Prisões comprometem efetivo da PM em Mallet

Praticamente todo o efetivo policial militar da cidade de Mallet (a 290 quilômetros de Curitiba) está atrás das grades, denunciado por abuso de autoridade, lesões corporais e tortura. Na última segunda-feira, mais cinco Pms tiveram as prisões decretadas e foram se somar a outros seis que haviam sido presos na semana anterior, pelos mesmos motivos. “Nós estamos preocupados com a situação e vamos remanejar o efetivo de outros municípios para que a cidade não fique sem policiamento”, disse ontem o coronel Hernani Alves Santos, comandante do Policiamento do Interior.

Anteontem foram detidos os soldados Vanderlei Rogério Seretne, Severino Zakaliak, Albino Cieslak, Dolcimar José Stroiek e o sargento Invanilson Antônio Trojan. Além deles, também o servente de pedreiro Joraci Ribeiro, conhecido pelo apelido de “Jóia”, foi denunciado como participante da violência contra moradores da cidade. Na semana passada tinham sido presos o sargento Marco Aurélio Carvalho – que era comandante da unidade local -, e os soldados Renato Kruger, Lauro Elias Zavaly, Herlon César Siqueira, Rogério da Silva Pinto, e ainda o cabo José Valdevino Fagundes. Todos estão recolhidos na sede do comando da 2.ª Companhia Independente, em União da Vitória.

Até mesmo o delegado da Polícia Civil de Teixeira Soares, Sebastião Antônio de França, teve seu nome envolvido nas denúncias, porém foi o único a não ter a prisão preventiva solicitada pelo Ministério Público, em razão de ter sido acusado de omissão e não de tortura.

Denúncia

A denúncia contra todos os policiais partiu da promotora de Justiça Danielle Garcez da Silva, que num primeiro momento ouviu 12 vítimas dos PMs, relacionando dez ocorrências que se referiam a abordagens violentas, principalmente contra menores de idade que não estavam praticando nenhum delito. Estas denúncias resultaram nas primeira cinco prisões.

Posteriormente, em novas diligências, a promotora apurou outros oito fatos, ocorridos em 1997, 1999, 2000 e 2001, envolvendo abuso de autoridade e tortura. “Os denunciados agem sem qualquer razão aparente, apenas pelo prazer móbido e fútil de infligir sofrimento físico ou mental em suas vítimas”, alertou a promotora. Estas novas apurações resultaram nas seis prisões ocorridas segunda-feira.

De acordo com a denúncia, um das violências mais graves praticadas pelos Pms teve como vítima dois irmãos, que estavam trabalhando próximo da casa onde moravam, quando foram abordados ilegalmente acusados de usar uma arma ilegal. Algemados, foram espancados até desmaiar. Depois levados até próximo de algumas arvores, tiveram as cabeças batidas contra os troncos, até perderem os sentidos. A casa onde moravam foi arrombada pelos policiais e documentos e objetos de uso pessoal desapareceram. Um deles chegou a ter as costas rasgadas por um PM, que usou o gatilho de uma arma para feri-lo. Ambos ficaram hospitalizados por vários dias, em conseqüência dos ferimentos recebidos e foram ameaçados de morte, caso contassem para alguém o que havia acontecido.

Diversão

De acordo com o relato das vítimas, os policiais pareciam se divertir quando achavam alguém para torturar. Outra vítima que também foi presa sem motivo e algemada a uma barra de ferro, ficou durante horas sendo cruelmente espancada. No dia seguinte, após nova sessão de torturas, foi obrigada a ficar quatro horas em pé, de frente para a parede, sem se mexer. Mais tarde, junto com outros presos, teve que limpar todo o módulo policial, sujado de forma proposital pelos PMs.

No módulo, onde anteriormente havia sido apreendido um aparelho que produz choques, usado contra as vítimas, desta vez foi encontrado um bastão de madeira com cerca de um metro, de uso não permitido à Polícia Militar, e que também, segundo as vítimas, era utilizado nos espancamentos.

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