Matadores de cônsul vão a júri

Um dos crimes de maior repercussão no Paraná será lembrado amanhã, na sessão do Tribunal do Júri. Os matadores do cônsul de Portugal, Miguel José Fawor, serão julgados pelo crime, ocorrido em março de 2000. Walter Machado Soares, o “Marcos”, 28 anos, e Carlos Rodrigo Pereira Fraga, 22, estão presos. Eles confessaram ser garotos de programa e alegaram ter matado o cônsul por desavenças no pagamento de encontros com a vítima.

Miguel Fawor tinha 42 anos, residia sozinho na Rua Hermes Fontes, 316, Batel, e ocupava o posto de cônsul de Portugal no Paraná. Homossexual, Fawor freqüentava saunas e boates gays, onde mantinha relacionamentos com garotos de programa, conforme atestaram amigos dele que foram ouvidos pela polícia.

Dois dias antes de ser morto, o cônsul havia telefonado para Carlos Rodrigo, de quem era cliente habitual, marcando encontro em sua casa para um programa. Fawor conhecia o rapaz da boate Electra, onde era dançarino, desde setembro de 99. Rodrigo contou que era comum o cônsul procurá-lo para encontros. Naquele dia, Fawor pediu que o dançarino levasse junto mais um garoto de programa. O encontro foi marcado para a quinta-feira, 2 de março de 2000, na residência do cônsul, às 20h.

Pagamento

No dia marcado, Carlos chamou Walter, que aceitou o programa com o cônsul. Fawor foi avisado por telefone e também concordou – já conhecia Walter da Sauna 520, onde havia tido encontro com ele um mês antes. Só havia um problema, que o cônsul ignorou. Naquele encontro na sauna, Walter havia pedido R$ 80,00 pelo programa, mas na hora de pagar, Fawor deu apenas R$ 50,00.

Os dois rapazes se encontraram no centro da cidade, no final da tarde daquela quinta-feira, compraram camisas novas e foram a pé para a casa de Fawor. De acordo com os depoimentos, Carlos foi o primeiro a subir para o quarto com o cônsul, enquanto Walter aguardava no térreo da casa de dois andares.

Terminado o encontro com Carlos, foi a vez de Walter se dirigir ao quarto. Ele contou à polícia que se desentendeu novamente com Fawor por causa de pagamento. Walter teria cobrado a dívida anterior do cônsul, e este teria respondido de forma agressiva, humilhando-o e mandando que fosse embora. Fawor estava, a esta altura, bastante alcoolizado, fato que ficou comprovado posteriormente pelos exames periciais do IML.

Discussão

O que Walter contou à polícia é que os dois saíram discutindo pelo corredor e nesse ponto ele teria agredido o cônsul com um halteres (peso de ginástica) que havia na casa. O que se passou em seguida, dentro da residência, não ficou muito claro, pois em alguns pontos os depoimentos de Walter e Carlos não coincidem. Ao perceber que Fawor estava morto, os dois teriam decidido simular um assalto. Pegaram alguns objetos da casa, cartões de banco do cônsul, tentaram limpar as manchas de sangue, e colocaram o corpo, com as mãos amarradas, no porta-malas da Mercedes de Fawor. Tiveram ainda o cuidado de levar a secretária eletrônica, pois haviam sido gravadas mensagens de Carlos.

Na manhã seguinte, a faxineira do cônsul encontrou a casa revirada, notou a ausência do carro e deu o alerta para o consulado, que acionou a polícia. O veículo foi encontrado no mesmo dia, abandonado em frente a um prédio na Rua Sete de Abril, Alto da XV, ainda com manchas de sangue. Até que o corpo do cônsul fosse encontrado, três dias depois, na Serra do Mar, a polícia trabalhou incessantemente. A delegada Vanessa Alice, que conduziu o inquérito, ouviu amigos de Fawor e garotos de programa das boates Electra, Cats e da Sauna 520. Um telefonema de um amigo do cônsul foi peça-chave para encontrar os assassinos: ele sabia o nome do rapaz com quem Fawor tinha marcado o encontro fatal.

Walter e Carlos foram presos e confessaram o crime. Com eles, ainda foram encontrados alguns objetos roubados de Fawor. Eles serão julgados por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e roubo. A sessão do Tribunal do Júri, presidida pelo juiz Fernando Ferreira de Moraes, terá início às 9h de amanhã e deverá se estender até a madrugada – pelo menos doze testemunhas serão ouvidas. Na acusação, atuará o promotor Celso Luiz Peixoto Ribas. Os advogados de defesa são Nelmon da Silva Junior, para Walter, e Roberto Brzezinski Neto, para Carlos.

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