Na medida certa

Com fama de vilão, açucar é benéfico se houver moderação

De tempos em tempos, alguns alimentos passam a ter um status de vilão, sendo apontados como os principais causadores de doenças. Já passaram por esse processo o ovo, a carne, o pão, entre outros produtos. Mas um deles costuma ser o campeão do preconceito alimentar, evitado, muitas vezes, até por quem não tem nenhuma restrição ou problema de saúde: estamos falando do açúcar, o doce amado e, ao mesmo tempo, temido por muitos.

Apesar da fama de mau, segundo o médico nutrólogo do Hospital Pilar Gustavo Gomes de Castro Soares, o açúcar é um alimento benéfico, desde que bem utilizado. “Como nutriente, ele é o combustível mais fácil e rápido de ser utilizado pelas células, para que elas possam desempenhar suas funções, como, por exemplo, as atividades físicas que necessitem de movimentos rápidos e repetitivos intensos e as atividades intelectuais intensas, como estudar, escrever e ler”. E, com exceção dos diabéticos, todos podem consumir o açúcar. “Todas as pessoas devem consumir açúcar, porém, elas devem imaginar que seu uso deve ser bem orientado, de acordo com situações e quantidades adequadas”.

Outro mito associado à ingestão do açúcar é que ele estaria ligado à obesidade. Soares explica que a causa da doença não é o açúcar, mas uma combinação de fatores. “A causa da obesidade não é a ingestão do açúcar, de maneira isolada. A obesidade está relacionada a dois fatores básicos: a maior ingesta alimentar, (mas não só do açúcar) e o menor gasto energético por parte do organismo, com o sedentarismo”, complementa.

Isto, no entanto, não significa que o açúcar possa ser consumido à vontade. O médico aponta os perigos que o consumo excessivo pode provocar. “Entre os riscos, estão estimular demais o pâncreas, e com isso, com o tempo prejudicar a função deste órgão. Há também o risco na sua transformação em outro tipo de combustível (triglicerídeos), que podem ser depositados, causando diversas doenças, entre elas, aumentando as chances do desenvolvimento da obesidade”.

Quantidade certa

Para a nutricionista Marilize Tamanini, autora dos livros Comportamento Magro com Saúde e Prazer e Estômago Magro versus Comportamento Gordo, o problema atual com o açúcar vem desse exagero por parte das pessoas e dos fabricantes. “O açúcar é uma fonte de energia. Mas, hoje, as pessoas exageram no seu consumo e a indústria alimentar, sabendo disso, vicia cada vez mais o paladar dos consumidores. O açúcar só contém carboidrato, cada grama tem quatro calorias, ou seja, uma colher de sopa cheia 25g tem 100 Kcal. Diabéticos não devem consumir açúcar e os demais devem evitar os excessos”.

Sobre as quantidades diárias, ela recomenda cautela. “Consumir uma colher de sobremesa ao dia é tolerável e, se possível, prefira o demerara ou mascavo, que são melhores do que o açúcar refinado. Dos derivados da cana, fique com o mascavo ou demerara, que dissolve melhor. Já o mais saudável é açúcar de coco, mas que também é o mais caro”, indica. E se a vontade de comer um doce bater, a nutricionista afirma que o horário ideal para esse consumo é pela manhã ou antes dos exercícios físicos.

Menos é mais

De acordo com engenheira de alimentos e professora do UniBrasil Centro Universitário Cláudia Helena Degáspari, o problema do açúcar não está na sua presença na alimentação diária e, sim, na quantidade consumida. “É neste ponto que a entidade máxima da área alimentícia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) está tentando orientar os governantes, empresas e consumidore,s”.

Ela diz que, em março deste ano, a OMS divulgou as novas diretrizes para o consumo de açúcar, abaixando para 5% do total de calorias ingeridas ao dia, metade do que vinha sendo sugerido nos últimos dez anos. “Essa redução tem como objetivo combater dois grandes males que atingem a população: a obesidade e aos problemas dentários (cárie). O que se recomenda hoje é um consumo máximo de 25 gramas por dia (cerca de seis colheres de chá), ou 100 calorias, dentre as 2.000 calorias diárias indicadas para um adulto. No Brasil, o consumo diário atual por habitante é de até 150 gramas de açúcar, sendo que a média mundial de 57 gramas”.

E, antes de comprar ou consumir um produto, Cláudia sugere atenção. “Evite comparar um alimento embalado que contiver açúcar nos primeiros três ingredientes, pois, a ordem dos ingredientes é a ordem de quantidade desse ingrediente no alimento, do maior para o menor. Outro detalhe é que outros açúcares, muitas vezes rotulados como saudáveis (agave, mel, cana de açúcar orgânico e açúcar mascavo ou demerara) estão na mesma categoria e também devem ser consumidos com moderação”.