A Pele da Flor

Tatuadora usa arte para apagar marcas da violência doméstica

Uma das postagens de maior alcance nas redes sociais da Prefeitura de Curitiba no mês de julho foi a que conta a história da tatuadora Flávia Carvalho, idealizadora do projeto “A Pele da Flor”, de resgate da autoestima das mulheres vítimas de violência doméstica que cobre com arte e cores as cicatrizes e marcas da brutalidade que elas sofreram.

A atitude da curitibana comoveu mais de 2 milhões de internautas alcançados pela postagem nas redes sociais da “Prefs”, que gerou em uma semana 96.317 curtidas, 6,2 mil compartilhamentos e 4.490 comentários, na grande maioria elogiosos à sensibilidade da Flávia.

Além de se preocupar com as mulheres agredidas por seus ex-maridos, namorados ou companheiros, a tatuadora já desenvolvia um trabalho especializado com as mulheres que foram submetidas à mastectomia e também carregam no corpo as marcas do sofrimento na superação do câncer de mama. “Eu gosto do que eu faço. É uma profissão bem gratificante porque a gente percebe a transformação na vida das pessoas. O resgate da autoestima e o reforço da identidade da mulher, desde a atitude de fazer a tattoo, escolher o tema até a satisfação em exibir o resultado final do nosso trabalho”, comenta a tatuadora.

Flávia Carvalho é tatuadora há cinco anos e depois de ouvir das clientes histórias chocantes e tristes sobre violência doméstica, resolveu fazer a diferença. Um dia, ela atendeu uma mulher em seu estúdio a fim de cobrir uma cicatriz, causada por um corte profundo no abdome. A mulher contou que estava em uma casa noturna, foi abordada por um homem e, ao recusar beijá-lo, foi atacada com um golpe de canivete. O corte fazia ela sentir  vergonha do seu corpo e trazia lembranças tristes.

A tatuadora procurou a Secretaria da Mulher de Curitiba e apresentou o projeto “A Pele da Flor”. “Quando a Flávia veio até nós e falou desse trabalho bonito, o interesse foi imediato porque tem tudo a ver com as medidas e campanhas que fazemos de enfrentamento da violência contra as mulheres”, explica a secretária da Mulher, Roseli Isidoro. A secretária convidou a tatuadora para contar sua experiência em um dos paineis de debate da 1ª Jornada Nacional Mulher Viver Sem Violência, que acontecerá de 23 a 25 de novembro em Curitiba, organizada pela Secretaria da Mulher, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Positivo (UP) e Núcleo de Direitos Humanos da PUC-PR.

“Para além da autoestima, a tatuagem faz com que a mulher supere o que sofreu, não enxergue mais aquela ferida e se aceite, a partir dessa cicatrização emocional”, disse Roseli.

Foi justamente o que aconteceu com a Aline Garcia. Uma amiga compartilhou com ela a postagem da Prefeitura sobre o trabalho da Flávia Carvalho e sugeriu que ela se dispusesse a apagar do corpo as cicatrizes das facadas, queimaduras e agressões do ex-namorado. “Fiz contato e para minha surpresa fui prontamente atendida. Agora, vou olhar para o local da cicatriz e não vou mais enxergar a violência, conviver com essa marca da violência. Vou ver as cores da superação na arte da Flávia”, conta Aline. “A gente que sofreu com esse tipo de violência e permaneceu viva, tem de levantar a cabeça e seguir em frente”, conclui.

Top Five

A gerente de projetos especiais das Mídias Sociais da Prefeitura de Curitiba, Camila Braga, comenta que o alcance da postagem da tatuadora surpreendeu a equipe que trabalhou na produção. “O diferencial é que a postagem conta uma história, com foto e texto narrativo. A tendência da rede social é de valorizar imagens chamativas e de leitura rápida”, informa Camila. “É a primeira vez que uma postagem narrativa desse tipo entra no que chamamos de ‘Top Five’”, conta Camila.

Flávia se dispõe a repassar para suas clientes a conscientização sobre os cuidados que elas precisam ter com a própria saúde, os exames preventivos, onde buscar serviços na rede pública municipal e as ,informações sobre as ações de enfrentamento da violência contra a mulher na cidade de Curitiba. Ela pretende se tornar também uma multiplicadora das ações e serviços públicos voltados à garantia dos direitos das mulheres.