Mata amásia e dorme ao seu lado

Tem que ser agora, soprou novamente a voz do além que há tempo perseguia o segurança desempregado Airton dos Santos, 32 anos. O homem, atormentado, desta vez não se segurou e cumpriu à risca o que aquele chamado diabólico lhe incumbia diariamente: pôs fim à vida da própria amásia, Maria da Conceição dos Santos Soares, 36, a golpes de tesoura e pedaço de pau na cabeça. Depois dormiu ao lado dela e acabou preso em flagrante pela Polícia Militar, em Araucária, às 11h de ontem.

A fantástica história de Airton começou no ano passado, quando conheceu Maria num bailão à beira da BR-476 (antiga 116), no Pinheirinho. Logo se envolveram e passaram a dividir uma pequena casa de fundos na Rua Pedro Rudi, bairro Tomás Coelho, em Araucária.

Mas há alguns meses Airton começou a escutar estranhas vozes, que ordenavam algo terrível. “Era um espírito maligno, o Cramulhão. Ele queria minha alma e a da minha mulher”, disse. Assustado, pediu ajuda à mãe, à própria Maria e aos parentes dela, contando sobre as vozes, mas ninguém acreditou. O desempregado falou que todos os dias aquele espírito continuou a lhe perturbar. “Para onde eu fosse, ele ia junto. Às vezes eu também via um vulto, com faca e facão”, contou.

Tesoura e pau

Sábado à noite, Airton disse ter sentido que alguma coisa ia acontecer. Jantou com a mulher e às 22h os dois se recolheram na cama. “Conversei bastante com ela e namoramos um pouco”, lembrou. Mas as vozes insistiam em lhe importunar. Fora de si, levantou-se às 23h30, foi até a cozinha e apanhou uma tesoura e o pedaço de pau, voltando em seguida ao quarto. Maria adormecia quando levou o primeiro dos vários golpes, todos na cabeça.

Airton velou o corpo da mulher o resto da noite. No começo da manhã, escondeu-se num paiol na casa do pai, Osvaldino Bento dos Santos, 54 anos. “Quando fui pegar lenha, vi o paiol aberto e um volume estranho. Era o Airton, enrolado no cobertor. Perguntei o que ele estava fazendo ali naquele frio e ele respondeu: matei a Maria”, contou Osvaldino. Espantado, o pai caminhou até a casa do filho e certificou-se de que era tudo verdade.

Osvaldino mandou o genro chamar a polícia, às 10h. Airton ainda estava no local do crime, misturado à multidão de curiosos quando foi abordado pelos PMs. “Ele estava trêmulo e não sabia o que dizer. Na viatura, confessou o crime normalmente”, relatou o soldado Castro, da 2.ª Companhia do 17.º Batalhão.

O acusado, que preferiu não fugir, dizendo “devo pagar pelo crime”, foi levado à sede da companhia, em Araucária, e depois encaminhado à DP local. Ele contou ainda que já teve uma passagem pela polícia, por briga, e que agora teme pelo seu futuro. “Estou arrependido, a Maria era um pessoa superlegal. E sinto que algo vai acontecer com a minha vida”, disse, em tom grave.

O povo do lugar encarregou-se de apimentar ainda mais a história. “Contaram que na mesma casa onde ocorreu o crime uma outra pessoa morreu enforcada”, disse o policial militar Hávila.

Voltar ao topo