Entrevista exclusiva

Entre os melhores do ballet do mundo: Thiago Soares explica “Último Ato”

thiago soares ballet
Foto: Angela Zaremba / divulgação.

O bailarino brasileiro Thiago Soares, que é reconhecido como um dos melhores do mundo, divulgou recentemente sua nova turnê internacional “Último Ato”. Apesar do nome provocativo, Thiago deixou bem claro em entrevista exclusiva para a Tribuna que esta não será sua despedida dos palcos e muito menos da dança. “Eu danço sem fim”, revelou.

Thiago Soares nasceu em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, foi Primeiro bailarino da Royal Ballet de Londres, é doutor honorário pela King’s College London, e atual diretor do Ballet de Monterrey, no México. Ele já se apresentou em mais de 30 países e agora anuncia sua mais recente turnê.

LEIA TAMBÉM:

>> Oficina de Música de Curitiba chega ao fim neste fim de semana com atrações gratuitas

>> Fevereiro de shows para todos os gostos e estilos em Curitiba; veja agenda

Nesta atual turnê, Thiago tem apresentação confirmada em Lisboa, em apresentação única no dia 20 de abril, depois se apresenta no Rio de Janeiro entre os dias 25 e 28 de maio. No dia 02 de junho é a vez de Curitiba, com espetáculo já confirmado no Teatro Positivo.

Apesar do nome “Último Ato” parecer ser algo que se encerra, Thiago explicou que o espetáculo na verdade brinca de forma irônica com sua nova fase na dança. Confira a seguir a entrevista completa com o bailarino:

Esta é a sua última turnê internacional como bailarino, a frente de um espetáculo?

Thiago Soares – Na verdade não. Hoje eu sou diretor, coreógrafo, já estou há um dois anos na direção do Ballet de Monterrey (México). Eu não tenho planos de parar de dançar. Esse projeto eu queria muito fazer, queria rodar com ele. Fazer uma turnê, mas fazer uma turnê longa, visitando todos os públicos, demanda um tempo da sua vida. Essa decisão é um trocadilho com o nome do espetáculo [Último Ato]. Eu não acredito que eu vou ter essa oportunidade novamente, a não ser que a vida mude. Eu não tenho planos de sair em turnê de novo. Então a gente resolveu assumir isso. Às vezes tem que embarcar no que a vida mostra pra gente. É uma última turnê. E é um barato porque brinca com esse tema do espetáculo. Eu não estou me sentindo melancólico, porque estou seguindo com outros projetos, porque danço sem fim.

Podemos dizer então que o espetáculo é uma biografia?

Thiago Soares – É uma análise irônica da minha biografia. Com certeza, assim, é uma nova porta, um momento novo. É uma análise com ironia e com lembranças e reflexões, trazendo um pouco do que eu deveria estar fazendo agora. É um espetáculo que um artista da minha trajetória deveria estar fazendo. Tem a parte dessa terapia mental e é um espetáculo que me desafia fisicamente.

É um espetáculo que me coloca em outro lugar, num lugar de ator, locutor. Tem algumas surpresas que são bastante interessantes. Isso é algo que eu nunca vi no teatro. É uma nova porta, é um começo. É uma porta que se fecha e outra que abre.

Eu acho também que o bailarino, quando fica mais maduro. Ele começa a morrer, começa a fazer o pai de não sem quem, a mãe de Giselle. E eu acho que o barato é levar a maturidade e assumir ela, colocar ela no protagonismo. Historias de frente, e não secundárias. O Último Ato traduz isso em cena.

E quais são seus planos a partir de agora? Você fundou recentemente uma escola de Ballet no Rio de Janeiro, como está esse projeto?

Thiago Soares – A nível pessoal, eu estou curtindo esse momento. Estou no set, gravando um filme da minha trajetória, sou diretor de Monterrey, estou fazendo grandes obras como coreógrafo. Assim, eu tenho um desejo de num futuro me preparar para gerir, ou de alguma forma encarar outros caminhos e de alguma forma gerir cultura. Estar num lugar de abrir portas para outras coisas, exercitando arte porque é o que me define. Tenho a intenção de dirigir, gerir, um trabalho mais próximo do Brasil. Eu tenho essa saudade de estar no país, contribuir de uma forma mais presente.

Eu tenho uma escola no Rio, um projeto que ajudo bailarinos mais jovens. Esse processo eu já tenho exercitado ele. Talvez num futuro, eu já vou estar preparado para talvez testar desafios um pouco maiores. Estou no segundo ano de direção em Monterrey. Talvez por que não dirigir aqui no Brasil num momento? É algo que eu penso sim. Talvez seja bastante legal, para poder estar mais em casa, com a família e amigos, com pessoas que são próximas de mim. Poder contribuir, inspirar outras pessoas. Poder trocar, criar um espetáculo de danças urbanas, de samba, de artistas de outros vieses, não só de ballet clássico.

Você é considerado um dos maiores bailarinos brasileiros, que teve uma excelente trajetória na dança no exterior. Chegou aos palcos das grandes companhias de dança, foi primeiro bailarino da Royal Ballet de Londres. Como foi essa sua caminhada, você tinha noção do quão longe poderia ir?

Thiago Soares – Na verdade as coisas foram acontecendo. Eu ainda me sinto, me sinto ainda muito no corre. Um dos meus combustíveis, o combustível para eu conseguir, seguir na conquista. Pensar em qual é o próximo, não ficar muito sentado, numa posição de conquista.

Às vezes eu paro e me dou conta da minha jornada, que é longa e de muita sorte. Eu sempre penso no próximo, e o quanto mais eu posso fazer e quanto melhor eu posso ser. Eu acho que não tive esse momento de ficar completamente seguro, pensando no que eu conquistei. Estou sempre pensando que pode haver um outro momento, diferente, melhor. É essa fome que me dá força para seguir.

