Quadrilha do morto-vivo vai além do seguro

A exumação feita ontem no Cemitério do Boqueirão, em um corpo identificado de forma irregular no IML, pode ser a ponta do iceberg para a descoberta de um esquema criminoso, envolvendo até mesmo assassinatos por encomenda. Este é o segundo caso divulgado pela polícia, mas outras quatro fraudes já foram confirmadas.

O funcionário do IML João Cavalli, que está preso desde abril, é acusado de fazer parte do esquema que usava corpos de desconhecidos e os enterrava com nomes de pessoas vivas, para obter dinheiro de seguros.

Fraudes

Há informações que, dos 800 laudos assinados pelo IML entre 2005 e 2008, 400 têm indícios de fraude. Entretanto, o delegado do Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) Wagner Holtz Merege Filho confirmou apenas que, além dos dois casos já divulgados (um relacionado a seguro de vida e outro a o seguro DPVat), há confirmação de outros quatro corpos enterrados com identificação irregular.

Outra informação extra-oficial é que a quadrilha seria responsável por assassinatos de indigentes. Eles aproveitariam esses corpos não apenas para obter dinheiro de seguros, mas para simular a morte de criminosos procurados pela polícia ou pessoas endividadas. O delegado afirmou que esta é uma hipótese que está sendo investigada.

Exumação

O cadáver, que estava no túmulo 59 do Cemitério do Boqueirão, é apontado pelos policiais como de Antônio de Souza. O homem foi internado no Hospital do Trabalhador em 8 de agosto de 2006, onde permaneceu até dia 16 de junho de 2007.

Sua irmã adotiva, Joanita Saidak, que acompanhou a exumação, contou que passou 10 meses ao lado do irmão, mas teve de viajar para resolver alguns problemas. Quanto retornou ao hospital soube que Antônio tinha morrido e que havia sido enterrado como indigente, mas ninguém informou onde.

Seguro

Com as investigações feitas pelo Nurce, a polícia descobriu que Antônio foi enterrado com o nome de Odilon Lopes, 61 anos. O objetivo da quadrilha envolvida na fraude era conseguir o valor do segurado DPVat de Odilon, que continua vivo.

Apesar de haver apenas ossos no caixão, Joanita reconheceu o irmão pela arcada dentária. O delegado do Nurce disse que há 90% de chances de o corpo ser de Antônio, entretanto apenas o exame de DNA feito com amostras de sangue da irmã legítima dele poderão confirmar sua identidade. O resultado deve ser divulgado em dois meses.

Ossos acendem mistério

Depois de serrar o crânio da vítima, o médico legista Alexandre Gebram afirmou que havia sinal de tiro na cabeça, causado provavelmente por um revólver calibre 22. A constatação do médico complicou ainda mais o caso.

?Durante o tempo que fiquei no hospital, soube que meu irmão estava lá porque bateu a cabeça no chão depois de cair de bicicleta. Como estava em coma, ele não conseguiu me falar o que havia acontecido?, contou Joanita, surpresa com a declaração do médico.

A assessoria de imprensa do Hospital do Trabalhador afirmou que Antônio deu entrada no hospital, sem documentos, com traumatismo craniano, e foi submetido a cirurgia. ?Se houvesse um ferimento causado por tiro, os médicos iriam apontar nos relatórios?, disse a assessoria.

Os registros on-line do Siate confirmam que houve socorro a uma vítima que caiu de bicicleta, no mesmo local e dia registrado pelo hospital. Tanto os laudos do hospital quanto do Siate já foram recolhido pela polícia.

?Vamos investigar os hospitais para descobrir se há conivência de algum funcionário no esquema criminoso, que tenha alterado os relatórios. Mas antes de qualquer medida precisamos ter certeza que este corpo é de Antônio?, finalizou o delegado.

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