Vida aquática sob ameaça

Destruição do habitat natural, poluição, pressão da pesca e utilização para o comércio ornamental. Estes são quatro fatores que causam uma triste realidade: somente no Paraná, 43 espécies de peixes e animais invertebrados aquáticos correm risco de extinção. A lista das ameaças está em um mapa divulgado no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseado em relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O Paraná é o quinto colocado no ranking, atrás de São Paulo (86 espécies ameaçadas), Rio de Janeiro (76), Rio Grande do Sul (55) e Bahia (51). Os dados são referentes a 2003. Em todo o Brasil, são 238 espécies de peixes e invertebrados que correm o risco de extinção, sendo 159 peixes de água doce e salgada e 79 invertebrados. Há na lista muitos animais pouco conhecidos do público geral – tanto que sequer possuem nome popular (veja quadro).

Segundo a bióloga responsável pela área de fauna do IBGE, Licia Leone Couto, a maioria destes animais está na faixa costeira, área do bioma da Mata Atlântica, onde há a maior ocupação humana no País. Para ela, a principal causa para a ameaça de tantas espécies é a destruição do habitat natural. Couto ainda destaca a poluição, a sobrepesca e a utilização de invertebrados como ornamentos como fatores para a pressão sobre estas espécies aquáticas.

O professor Marco Fábio Maia Correa, responsável pelo laboratório de ictiologia (estudo dos peixes) do Centro de Estudos do Mar, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), acredita que o maior problema está na falta de controle estatístico dos desembarques pesqueiros. Este levantamento, segundo ele, não é realizado no Paraná. “É preciso saber o que está sendo capturado e qual o tamanho. Não existe este tipo de informação. Santa Catarina tem um trabalho mais eficiente neste sentido. Nossa produção é essencialmente artesanal. Como proteger o que se desconhece?”, questiona. Correa afirma que a situação é grave e um dos indícios disso é o relato dos pescadores, que reclamam pegar cada vez menos peixes. “Mas a suposição vem apenas da observação”, pondera.

Pesquisadores do Centro de Estudos do Mar estão estudando o descarte feito pelos pescadores, ou seja, o que vem junto na rede com o que se chama de “alvo”. “Se fosse fácil, o problema já estaria resolvido. Mas é necessária uma atividade conjunta e articulada, e isso é muito difícil de se colocar em prática”, relata Correa.