A gente sabe que no ballet existe uma exigência grande, às vezes até fora do que é considerado humano, que envolve técnica, força, equilíbrio, alinhamento. Como você aprendeu a lidar com isso? Existe algo que você ainda busca?

Thiago Soares – Eu acho que assim, eu tive a sorte de entrar em uma companhia clássica tradicional cedo. Eu vivi a vida do perfeccionista até os meus 35, 38 anos. Eu vivi essa busca da perfeição que não existe. Isso é um exercício que traz um desgaste físico grande, mas que deixa uma marca que é uma busca sem fim.

Na vida a gente sempre busca a nossa melhor versão, é um exercício. Eu acho que eu tive essa sorte de ter esse acesso, de viver essa coisa do bailarino profissional, isso fica pra vida. Seja lá o que você for fazer, sempre tem essa busca de ser melhor. O corpo chega uma hora que pede outras coisas, outra movimentação. Você também acaba querendo buscar outras coisas. Eu vivi isso do bailarino, papéis imperdoáveis, dos príncipes, meu corpo queria aqueles desafios. Eu visitei isso muitas vezes, quando deixei de fazer esses papéis, eu estava querendo dançar as minhas próprias partituras. Os espetáculos que fiz nos últimos quatro anos, eu mesmo fiz a curadoria. Um desejo de processo de carreira.

Hoje eu me sinto muito bem, em forma, num momento muito bom fisicamente. Hoje eu sou um bailarino de cabelo grisalho, e está tudo bem. Se me der o desejo, eu vou lá e pinto. Queria ir pro palco grisalho. Porque quero mostrar que não quer dizer que acabou. A ironia do espetáculo também brinca com isso. O ballet tem essa crueldade do tempo, que acaba e você não é mais o príncipe. E a Aurora não é mais Aurora [princesa em A Bela Adormecida], não é mais a Odette [princesa em O Lago dos Cisnes]. Eu queria ser o meu Siegfried [príncipe em O Lago do Cisnes]. Esse espetáculo brinca muito com esse momento.

Último ato é o começo de uma nova etapa. O que é o último, afinal? Quem determina é a gente. É um espetáculo que tem um olhar muito diferente das coisas que eu estou acostumado a fazer. É uma versão minha de agora.

Você que esteve em tantos países, viu de perto como é trabalhar com dança na Europa. O que podemos aprender com eles e o que a gente tem para ensinar?

Thiago Soares – Eu acho que a gente é muito rico em talento, em garra, acho que nós temos a arte em nós. Estamos num momento bom de esperança agora, onde os olhares do país são de prosperidade, de união e cultura.

Acho sempre legal olhar para outros países e lugares onde eles exercitam a disciplina ao extremo, de fazer pelo caminho certo e não cortar caminho. Investir, perseverar, não desistir. Se quer ganhar físico, músculo, leva um tempo. Não é um clique que vai fazer você estar em forma. É um exercício. Respeitar regras, respeitar o tempo que se leva. Isso é muito aguçado na Europa, essa disciplina. O mais importante é sempre olhar para outra cultura, artistas, e trocar, poder conquistar a melhor versão. É isso, quer evoluir, crescer, poder olhar, ver o vizinho e trocar com ele, ir virando uma versão turbinada de nós mesmos.

Você acha que os profissionais brasileiros no ballet tem algum diferencial lá fora? O que você diria para quem está começando e sonha com uma carreira internacional.

Thiago Soares – Eu acho que os bailarinos, coreógrafos brasileiros, dançarinos são tão emblemáticos nesse mundão lá fora. Nossa cultura é muito emblemática, ela é a nossa força, e isso é de dar muito orgulho pra esse mundão. Eu me sinto muito honrado de fazer parte.

O recado que eu dou para quem gosta de dança e almeja ter uma vida em dança é se analisar e perceber rapidamente se ama isso. Se for amor, siga, porque é possível. É uma carreira difícil, dolorosa, às vezes injusta. Você se dedica, mas o resultado final faz parte de uma sinergia que acontece, de toda essa a mágica de dançar.

Serviço

Thiago Soares apresenta Último Ato

Ingressos a venda em Disk Ingressos

Duração: 1h25

Classificação: Livre. Menores de 14 anos, somente poderão entrar acompanhados dos pais ou responsáveis.

Data: 02 de junho de 2023, às 20:00h

Local: Teatro Positivo (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido, Curitiba).

VALORES:

Setor Superior Esquerdo e Direito: R$ 180 + taxas (Meia entrada R$ 90 + taxas);

Setor Inferior Esquerdo e Direito: R$ 200 + taxas (Meia entrada R$ 100 + taxas);

Setor Superior Central: R$ 200 + taxas (Meia entrada R$ 100 + taxas);

Setor Inferior Central: R$ 300 + taxas (Meia entrada R$ 150 + taxas).

Você já viu essas?

Denúncia de crime ambiental para derrubada de centenas de árvores em Curitiba
Denuncie!

Denúncia de crime ambiental para derrubada de centenas de árvores em Curitiba

Bar raiz em Curitiba “captura” clientes por horas; Comida boa, cerveja gelada e proteção do Papa
Clássico!!

Bar raiz em Curitiba “captura” clientes por horas; Comida boa, cerveja gelada e proteção do Papa

“Uber” para caminhoneiros, empresa de Curitiba fatura milhões
Inteligência

“Uber” para caminhoneiros, empresa de Curitiba fatura milhões

Whatsapp da Tribuna do Paraná
RECEBA NOTÍCIAS NO SEU WHATSAPP!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.