Explore a bela Buenos Aires, bairro a bairro

Os pacotes para Buenos Aires são, normalmente, de três dias. É pouco. Se você gosta de conhecer desde as arandelas usadas nos postes até os tipos de janelas das casas, passando pelos mercados livres, feiras de artesanato e antiguidade, indo pelos pontos mais conhecidos e voltando pelos menos favorecidos, vai precisar de – no mínimo – cinco noites na capital portenha. Aqui cada bairro é uma minicidade, com características próprias e identidades bem definidas.

Para aproveitar mais sua estada em Buenos Aires, uma dica é percorrê-la bairro a bairro.

La Boca e o Caminito

Era o bairro que tinha tudo para dar errado: está na boca do porto, foi centro de prostituição e suas casas eram casebres improvisados com chapas de aço e zinco para abrigar os imigrantes e a pobreza. Até que apareceu Benito Quinquela Martín, um dos mais populares pintores argentinos. O artista, que viveu até os seis anos em um orfanato e morreu na década de 70, adotou o bairro La Boca quando adulto. Sem imaginar que ali criaria o principal – pelo menos o mais visitado – ponto turístico da cidade, o Caminito, Quinquela Martín e alguns amigos saíram pintando uma pequena rua de várias cores, transformando em arco-íris o cinza dos antigos cortiços. Nas ruas ao lado do Caminito se aglomeram diversos ateliês e exposições ao ar livre. É neste bairro que está o La Bombonera, o estádio do Boca Juniors. Ônibus: 25, 29, 33, 64, 152. Não é servido por metrô. Táxi do centro até aqui: cerca de R$ 15.

San Telmo e os antiquários

Raul Mattar
O tango, expressão viva da arte local, pode ser visto em diversos cantos da cidade.

Faz divisa com o La Boca. É o bairro dos antiquários e das principais casas de tango. Mesmo que não goste de antiguidades ou desse tipo de música, San Telmo é obrigatório. Aqui está a parte mais antiga da cidade, com muitos casarões dos séculos 18 e 19. Já foi a região mais rica de Buenos Aires, mas uma epidemia de febre amarela vinda do porto espantou os barões deste recanto. Depois de muitos anos foi redescoberto. Os casarões foram restaurados e hoje muitos deles abrigam pequenos hotéis e mais de 500 antiquários, que podem ser considerados pequenos museus com entrada franca. Visite a principal feira do bairro, que acontece aos domingos na Plaza Dorrego. É uma Feira de Antiguidades que lembra um pouco a Rua Uruguaiana, no Rio de Janeiro. Dá de tudo. Ônibus: 24, 28, 29, 65, 70, 195. Não é servido por metrô. Táxi do centro até aqui: cerca de R$ 12.

Montserrat e o Café Tortoni

O coração político de Buenos Aires está em Montserrat. Neste bairro central as mães da Plaza de Mayo saíram em protesto contra o governo há mais de 30 anos, exigindo a volta dos seus filhos desaparecidos nos porões da ditadura militar. Em frente a esta praça está a Casa Rosada que, dizem os poetas, era uma referência à conciliação política já que as cores dos partidos rivais no século 19 eram branca e vermelha. Mas reza a história que a cor da Casa de Gobierno é mistura de cal e sangue de boi – usada para impermeabilizar as paredes. Caminhando pela Avenida de Mayo em direção ao Congresso Nacional está o Café Tortoni, um entre centenas de cafés que existem na cidade. Mas era neste que se reuniam o escritor Jorge Luis Borges, às vezes Carlos Gardel, o rei do tango e – por um período até o poeta espanhol García Lorca, que viveu na cidade em 1933. Foi inaugurado em 1858 e preserva tudo intacto: espelhos, cristais, lustres. Oferece show de tango por R$ 25. Entre, sente-se próximo à caricatura de Borges ao fundo e peça um café, tostadas e dois churros. São R$ 10 ao lado da mais pura história portenha. Ônibus: 22, 24, 28, 29, 64, 86, 105, 111. Metrô: para a Plaza de Mayo desça na Estação Bolívar (Linha E) ou Estação Peru (Linha A) ou Estação Catedral (Linha D). Para sair exatamente em frente ao Café Tortoni, desça na Estação Piedras (Linha A).

No centro, bata perna sem rumo

Raul Mattar
Puerto Madero já é o metro quadrado mais caro da Argentina.

