Chega de saudade

Como será contada a história do goleiro Weverton no Furacão?

Nesse futebol sem ideal e sem fidelidade, que nem mesmo “a camisa rubro-negra só se veste por amor”, jogar 5 anos em um time é quase ser eterno. Mas o tempo jogado, no futebol, nem sempre é encartado pela história. É que a história no futebol só tem como fonte as conquistas.

Há história mais bela no Atlético do que a de Alex Mineiro?

Não canso de recordá-la. Para ser o maior ídolo da história recente do Furacão, Alex Mineiro sabia que o tempo para a torcida do Atlético contava-se pelas batidas do coração. O contar está passado, porque hoje está em descompasso arbitrado. E, às vezes, o coração rubro-negro desafiava o tempo: em 2001, em quatro jogos, com oito gols, Alex ofertou o maior título da sua história. Mas a história de Alex Mineiro não pode ser tomada como exemplo. É que foi produzida, dirigida e executada por uma intervenção divina.

Tenho saudades de Alex Mineiro.

Procuremos, então, pela história de mortais. A de Flávio.

Caju não conta porque imortal fez o caminho inverso de todos os outros: veio do céu para jogar pelo Furacão. Cumprida a missão, para lá voltou como a sua maior lenda. Por essa razão, nenhum goleiro ganhou mais títulos pelo Atlético do que Flávio. Na foto do campeão brasileiro de 2001, lá está ele: é o negro, alto, magro, com as suas mãos soberanas, que mais pareciam “as garras de uma pantera”, na feliz oração de Carneiro Neto. Flávio acabou com a lenda discriminatória de que o goleiro do Atlético tinha que ser branco e de olhos azuis. Tenho saudades de Flávio.

Weverton ganhou apenas um título estadual. A conquista da medalha de ouro pelo Brasil nas Olimpiadas foi uma vitória pessoal.

Mas que não se negue Weverton na história do Atlético. Ele (como todos os jogadores) foi vítima de uma época em que o futebol do clube recebe um tratamento insensível, jogado às traças em matéria de conquistas. Durante os 5 anos em que jogou, o Furacão nunca teve um grande time, como era o Atlético nos tempos de Flávio. A derrota no futebol submete qualquer fato. Até os pênaltis defendidos e as defesas impossíveis, como as de Weverton. Tenho saudades daquele Atlético.

Chega, estou sentindo saudades que podem ser estragadas pelo Furacão de hoje.

Voltemos a Weverton. Ele merece ser lembrado pela história. Nem que a história vá buscar amparo no poema de Mario Quintana: “se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho”.