Corega, nunca mais!

A falta de uma terceira dentição é uma injustiça com o ser humano: ele nasce desdentado, ganha sua primeira dentição, os “dentes de leite”, que logo a seguir, aos quatro ou cinco anos, são substituídos pela segunda dentição, esta com a missão de cumprir a difícil e heróica tarefa de durar para o resto da vida, resistindo à carência de assistência dentária, toneladas de açúcar, murros, trombadas e muitas quedas de bicicleta.

Demorou, mas enfim o Todo-Poderoso corrigiu a injustiça e está nos proporcionando a terceira dentição. Graças à revolução dos dentistas, uma dádiva divina para os de terceira idade: adeus dentadura imersa num copo d´água, na cômoda ao lado da cama; adeus ponte de porcelana e ouro; adeus perfuração na mandíbula para implantar dentes falsos no lugar daqueles originais; adeus à medieval imagem do dentista, aquele carrasco; adeus à cadeira de dentista, aquele patíbulo.

Adeus a todos os medos e desconfortos, se a descoberta anunciada por um odontólogo britânico do prestigioso Dental Institute of King´s College, de Londres, passar da fase de experimentação, com ratos de laboratório, para a cura de seres humanos. Os dentes prejudicados, doentes e caídos, afirma o professor Saul Sharpe, especialista em odontologia regenerativa do King´s College, poderão ser substituídos, fazendo crescer na boca do paciente novos dentes. Não é milagre, nem magia: basta injetar na gengiva, no ponto onde caiu o dente doente, algumas células extraídas do próprio paciente e depois de três meses nascerá um novo dente. Assim como quando criança, cai um “dente de leite” e desponta o dente permanente. Eis o milagre da terceira dentição.

A recente notícia suscitou grande interesse na Inglaterra: o jornal diário The Guardian deu metade da primeira página e as televisões dedicaram amplas reportagens. A excitação é compreensível, considerando que o inglês médio odeia dentistas e aos 50 anos já perdeu quase todos os dentes, a descoberta é uma revolução para os males da boca.

Em entrevista para o The Guardian, o professor Sharpe conta que o método é relativamente simples. Quer dizer, simples para quem é do ramo. Para quem não é do ramo, como este escriba, é o seguinte, com a devida licença pelo primarismo: os médicos retiram as células tronco de um paciente, que são tratadas em laboratório e, depois de uma semana, estão prontas para ser transplantadas no paciente. Uma série de testes revela, previamente, que gênero de dente farão crescer: um molar, por exemplo, ou um canino. Assim, com anestesia local, as células são injetadas na gengiva. Dois ou três meses depois, um novo dente começa a crescer e desponta na gengiva, coligado aos nervos e tecidos sangüíneos, graças ao “encorajamento” vindo dos agentes químicos naturais.

Deu para entender? Eu não entendi muito bem, mas os doutores estão praticamente seguros. A “terceira dentição” foi até agora experimentada em ratos de laboratório, com excelentes resultados. Segundo o professor Sharpe, “não há razão para que não funcione nos seres humanos, pois o princípio é o mesmo”. A equipe médica de Sharpe formou uma sociedade, chamada Odontis, para desfrutar da nova técnica. O que significa fortunas à vista. Bom para eles, melhor ainda para todos nós. Só ficou ruim para os fabricantes do Corega, aquele fixador de dentaduras.

Até sexta-feira, doutor Carlos Justo, dentista-herói que vive na Ilha do Teixeira, atendendo caiçaras carentes aqui do nosso litoral.