Rodovia BR-376 e os perigos da Curva da Santa

Curva, garoa, neblina, descida, aquaplanagem e superelevação da pista. Elementos que, aliados à alta velocidade dos motoristas, contribuem para o grande número de acidentes nas proximidades da Curva da Santa, na BR-376, que liga Paraná a Santa Catarina.

Neste ano, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), já foram ao menos 25 acidentes no trecho, com sete feridos leves. Desses, seis envolveram veículos de carga. Em 2007, foram registrados 17 acidentes, seis envolvendo veículos de carga, deixando três feridos graves e 17 feridos leves.

O último acidente ocorreu no início do mês, quando um caminhão carregado de vidros tombou no quilômetro 671 da rodovia. O motorista do caminhão ficou preso entre as ferragens e morreu.

“Do quilômetro 667 ao 676 da BR-376 é o trecho que corresponde a cerca de 35% do total de acidentes na rodovia, provocados por excesso de velocidade e muitas vezes por falta de conhecimento da estrada. O maior número de envolvidos em acidente está na faixa dos 18 aos 30 anos”, afirmou o chefe da delegacia da PRF que atende a BR-376, Ozir Jacomel.

Junto com a alta velocidade, o veículo perde estabilidade com a superelevação da pista naquele trecho e, em dias de chuva, existe risco de aquaplanagem. O grande número de acidentes no mesmo ponto é indício de que, mais que alta velocidade, existem problemas estruturais no local, segundo o engenheiro civil Cladimor Lino Faé.

Perícia técnica do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paraná (Crea-PR), feita por Faé em parceria com o também engenheiro civil José Luzo de Souza Fernandes, indicou que a concordância da reta com a curva não está como deveria ser. “Normalmente, você tem uma curva circular e uma reta. É preciso ter uma curva espiral para mudar o raio da curva, recomendável em estradas”, explica Faé.

Melhorar a captação de água da chuva no local e a superelevação da pista são outras observações do estudo do Crea-PR. “De tanto recape e remendo, o asfalto não está constante. Também existe a necessidade de se ter um trecho maior entre a curva e o início da ponte”, observou o engenheiro.

Essas irregularidades estruturais são herança da antiga estrada de terra que foi aberta na região, a partir da qual foi feita a rodovia atual, sem alteração no traçado original.

“O asfalto foi feito aproveitando-se o leito antigo da estrada. O problema é que não dá mais para aceitar as características originais da estrada com as condições dos veículos de hoje, que pressupõem velocidade média mais alta”, opinou Faé.

A alteração pode ser feita com uma variante, segundo o engenheiro civil. “Isso é feito abandonando-se um pedaço da estrada velha e fazendo um trecho novo que aumenta o raio da curva ou corrigir e fazer um alargamento, deixando a curva um pouco mais aberta, o que daria maior visibilidade para quem passa por ali. É isso que o Dnit não fez, simplesmente colocando redutor de velocidade, que não sanou o problema”, criticou.

Últimas reformas nas pistas foram feitas pelo Dnit em 2004

A partir da perícia do Crea-PR, o Ministério Público Federal (MPF) ingressou em 2006 com ação civil pública para que o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes no Paraná (Dnit-PR) fizesse melhorias no local. Desde setembro, os autos da ação estão com o juiz aguardando sentença.

Não há nenhum novo estudo do Dnit para o local. As últimas reformas importantes na Curva da Santa foram feitas em outubro de 2004, de acordo com informações do Dnit.

Na ocasião, foi melhorada a superelevação da curva; implantadas barreiras; reforçada a sinalização e melhorado o ângulo da curva. Depois disso, só manutenção da sinalização.

Acabaram?

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Dnit afirmou que, após ess,as melhorias, praticamente acabaram os acidentes no local e que são raros casos de “escorregamento” por excesso de velocidade em dias de chuva e que a barreira evita danos maiores.

Atualmente, a BR-376 no trecho Curitiba-Florianópolis está sob a responsabilidade da concessionária Auto-Pista Litoral Sul, que faz parte do grupo OHL, ganhadora da concessão em outubro de 2007.

A concessionária informou que não pode alterar o traçado da rodovia, mas que iniciou obras de sinalização em diversos trechos da BR-376, incluindo microfrisagem (para dar mais aderência do pneu ao asfalto) e limpeza de todas as canaletas na beira da rodovia, o que teria diminuído o risco e o número de acidentes.