan Airlines: até hoje Kyoto mantém o traçado urbanístico de 1.100 anos atrás. O Kyoto Imperial Palace foi construído no ano de 794 e queimado várias vezes. Tem o estilo Shinden-Zukuri, do período Heian. As mansões Shugakuin, localizadas nos sopés das montanhas que lhes fornecem água fresca.

* Os sete samurais: quem deles não se lembra? Guerreiros assalariados do Shogun, que um dia decidem defender os campônios ameaçados. Yojimbo: ele era um rato-samurai. Entrou no palácio, foi servil. Mas um dia puxou da longa espada de guerra e cortou a cabeça do senhor. Quantos Yojimbos existirão? Samurais do povo! Os raios-laser substituem a espada do samurai.

* Osaka, perto de Nara, Kioto e Kobe: o coração comercial do Japão – a plataforma para o terceiro milênio. Mas também o Castelo de Osaka: diversas vezes construído (e reconstruído) ele é protegido por diversos lagos e muralhas, portões e jardins. Jardins de cerejeiras. Casa de chá do luar de agosto. Mas no terceiro andar está o que restou dos 700 anos de cultura militar dos samurais. É bom não esquecer. Samurais! E o Intex: o centro de estudos para projetos do século XXI e XXII.

* Certos pratos da culinária japonesa são servidos de acordo com as estações do ano, uns no inverno, outros no verão. Meu preferido – o sukiaki – só está completo quando servido com acelga, queijo de soja, cebolinha, espinafre. Sakê!

* O velho trem: meio de transporte que os japoneses ressuscitaram e aperfeiçoaram. Os trens-bala da Shinkansen, os trens expressos do tipo pendular, que permitem grandes velocidades nas curvas. Resultado de 25 bilhões de dólares de investimentos em pesquisa por ano. Dois bilhões de passageiros transportados. Sem um só acidente. Grande parte na FNJ, estatal. No futuro, trem flutuante, eletromagnético. O trem do ouro: Carajás-Nagoya. Acre-Callao. Madeira e minério! Ferro e cobre!

* Yoka: as horas vagas. A hora em que termina o trabalho e começa o sonho. Cerveja, uísque, peixe-seco. A orquestra vazia do karaokê. Há hotéis para samurais, hotéis para kamikazes, sonhos. “Mama-san”. Os pink-saloons escuros. Oito bilhões de litros de bebidas alcoólicas por ano. Yamashiro: a cidade do prazer. Oásis de sexo e pornografia. Não apenas uma máquina de produção, mas ainda um grande parque de diversões. Símbolo nacional: o Pachinko, fliperama supereletrônico. Solidão e catarse na noite de Tóquio.

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