Como a vida deve ser

Moradores do Uberaba estão esperançosos com a UPS

“Mais tranquilo” foi a expressão que a maioria dos moradores do Uberaba usou para descrever a região, após a intensiva ação policial para a implantação da Unidade Paraná Seguro (UPS). Pode ser o início de uma nova fase para muitos moradores do bairro, que carregam cicatrizes da violência.

Boa parte dos habitantes das vilas ocupadas, se não foi vítima, presenciou algum crime ou sabe de alguém que sofreu com a bandidagem. A comerciante Gilmara de Lara se emocionou ao lembrar da morte de um jovem, em uma cancha de futebol, nas Moradias Alexandra. Ela conta que o adolescente brincava com sua cachorrinha quando foi atingido pelos tiros. Ninguém foi preso pelo crime.

“Comigo nunca aconteceu nada, mas a casa da minha mãe foi assaltada três vezes. Não dá para ficar polícia só durante o dia, tem que ser à noite também, de madrugada. Há casos de bandidos que abordam em ponto de ônibus, às 7h15”, afirma Gilmara. O filho da mulher vai começar a estudar à noite. Mesmo com mais policiamento, ela pretende levar e buscar o filho todos os dias no ponto de ônibus.

Desconfiança

Moradores estão esperançosos, mas há desconfiança sobre a continuidade do trabalho policial e da chegada de novas estruturas no bairro. Alguns moradores, que preferem não se identificar, pedem providência com relação à enorme quantidade de terrenos baldios e de valetas e da necessidade de melhorar o atendimento nas unidades de saúde.

“Não adianta ficar uma semana e depois voltar tudo ao que era. Minha sobrinha levou tapas, no meio da rua, e levaram o aparelho celular dela”, conta Rita Souza, que mora no bairro há 33 anos. Ontem, ela aproveitou a “calmaria” para levar a neta até uma academia ao ar livre e fazer exercícios físicos.

Eleição

Tem morador achando que tudo aconteceu por ser ano eleitoral. Edson Silva, morador há 18 anos no Uberaba, acredita que toda a ação foi mais para “aparecer na TV”. Para ele, o bairro precisa de um módulo policial, um telefone direto para que a população consiga contato com os policiais, cavalaria para ficar circulando pela região. “Não adianta ficar no telefone 190 ouvindo musiquinha. Tem que arranjar um monte de professor de educação física para colocar esse pessoal todo para fazer atividade. É muito piá na rua sem fazer nada”, desabafa.

Apesar das incertezas, ficou um sentimento comum: tudo estava um pouco mais tranquilo. “Já até dormi melhor e sair com as crianças sem me preocupar”, disse Florença Gonzalez Caceres, moradora do bairro há dois anos.