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Policiais civis paralisam serviços e expõem problemas

O descaso com o trabalho do policial civil faz a classe cruzar os braços hoje. Além da falta de estrutura, desvio de função com guarda de presos, os que deram o sangue em serviço sofrem para conseguir recursos para tratamento de saúde. A paralisação será de todos os serviços da Polícia Civil, exceto flagrantes e atendimento a locais de homicídio. Não será possível registrar queixa em delegacias, mas para perdas e furto de documentos e objetos o cidadão pode recorrer ao site www.delegaciaeletronica.pr.gov.br.

Para receber indenizações e benefícios referentes a tratamento médico, invalidez ou morte, policiais civis são obrigados a entrar na Justiça, por conta da burocracia. O caso do superintendente Marcos Antônio Gogola, posto de joelhos e executado com um tiro na cabeça, em Campo Largo, durante arrebatamento de preso, é exemplo do descaso do Departamento de Polícia Civil e governo estadual. Praticamente seis meses depois de sua morte, a família aguarda a indenização, no valor de R$ 100 mil, assegurada por decreto estadual.

Até mesmo o valor gasto com o funeral ainda não foi ressarcido pelo governo. Os R$ 9 mil foram pagos pelo Sindicato das Classes Policiais Civis (Sinclapol), e mesmo assim, somente R$ 6 mil, referentes ao salário de Gogola, deverão ser ressarcidos, mas não há prazo para pagamento.

Tratamento

Drama semelhante sofre a família do policial Gerson Ricardo Rocha, um dos fundadores do grupo Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre). Morador da Região Metropolitana de Curitiba, em 2003, ele foi transferido para Foz do Iguaçu. No fim daquele ano, foi baleado por criminosos e ficou paraplégico.

Nestes mais de dez anos, ele fez vários tratamentos e passou por cirurgias. Sempre pagou a conta do bolso, enviou as despesas para o Departamento da Polícia Civil, que ressarcia os gastos. Entretanto, em várias ocasiões precisou de advogado para receber o dinheiro. Desde outubro do ano passado parou de receber e o valor acumulado chega a quase R$ 20 mil.

Ontem, ele estava internando no Hospital da Cruz Vermelha, para nova cirurgia por causa de infecção nos ossos. Por falta de dinheiro, sua mulher faz os curativos. “Agora tem enfermeiros que me ajudam, mesmo assim, preciso ficar em cima”, relatou a esposa.

Segundo o advogado Milton Vernalha, que acompanha os casos de Gogola e Gerson, existem pelo menos outros mil processos de indenização, benefícios ou promoções, a cargo de seu escritório, que presta serviço para três sindicatos de policiais civis e delegados. “Em vez de um representante da polícia ou do governo bater na porta desses policiais para entregar o que é de direito, eles são obrigados a contratar um representante legal para pleitear o benefício administrativamente, e, em alguns casos, judicialmente”, resumiu Vernalha.

Só não falta trabalho

O Paraná Online conversou com delegados que acumulam chefias de delegacias. Um deles, que preferiu não se identificar, era responsável por delegacias de três municípios e contou que até dormir fica difícil. “É estressante, porque você não dorme sossegado. Quando se responde por mais de uma delegacia, cai a qualidade do trabalho”, desabafou. “A população quer falar com o delegado, mas não tem como estar em dois lugares ao mesmo tempo”, explica. A falta de funcionários é outro problema apontado por ele.

Outro delegado, que também não quis ser identificado, relatou que precisa contar com a compreensão de juízes e promotores. “A gente tem enfrentado problemas e respondido a procedimentos”.

Viaturas

Pelo atraso no pagamento, há postos de combustíveis que estão se negando a abastecer as viaturas. “Em fevereiro, foi feito o pagamento referente a outubro. Alguns postos não têm condições de levantar esse dinheiro para repor todo mês”, disse um do,s delegados. Ele afirmou ainda que, com a renovação das viaturas, houve melhora, mas em algumas delegacias não há efetivo para dirigir os veículos.

Segundo o Sindicato das Empresas de Reparação de Veículos, as empresas prestadoras de serviços conveniadas à Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) continuam sem receber. Foram citados quatro casos em que as manutenções em veículos das polícias Civil e Militar e do Corpo de Bombeiros foram totalmente suspensas.

O responsável pelo financeiro de uma dessas empresas, que preferiu não se identificar, afirmou que a dívida do Estado, só com eles, passa de R$ 500 mil, acumulados desde outubro. “No fim de dezembro, o governo nos repassou perto de R$ 150 mil, depois disso, nada mais foi pago”, disse.

A proprietária da Ronalds Car, Edinéia de Oliveira, contou que continua a fazer pequenos reparos, mas que a dívida é de R$ 250 mil, também desde outubro.

Promessa

Em nota, a Sesp informou que “as demandas na rua estão sendo atendidas, sem prejuízo, e reforça que não ocorre falta de atendimento à população por conta de situações isoladas com viaturas que possam estar em conserto”.

Com relação às dívidas junto aos fornecedores, a assessoria de imprensa do governo afirmou que a Secretaria de Estado da Fazenda faz o levantamento de todas as dívidas e que o pagamento a essas empresas deve ser feito em curto prazo.

Carceragens

A superlotação e o desvio de função dos policiais civis, encarregados de vigiar os presos nas delegacias, é outra bronca da categoria. A Secretaria Estadual de Justiça (Seju) anunciou, ontem, que 240 presos de todas as carceragens dos distritos policiais de Curitiba serão transferidos para o sistema penitenciário do Paraná a partir da próxima semana. Mas, atualmente, segundo dados da Seju, existem 1.559 presos em delegacias de Curitiba e região.

Segundo a Secretaria, a medida faz parte do acordo entre Executivo e Judiciário para desativar as carceragens de todas as delegacias da capital.