O centro e a Recoleta são excelentes lugares para observar um pouco o dia-a-dia do povo argentino. Ao mesmo tempo, oferecem bons programas típicos para o turista. No centro estão o Cemitério da Recoleta – onde o túmulo de Evita Perón é atração – e o Museu Nacional de Belas Artes, entrada gratuita – com um acervo interessante (Goya, El Greco, Monet, Van Gogh, Renoir). Nesta região está o Teatro Colón, atualmente em reforma, e o Obeslico de 67 metros de altura, fincado para celebrar a fundação de Buenos Aires. Depois há a famosa Calle Florida, o calçadão, que é cheio de lojas e quiosques vendendo pancho – o cachorro quente deles – e alfajores. Na mesma Florida estão as Galerias Pacífico, onde vale a visita pela arquitetura deslumbrante, mas é um ?shoppinzão? como outro qualquer. Ainda no calçadão está a Galeria Güemes. Nesta construção de 1915 fica o Piazzolla Tango (www.piazzollatango.com), um teatro da belle époque que faz homenagem a Astor Piazzolla e apresenta um dos melhores shows de tango da cidade. Ou seja, estes são os bairros para bater perna sem rumo. Ônibus e metrô: as principais linhas chegam e saem daqui.

Abasto e Carlos Gardel

O Abasto pretende se transformar no bairro do tango. Foi aqui que cresceu Carlos Gardel, o maior cantante do gênero e sua casa hoje é um pequeno museu. Com incentivo da prefeitura muitas viviendas, na altura da Calle Zelaya, passaram a pintar suas fachadas com letras de música ou usaram o fileteado, técnica artística portenha.

O Shopping Abasto, antigo mercado municipal, era freqüentado por Gardel. A não ser que você queira fazer compras em lojas tradicionais, é entrar e sair correndo. Mas dedicar algumas horas pelo bairro vale a pena, ainda que esteja bem longe de superar San Telmo ou La Boca. Ônibus: 12, 29, 34, 41, 64, 111, 118, 152, 194. Metrô: Estação Carlos Gardel (Linha B). Táxi do centro até aqui: cerca de R$ 15.

Palermo Soho e Palermo Hollywood

Tudo era Palermo Viejo. Ainda há um pedaço do bairro que se intitula assim. Mas com aquelas tacadas marketeiras-turísticas de mestre, dividiram o bairro em dois, antes e depois da linha de trem. Agora o must de Buenos Aires está em algum destes Palermos, principalmente no Soho e Hollywood. No Soho portenho estão as lojas moderninhas, os estilistas de vanguarda, os designers da hora, os descolados dos descolados. Jorge Luís Borges viveu alguns anos por aqui, na Calle Serrano, n.º 2.135. Tem também uma feira (www.feriaurbana.com.ar), onde os bambambãs da arte e do design expõem seus trabalhos nos finais de semana. O bairro é gigante, merece um dia inteiro de visita ou voltar em dois diferentes. O melhor período em Palermo é sábado. Ônibus: 34, 140, 151, 166. Metrô: Estação Palermo (linha D). Táxi do centro até aqui: cerca de R$ 16.

Puerto Madero

A investida do designer francês Phillippe Starck por aqui começa a dar resultados: Puerto Madero já é o metro quadrado mais caro da Argentina, algo como US$ 2,5 mil. O bairro começou pelo avesso. A idéia (e o investimento) do rico comerciante Eduardo Madero – lá no século 19 – de construir diques em frente ao centro da cidade naufragou feio. A ?orla? portenha era decadente e abandonada. Só em 1989 a região passou por um bilionário projeto de reurbanização. Foi tudo restaurado e as docas se transformaram em bares, restaurantes, cinemas, escritórios e até residências. Há inúmeros restaurantes de parrillas libres (mais ou menos um churrasco rodízio). Ônibus: 20, 22, 33, 64, 74, 109, 140, 143, 152, 159. Metrô: Está próximo da Estação Bolívar (Linha E), Estação Peru (Linha A), Estação L.N. Alem (Linha B). Táxi do centro até aqui: cerca de R$ 12.

Tarsila do Amaral, ?portenha?

Feche sua viagem em grande estilo. A obra suprema da brasileira Tarsila do Amaral, o Abaporu, está na Argentina. O Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (www.malba.org.br) – abriga esta e mais 227 obras do milionário colecionador e mecenas Eduardo Constantini. Tarsila pintou o Abaporu em 1928 para dar de presente de aniversário a Oswald de Andrade, seu marido na época, e o quadro se transformou em um marco paradigmático do modernismo brasileiro. Outros artistas que podem ser vistos no Malba são Frida Khalo, Diego Rivera, Roberto Matta, Di Cavalcanti e Antonio Berni. Funciona de quinta a segunda-feira, das 12h às 20h. Entrada: R$ 7. Estudantes não pagam.

Sílvia Oliveira – da VoucherPress, especial para O Estado.

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