Travesti fuzilado na rua

Quando estava a espera de mais um cliente, o travesti Elisandro Henrique de Souza, 22 anos, conhecido como “Ketlin”, foi assassinado com quatro tiros. Ele estava próximo a um poste, às 23h30 de quinta-feira, na esquina da Rua Piquiri com a Rua Almirante Gonçalves, no Rebouças, e foi surpreendido pelo assassino, que, após atirar, embarcou em um Renault Scènic, cor prata, e fugiu com outros indivíduos que o aguardavam.

Outro travesti, que prefere não ser identificado, contou que tinha terminado o programa com um cliente, ali mesmo, e presenciou o crime, por pouco não sendo baleado. Segundo ele, o carro encostou perto de “Ketlin”, que fazia ponto sob um poste de luz. De repente, o atirador saiu do carro e apontou a arma para a vítima. “Ele não disse nada e atirou umas cinco vezes”, descreveu a testemunha, lembrando as últimas frases de “Ketlin”: “O que é isso? O que está acontecendo?”. Na seqüência, o assassino entrou no carro, que arrancou ainda com a porta aberta. “Pareciam todos muito jovens”, completou.

Ketlin recebeu um tiro no pescoço e mais três no peito, de acordo com o boletim de ocorrência da Delegacia de Homicídios. Mesmo ferido, o travesti caminhou 60 metros, deixando um rastro de sangue pela calçada, onde trabalhava há três meses. Depois caiu agonizando. Os socorristas do Siate foram chamados, mas nada puderam fazer.

Namorado

O companheiro de “Ketlin”, que dividia com ela um quarto de pensão na Vila Palmital, em Pinhais, estava inconsolável e prometia vingança. Antes, porém, iria avisar o pai e a mãe da vítima, moradores em Rondonópolis, no Mato Grosso. A revolta também era dos amigos da vítima, que ficaram indignados com a crueldade do crime. “Ela era do bem, não roubava e era muito requisitada pelos clientes”, disse “Magda”, um dos travestis que trabalha na Piquiri.

Revoltada, “Magda” descrevia os assassinos: “Eram boyzinhos”. Para ela o crime será mais um insolúvel entre tantos. “Vai cair no esquecimento, mas se fosse uma marica com dinheiro a história seria diferente”, desabafou.

Investigações

O delegado Armando Braga, da Delegacia de Homicídios, responsável pelas investigações, garantiu que o assassinato do travesti será investigado da mesma forma que tantos outros. “Investigamos todos os crimes. O que acontece é que quando há a colaboração da comunidade, de familiares e amigos das vítimas, a elucidação é mais rápida, pois eles nos fornecem detalhes para investigar”, explicou o policial.

Braga reclamou que muitas pessoas sabem detalhes do crime e até o nome do assassino, mas se negam a informar à polícia. “Desta vez, o assassino estava de carro. Será que ninguém anotou a placa?”, indagou. Quem tiver informações sobre o assassino pode ligar – anonimamente – para a delegacia, pelo fone 224-1348.

Ocorrências canceladas

O maior número de acionamentos da Polícia Militar cancelados pelas vítimas ocorre na região da Rua Piquiri, no Rebouças. De acordo com a assessoria de imprensa do Comando de Policiamento da Capital (CPC), somente esse ano houve 51 acionamentos em que as vítimas mudaram de idéia quando a viatura chegou ao local.

A Polícia Militar não tem estatísticas especificas de crimes praticados ou que vitimaram travestis, já que os registros só são separados por delitos e não por autor ou vítima, mas assegura que a maior parte das ocorrências atendidas nas ruas Piquiri, Brasílio Itiberê, Rockeffeler e Baltazar Carrasco dos Reis envolvem travestis que fazem ponto naquela região.

A assessoria informou que, até quinta-feira a PM foi chamada 26 vezes para atender ocorrências na Rua Brasílio Itiberê e quando chegou ao local a vítima desistiu ao saber que teria que se identificar, temendo ter seu nome envolvido em um escândalo. Na Rua Piquiri o fato aconteceu 16 vezes e outras 11 na Rua Rockeffeler. A Polícia Militar orienta as pessoas para que evitem passar por esses locais durante a noite e, se tiverem que trafegar por este caminho, que fechem os vidros dos carros e travem as portas.

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