Polícia Federal acha garoto nos EUA

Foi localizado ontem no estado da Georgia, nos Estados Unidos, o menino Michael, de 5 anos, enviado para lá por James Todd Burch, preso na última terça-feira, acusado de chefiar no Brasil uma quadrilha de tráfico internacional de crianças. O menino foi encontrado na casa da mãe de Burch, Shirlei.

A polícia americana chegou até a criança com as informações passadas pela Polícia Federal brasileira. Na quinta-feira, Rita Gomes – mãe de Michael – prestou depoimento na PF e contou que autorizou a ida do menino para os EUA, em 2003, acreditando que tempos mais tarde iria para lá também, viver com o namorado americano. Burch não é pai biológico de Michael mas mesmo assim registou o menino como sendo seu filho legítimo.

Rita entregou à PF endereços e telefones das pessoas com quem mantinha contato nos Estados Unidos e que estariam com o menino. Rita também informou um endereço no estado do Alabama – onde o menino estaria morando. No entanto, investigações feitas levaram até o endereço atual de Shirlei.

A PF informou ainda que a polícia americana encontrou também ontem, no estado da Georgia, Michele – a americana que pagou US$ 8 mil para ficar com o bebê de três meses encontrado em poder de Burch. A polícia informou que não restam dúvidas de que a criança foi vendida para Michele. Ela foi interrogada pela polícia americana, que também realizou uma busca na casa dela. Ela teria dito que as negociações de compra do bebê teriam sido intermediadas pela mãe de Burch, Shirlei.

Tanto Michele quanto Shirlei estão em liberdade. A PF solicitou à Justiça brasileira que as provas encontradas aqui durante investigação possam ser estendidas aos Estados Unidos e desta forma sirvam de munição para o trabalho da polícia de lá.

Na segunda-feira, a PF vai pedir à juíza de Colombo a elaboração de uma carta rogatória solicitando que Michael seja trazido de volta para o Brasil.

O inquérito policial que investiga o caso foi encaminhado à Justiça e deve voltar para a PF na segunda-feira. A polícia não descarta a possibilidade de que outras pessoas envolvidas no esquema sejam presas.

Ainda não se sabe se as duas meninas encontradas no bairro do Centenário, na quarta-feira, depois de uma denúncia, também seriam enviadas para o exterior pelo americano. A PF vai solicitar, também na segunda-feira, um rastreamento em todos os cartórios de registro do Paraná para saber se existe alguma outra criança registrada em nome do americano.

Pobreza fez mãe entregar menino

A mãe do pequeno David, que iria ser levado para os Estados Unidos, conceceu entrevista exclusiva, ontem, à Tribuna. Recolhida na carceragem do 9.º Distrito Policial (Santa Quitéria) a assistente administrativa Melissa Taís de Mattos, 28 anos, contou como entregou o bebê ao americano James Todd Burch, 33. "Estou muito arrependida. Não faria de novo. Agora só queria meu bebê de volta", salientou a mulher com lágrimas nos olhos. Ela garante que não recebeu nenhum dinheiro para entregar o filho. "Tanto que estou aqui sem dinheiro nem para pagar advogado. Estou sendo atendida pela defensoria pública", comentou.

Melissa disse que trabalha na Prefeitura Municipal de Curitiba e seu salário é de

R$ 500,00 mensais. Ela mora num quarto alugado – de R$ 90,00 -, na Cidade Industrial. Em junho, quando descobriu que estava grávida, ficou desesperada, e procurou o possível pai biológico do bebê, que trabalha em uma seguradora. "Eu falo que é possível pai porque me relacionei com outros homens também", explicou. "Primeiro ele perguntou se era gravidez psicológica. Depois queria que eu abortasse a criança. Tentei conversar com ele, mas foi grosso, gritou comigo e disse que não queria filho nenhum. Também não me ofereceu nenhum tipo de ajuda", contou.

Adoção

Quando estava no quinto mês de gestação encontrou sua mãe e a irmã no supermercado. "A gente não se falava, mas perguntaram se eu estava bem. Menti que estava e já havia ganhado tudo para o bebê." Na mesma época, Melissa procurou a Vara de Família em Curitiba para se informar sobre como poderia entregar o filho para adoção.

No mês de novembro, grávida de sete meses, Melissa encontrou o telefone de James, que havia conhecido em uma sala de internet na Rua 24 horas, e mantido um relacionamento amoroso. "Na época, ele disse que trabalhava com exportação e importação e contou que havia levado o Michael para os Estados Unidos. O filho da Rita. Ele registrou mesmo sabendo que não era dele", lembrou a jovem.

Melissa disse que se encontrou com James e falou que não tinha condições de criar o filho e estava desesperada. O americano prontamente se propôs a registrar o bebê. Segundo a jovem, James pagou todas as despesas do Hospital Santa Brígida, onde David nasceu no dia 18 de janeiro, após uma cesariana. O bebê ainda ficou alguns dias no hospital, porque nasceu com desnutrição. Quando saiu, James não deixou mais Melissa ver a criança. "Ele disse que ia levar o bebê para os Estados Unidos, para uma amiga da irmã dele cuidar, que é a tal da Michele. Eu aceitei. Não tinha condições de dar uma vida digna para meu filho", salientou. Melissa foi junto com James no Cartório do 3.º Ofício, onde registraram o bebê como pais biológicos. "Eu não sabia que tinha que colocá-lo como pai adotivo", justificou.

Melissa revelou que começou a se arrepender de ter "doado" o filho, depois que o bebê saiu do hospital.

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