UPPs do Paraná

Paraná Online mapeia possíveis locais de instalação das “UPPs”

A repercussão sobre a briga de gangues que vem ocorrendo no Parolin, e que já fez várias vítimas nas últimas semanas, incluindo inocentes e até crianças, obrigou o governo estadual a se posicionar sobre que atitudes vai tomar para controlar a violência nesta e em outras áreas. Embalado nisto é que o governador Beto Richa voltou a falar ontem (5) sobre a instalação de unidades de segurança, que ele batizou de Unidades Paraná Seguro (UPS), dentro dos pontos de maior criminalidade. As unidades teriam funcionamento semelhante às Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), como as que foram instaladas nas favelas cariocas, com a diferença que, aqui, não haverá a participação do Exército.

Em agosto do ano passado, o secretário de segurança pública, Reinaldo de Almeida César, esteve no Rio de Janeiro analisando este e outros projetos de segurança cariocas e descartou a instalação de UPPs no Paraná. Prefeitura de Curitiba e Governo Estadual anunciaram uma parceria para a aplicar intervenções sociais e de segurança nas áreas de maior criminalidade. O projeto apresentado segue alguns princípios das UPPs cariocas, com adaptações ‘a realidade paranaense.

A Prefeitura chegou a anunciar, inclusive, que o comitê gestor do plano já tinha feito a primeira reunião técnica para a elaboração do plano integrado. Dias depois, o projeto-piloto das intervenções seria apresentado e, em 60 dias (o que ocorreria no segundo semestre de novembro), as primeiras ações sociais e de segurança já seriam iniciadas nos locais de risco.

Moldes

O governador Beto Richa confirmou que as UPSs serão instaladas ainda neste semestre. Além de reforço das Polícia Civil e Militar e da Guarda Municipal, as bases deverão contar com outros serviços públicos e sociais, em parceria com as prefeituras. A instalação das unidades deve ocorrer primeiro em Curitiba e região metropolitana, que respondem por mais da metade dos homicídios no Paraná, para depois seguir ao restante do Estado. “O propósito é retomar para os cidadãos as áreas que estão ocupadas pela criminalidade e o tráfico de drogas”, disse o governador.

Criminalidade está nas vilas e é sazonal

Quando a polícia satura de um lado, os marginais se mudam para outro. Nesta linha de raciocínio, verifica-se que a criminalidade não acaba, ela apenas migra. Estas são constatações de vários profissionais da segurança pública, incluindo policiais civis e militares que todos os dias estão nas ruas. Com base nisto e nas reportagens policiais que estão na mídia todos os dias, é fácil perceber que alguns bairros da grande Curitiba ora passam por fases de sossego, ora enfrentam extrema violência, em determinadas épocas.

Quando se analisa o mapa do crime, levantamento feito pelo jornalista Marcelo Vellinho, da Tribuna, constata-se que é leviano apontar certos bairros como mais ou menos violentos. Ao final da análise estatística, o ranking acaba sendo feito por bairros para uma melhor organização de idéias. Mas um olhar atento no mapa, nos locais onde houve a maior parte das mortes, verifica-se que elas se concentram em pequenas vilas de cada bairro. Com exceção da Cidade Industrial e do Cajuru, onde o crime está generalizado, os homicídios nas outras regiões são pontuais.

Um bom exemplo disto é o Parolin, onde os homicídios não estão espalhados por todo o bairro. Ocorrem em sua maioria na área de favela. O mesmo vale para o Prado Velho, onde boa parte dos crimes estão dentro da Vila Torres. No Alto Boqueirão, por exemplo, em determinadas épocas ocorreram diversos crimes na Vila Pantanal e no Jardim Paranaense. O noticiário policial também revela que o crime é sazonal. A Vila Torres, por exemplo, iniciou 2011 com uma onda de assassinatos. Foram sete mortes em janeiro e fevereiro. Depois, as coisas ficar,am mais calmas por lá. Na Vila Lorena e na Vila União, no Uberaba, ocorreram seis homicídios em dois meses (agosto e setembro). Antes e depois disto, não houve tantos crimes.

