Estudando o passado através dos fósseis

Muitos não sabem, mas uma grande parte do subsolo do Paraná apresenta rochas sedimentares que constituem o tipo ideal para se encontrar fósseis. Os fósseis são qualquer evidência de vida do passado geológico da Terra (pré-história), encontrados somente no interior dessas rochas e que têm uma importância imensa para a reconstrução da nossa história. Para entender o mundo em que vivemos hoje, o meio ambiente, a fauna, a flora e as mudanças climáticas que estão ocorrendo é necessário estudar e entender como era a vida no passado: o clima, a vegetação e o que aconteceu com os animais que foram extintos.

O fóssil é a prova de que esses animais realmente existiram e de que houve uma mudança gradual nas espécies. ?Os fósseis constituem o objeto de estudo da paleontologia, área do conhecimento que tem estreita ligação com a biologia e a geologia. A biologia porque permite que a gente tenha uma idéia de como o animal se comportava, como era a vida dele, e a geologia porque vai oferecer a visão do ambiente em que o animal vivia?, explica o paleontólogo e curador do Museu de Ciências Naturais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fernando Sedor.

Os fósseis podem ser restos corpórios de um esqueleto, uma carapaça, dentes e ossos de um animal, ou até evidências de atividades desses animais pré-históricos, como pegadas, marcas de mordidas e até fezes. ?Para um organismo ser fossilizado, há a necessidade desse organismo ser encoberto bem rapidamente por um material protetor, para que ele seja preservado contra a ação do mar e de organismos decompositores?, diz o paleontólogo. Geralmente só as carapaças, ossos, dentes e bicos se fossilizam, porque são mais resistentes. ?A regra é não encontrar esqueletos completos. É muito raro achar o corpo inteiro de um animal?.

No Paraná existem fósseis muito antigos como os estromatólitos, que foram encontrados na região de Itaiacoca e que constituem grandes estruturas calcárias colunares, produzidas por microorganismos muito antigos, cuja idade ultrapassa um bilhão de anos. Durante o período Devoniano, o mar cobriu parte do Paraná. Rochas que evidenciam esse fato, datadas entre 355 e 380 milhões de anos, foram encontradas na região de Ponta Grossa, Tibagi e Jaguariaíva, onde são comuns fósseis de organismos marinhos como conchas de moluscos, trilobitas, braquiópodes, estrelas-do-mar, etc. Há cerca de 320 a 295 milhões de anos, durante o período Carbonífero, a região sul da América do Sul  encontrava-se mais próxima do pólo Sul e sofria glaciações. Há aproximadamente 270 milhões de anos, havia um grande lago situado na região Sul da América do Sul e da África (quando estes ainda estavam unidos). Nele nadavam os mesossauros (Mesosaurus), mergulhando para capturar pequenos crustáceos e vindo à tona, ocasionalmente, para respirar. Os mesossauros eram pequenos répteis aquáticos (cerca de um metro) com aspecto de lagarto (os lagartos verdadeiros ainda não haviam surgido). Quando morriam, iam ao fundo e seus corpos eram encobertos por sedimentos do solo desse lago.

As rochas formadas desse depósito estão nas regiões de São Mateus do Sul e de Santo Antônio da Platina. Os mesossauros constituem a mais antiga evidência de que a América do Sul e a África eram unidas, pois fósseis de mesossauros também podem ser encontrados em rochas semelhantes no continente africano.

?Extinções são comuns?, diz paleontólogo

?As extinções são comuns ao longo da história da Terra, não é um fenômeno de causa totalmente desconhecida. A vida, ao longo da história, foi dando origem a espécies que se adaptavam a um determinado clima?, afirma paleontólogo e curador do Museu de Ciências Naturais da Universidade Federal do Paraná, Fernando Sedor. Como houve muitas alterações climáticas, devido ao deslocamento dos continentes, alguns animais se extinguiram porque não se adaptavam a certas temperaturas.

Outra hipótese para a extinção, é a de que animais carnívoros maiores e mais fortes se alimentavam dos herbívoros, mas isso, garante Sedor, é um processo natural de alteração ecológica. ?Existem pelo menos 5 ou 6 grandes extinções ao longo desses anos, provavelmente todas elas por causas naturais. Se não houvesse extinção, não nasceriam novas espécies e ficaríamos parados no tempo, sem evolução.? No caso dos mamíferos de grande porte, como os mastodontes, o que ocorreu foi uma mudança na paisagem. Boa parte do Brasil era de áreas abertas, tipo savana, o que permitia a locomoção desses animais. Como mudou toda a vegetação e começaram a surgir as matas fechadas, eles sumiram. O homem apareceu no final do período Pleistoceno e conviveu com essas espécies de mamíferos, mas ainda não foram encontrados vestígios, aqui no Paraná, de vida humana associada com a desses animais, somente em outras regiões do País, como na Bahia. Segundo o arqueólogo e professor da UFPR, Igor Chymys, ?o homem é um animal criativo e que, através da tecnologia, consegue se manter em locais sem condições de sobreviver, como no frio intenso ou no calor?.

O clima e a paisagem da Terra já mudaram várias vezes, o nível do mar já subiu e desceu várias vezes, e oceanos que antes não existiam, passaram a existir, mudando assim a vida no planeta. As alterações climáticas que estamos sofrendo atualmente, podem ser, como todas as outras, naturais. ?Por enquanto nós não estamos preocupados com esse aquecimento global, porque não saímos ainda de uma margem de alteração climática muito diferente das que já ocorreram no passado. Mas o homem pode sim estar acelerando o processo de aquecimento e extinguindo seres vivos, através de seus poluentes e da devastação ambiental. Nós estamos no limite, se continuarmos assim pode haver prejuízos maiores?, alerta Sedor. (CPS)

Preguiças gigantes habitaram o Paraná

No intervalo de tempo chamado Pleistoceno (1,8 milhão de anos até 12 mil anos atrás) o Paraná era, em grande parte, coberto por vegetação esparsa com áreas abertas, como savanas e campos. Nessa paisagem, encontrava-se além da maioria dos atuais mamíferos, outros já extintos. São atualmente conhecidas nove espécies de mamíferos fósseis que habitavam o Estado, entre eles estão os representantes da chamada ?mega fauna sul-americana? que inclui as gigantes preguiças terrestres ou megatérios e mastodontes (Stegomastodon waringi).

Os megatérios, cujo nome significa animal gigante, eram cobertos por densa pelagem, apresentavam hábito herbívoro como as atuais preguiças, no entanto, devido ao seu porte, não subiam em árvores. Alguns deles mediam até 6 metros e, provavelmente, pesavam tanto quanto um elefante. Na área da atual represa de Salto Segredo (Pinhão), paleontólogos do Museu de Ciências Naturais da UFPR escavaram restos de preguiça gigante, mastodonte e um cavalo extinto. Mais recentemente, coletaram uma nova espécie de preguiça gigante em Ribeirão Claro, que se encontra em fase de estudo. Restos de uma outra espécie menor de preguiça terrícola (Scelidodon) que media aproximadamente 2,5 metros, foi encontrada em cavernas da região de Adrianópolis e Doutor Ulisses, de onde também provém um crânio de uma espécie de cachorro extinto, o Protocyon troglodytes, um robusto predador deste período. Ele foi contemporâneo do lobo guará e do cachorro do mato.

Numa caverna da região de Rio Branco do Sul, encontrou-se restos de um grande animal grosseiramente semelhante e do mesmo porte de um hipopótamo, conhecido pelos paleontólogos como Toxodon platensis. Também são conhecidos espécimes de antas, veados e porcos-do-mato. (CPS)

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