Policiais femininas suam a farda para integrar tropa de elite

A semana começou dura para as três policiais femininas que aspiram fazer parte da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) do 12.º Batalhão da Polícia Militar. Numa experiência inédita, elas estão recebendo treinamento para enfrentar a criminalidade nas ruas centrais de Curitiba (e em outros 35 bairros cobertos pela unidade), e principalmente combater o tráfico de drogas. Voluntárias, Caroline Felix Barbosa, 19 anos, Karina Rossi Marques, 22, e Francieli Nunes, 27, que terminaram o curso de soldado em setembro passado, enfrentaram segunda-feira mais uma etapa de duras instruções, acompanhando cerca de 20 colegas de farda. Elas querem ser ?linha de frente? e não medem esforços para conseguir isso.

Instrutores não dão moleza para novatas.

De coturno minuciosamente engraxado, cabelos presos e sentadas entre os companheiros, as garotas quase passam despercebidas.

A estatura física mais franzina -que as diferencia dos marmanjos – é notada quando empunham armas longas e de grosso calibre. Mesmo assim não fazem feio. Treinam empunhadura, mira e ensaiam exaustivamente as técnicas de abordagem nas ruas, em veículos e de progressão em favela. E têm total consciência de que qualquer falha, no serviço cotidiano, pode significar a morte delas ou de seus colegas.

Cati

O treinamento de técnicas de invasão de favelas aconteceu na segunda-feira, em um terreno situado no Jardim Botânico, emprestado por uma empresa da capital. Foi montada uma favela cenográfica, com muito plástico preto e pedaços de madeira, simulando barracos e estreitos corredores. Por eles, os policiais precisavam passar enfrentando bombas, rojões, gritos e muita tensão, além de receberem tiros de armas de pressão municiadas com bolinhas de tinta. Os exercícios se estenderam por mais de 10 horas seguidas, com uma breve parada para o almoço.

No fim da semana anterior, o mesmo local havia servido para o curso ?Técnicas de Progressão em Favela?, ministrado pelo Centro Avançado de Técnicas de Imobilização (Cati) – entidade fundada por um brasilieiro, em Vitória (ES), que atua em vários países e treina inclusive a Swat norte-americana.

Os principais princípios do Cati são a preservação da vida, o respeito aos direitos humanos, o trabalho em equipe e a manutenção da ordem pública sem a utilização de força bruta.

O tenente Lima, instrutor que treina a Rotam do 12.º BPM, fez o curso do Cati, juntamente com três soldados – Pinheiro, Bezerra e Rodrigues. Os quatro transmitiram então aos seus comandados e colegas o que haviam treinado, dando ênfase especial nos ensinamentos às garotas, que nas patrulhas – dentre outras obrigações – serão as responsáveis pelas revistas em mulheres infratoras.

Tem que fazer cara de má

Risco vai ser rotina.

Entrar e sair das viaturas com a agilidade de um gato, treinar voz de comando e, acima de tudo, aprender a adotar uma postura de rigor e altivez – mesmo usando coletes balísticos, joelheiras, caneleiras, armas pesadas, radiocomunicador, algemas e uma parafernália de outros equipamentos – são alguns dos desafios das jovens PMs, que querem atuar nas ruas, em situações de risco. Provavelmente elas são pioneiras no Brasil, já que em outras corporações mulheres não são aceitas nas equipes de elite.

Caroline, que está em estágio mais avançado de treinamento, acredita que será aprovada em breve, e será a primeira mulher a entrar para a Rotam. Francieli, que tinha uma experiência ?doméstica? de polícia, já que é esposa do soldado Nunes, lotado no Comandos e Operações Especiais (COE), tropa de elite da Companhia de Choque, também não quer fazer feio, e garante que chegará ao final com aprovação. Karina – também namorada de um policial – deve demorar um pouco mais com seu estágio, porque faz paralelamente um curso para serviços administrativos. Mas não desanima e apesar de ter um rosto quase angelical, está tendo que treinar ?cara feia? para intimidar marginal.

Elas terão muito trabalho pela frente, principalmente abordar e revistar mulheres traficantes, que escondem a droga na genitália para escapar da revista policial, pois só policiais femininos podem revistar mulheres.

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