Geografia

Sobre a instalação das Unidades do Paraná Seguro (UPSs), o governador Beto Richa explicou que o setor de inteligência da Secretaria da Segurança Pública está realizando um levantamento das regiões que poderão receber as unidades, que são locais onde a criminalidade está em alta. No entanto, o detalhamento dos locais e ações não serão divulgados agora, por serem estratégicos.

Considerando que a geografia e o relevo de Curitiba e do Rio de Janeiro são bem diferentes – no Rio, as favelas e o crime se concentram mais nos morros e, em Curitiba, em pequenas vilas nos bairros – as ações terão que ser personalizadas a cada área. Mas diante do fato de que, em Curitiba, o crime é sazonal nas vilas, fica o questionamento para refelxão: já que o crime está sempre migrando, porque então ao invés da instalação de UPSs fixas em cada vila “problema” (ao todo, Curitiba tem cerca de 2.520 vilas, plantas, moradias ou jardins, espalhados nos seus 75 bairros), as ações policiais (e não as sociais e estruturais) também não migram de acordo com o crime? Isso é inteligência policial, quando se prevê uma determinada ação criminosa e a polícia antecipa ações para inibí-las.

Traficantes de Curitiba ainda não são “organizados”

A série de filmes “Tropa de Elite” mostrou que, no Rio de Janeiro, a paz nas favelas existe quando os próprios traficantes entram em acordo e se pacificam. Mandam e desmandam para também evitar crimes e, desta forma, não atrair a polícia para cima dos morros e para que ela não atrapalhe os “negócios” do tráfico de drogas e armas.

O coronel Sérgio Itamar Alves, que foi comandante geral da Polícia Militar entre 1992 e 1993 e é estudioso em seguraça pública, acredita que, em Curitiba, essa cultura do tráfico, como nos morros do Rio, ainda não se instalou. Os traficantes daqui ainda não se organizaram como nas favelas de lá e ainda não sabem promover a “paz” para dar falsa sensação de segurança e afastar a polícia. Existe sim a briga pelo poder de mando e pelos pontos de vendas de drogas, mas os traficantes daqui ainda não aprenderam a se “relacionar” com o poder público.

Especialistas concordam com presença policial permanente

“Onde o Estado não está presente o criminoso se instala”, assegura Clóvis Galvão, superintendente da delegacia de São José dos Pinhais. Ele conta que, na época em que estava lotado no 2.º Distrito Policial, que abrange o Parolin, sempre colocava suas equipes e viaturas para circular pela região, atitude que inibiu a presença dos marginais pelas ruas. Esta mesma filosofia ele leva para todas as outras unidades onde é convocado a trabalhar.

Além de Clóvis, outros profissionais da segurança concordam com a instalação das UPSs nos locais críticos de segurança. “É uma ferramenta extremamente importante. Vai fazer com que a polícia esteja presente. Evidentemente, isso precisa do acompanhamento da infraestrutura no bairro: é lazer, escola, os jovens aprendendo a fazer alguma coisa, a ter formação profissional. Isso tem que ser permanente, pelo menos até que a vila entre em um ritmo normal, sem crimes”, afirmou o delegado Rubens Recalcatti, da Delegacia de Homicídios, que entre outros bairros, está mapeando as gangues do Parolin e identificando os responsáveis pelos últimos homicídios no bairro.

O coronel Sérgio Itamar Alves, ex-comandante da Polícia Militar, também concorda que, além da ação policial, os projetos sociais devem ser implantandos paralelamente. Mas um complementa o outro, pois não adianta implantar o trabalho comunitário, sem ter a polícia dando a segurança para que este trabalho social persista.

Mas nenhuma destas operações será efetiva, ressalta o coronel, se não houver um aumento de efetivo policial urgente. Caso contrário, ocorrerá o, que houve em 2005, quando a Secretaria de Segurança Pública realizou duas megaoperações na Vila Torres e no Parolin. Colocou 700 policiais dentro das favelas mas, ao longo das semanas, o efetivo foi sendo devolvido aos bairros de origem, que ficaram vulneráveis durante a operação. Durante um tempo, as duas vilas ficaram calmas. Mas poucos meses depois da ocupação a bandidagem tomou conta de volta.

O governador Beto Richa disse ontem (5) que já contratou 2.000 novos policiais militares e 695 civis. Mas ressaltou que, nos próximos anos, o objetivo é chegar a 8 mil novos militares e 2.200 civis.