Smolareck senta no banco dos réus

Depois de vários adiamentos e de muitas artimanhas, o ex-professor de matemática Aristóteles Kochinski Smolarek Júnior, 29 anos, deverá se sentar novamente no banco dos réus, hoje, à partir das 9h, no Tribunal do Júri de Curitiba. Ele confessou ter assassinado sua mulher, a dançarina de boate Luciene Ribeiro de Paula, em 1998, em Santiago, no Chile. A jovem, então com 19 anos, recém-casada com o criminoso, estava grávida de 3 meses e foi morta com pancadas na cabeça, desferidas com um taco de beisebol.

A história é digna de um filme de terror, dada a mente sinistra do acusado, que premeditou cada cena do crime. Ele conheceu Luciene na boate, convenceu a jovem a casar-se, prometendo uma vida de regalias. Luciene, na época, tinha uma filha de 4 meses. Aristóteles registrou a garotinha como se fosse sua filha e a deixou aos cuidados da mãe, Leci Smolarek. Passou a viajar com Luciene para vários lugares, inclusive Foz do Iguaçu e Rio de Janeiro e a proibiu de voltar a ver os pais e demais familiares.

Em agosto de 1998, levou a jovem para o Chile, em uma falsa lua-de-mel. Alugando um carro, saiu com ela para um local ermo e a matou com o taco de beisebol, jogando o corpo em um matagal. Voltando para o hotel, ainda perguntou ao porteiro sobre a mulher e, no dia seguinte, registrou queixa do desaparecimento dela na delegacia local. Dois dias depois retornou ao Brasil, alegando que de nada adiantaria ficar no Chile.

Ele havia feito um seguro de vida em nome da mulher, no valor de 250 mil dólares, sendo beneficiários ele a filha de Luciene.

Investigações

A polícia chilena realizou investigações, assim que o cadáver foi encontrado e concluiu que o marido era o autor do crime. Decretou sua prisão e pediu que ele fosse extraditado para ser julgado no Chile. O assassino, porém, sabia que um País não extradita um natural – ou seja, um brasileiro não pode ser extraditado do Brasil – e isso poderia lhe garantir a impunidade. Ele também sabia que a família de Luciane é bastante pobre e não teria condições de processá-lo. O que o criminoso não contava, é que o advogado Dálio Zippin Filho, da sessão de Direitos Humanos da OAB do Paraná, encamparia a causa e passaria a ajudar a família.

Através de vários procedimentos, Dálio Zippin, funcionando como assistente de acusação, conseguiu que Smolareck fosse levado a julgamento no Tribunal do Júri de Curitiba. Acusado de ocultação de cadáver, assassinato e aborto, ele recebeu pena superior a 20 anos de reclusão. No entanto, o julgamento foi anulado mais tarde pelo Tribunal de Justiça, que considerou a pena excessiva e que houve erro na formulação dos quesitos analisados pelo júri.

Maquiavélico

Quando já estava recolhido na Prisão Provisória de Curitiba – está preso desde abril de 2001 -, o ex-professor quase conseguiu a própria liberdade. Com a ajuda da mãe, Lecy, e de Diovani Roberto Losso, ele falsificou documentos públicos; as assinaturas de uma escrivã e de um juiz; o endereço, telefone e nome de um advogado, e ainda impetrou um falso habeas corpus em seu favor, no Tribunal de Justiça. A farsa por pouco não deu certo. O Tribunal de Justiça concedeu a liberdade, mas quando o documento chegou na Vara de Execuções Penais, os funcionários apuraram a falsificação.

Confissão

Durante muito tempo o acusado negou qualquer envolvimento na morte de Luciene. Porém, depois de alguns anos preso, escreveu uma carta para a mãe, dizendo que pretendia confessar o crime e tentar redução da pena. A carta foi interceptada pela polícia e ele não teve mais como negar a autoria.

Hoje, quando entrar no Tribunal do Júri, ele será defendido pelos advogados Walmir Oliveira Lima Teixeira e Fernando Fernandes, que estão fazendo o trabalho gratuitamente.

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