Mãe perde filho para as drogas

Os conselhos dados pela mãe de Alisson Tiago da Rosa, 19 anos, não foram ouvidos por ele e, na manhã de ontem, depois de um dia e meio desaparecido, o rapaz foi encontrado morto, parcialmente enterrado, em um matagal da Rua Eduardo Pinto da Rocha, Osternack, Sítio Cercado, ao lado do Ribeirão dos Padilha.

Os matadores arrastaram o rapaz, ainda com vida, por mais de um quilômetro, em um carreiro no meio do mato fechado. Ele foi encontrado de bruços, com as mãos amarradas para trás e as pernas cruzadas. Ao lado do corpo havia uma faca de cozinha. Porém, a forma como ele foi assassinado não pôde ser apurada no local, pois o cadáver estava coberto de barro.

Seqüestro

Alisson foi visto pela última vez por volta de 23h de quarta-feira, quando foi obrigado a entrar em uma lanchonete, por quatro homens armados. A mãe do rapaz, Ninfa Aparecida Rosa, contou que o filho usava crack e, possivelmente, foi morto por estar devendo a traficantes. “Ele estava vendendo tudo o que tinha. Tentei interná-lo, mas ele dizia que não estava doente. Não admitia que precisava de ajuda”, contou a mulher.

Logo que os matadores levaram seu filho, ela ligou para a polícia, mas recebeu a informação que deveria registrar uma queixa na delegacia e aguardar que ele retornasse para casa.

“Fui sozinha atrás dele, entrei no mato, mas como é muito perigoso, voltei. No dia seguinte voltamos a procurá-lo. Foi meu outro filho quem encontrou o corpo”, lamentou. A mãe sentiu, ao mesmo tempo, dor e alívio com a morte de Alisson. “Agora posso dormir. Fazia tempo que não dormia esperando ele chegar.”

Ovelha desgarrada

Fábio Alexandre
Ninfa: “Pedi a Deus para salvar meu filho.”

Alisson era o filho caçula. Tinha dois irmãos, um de 20 anos e outro com 25, portador de necessidades especiais. A mãe dos rapazes disse que a família é evangélica e sempre reforçou a educação religiosa. Assim foi até Alisson conquistar a liberdade e ganhar as ruas do Ostenack. As más companhias o transformaram, segundo Ninfa.

O sonho de trabalhar e ajudar a família foi trocado pela ilusão das drogas. Virou dependente químico, que vendia tudo para sustentar o vício. “Muitas vezes, em meu quarto, pedia para Deus fazer alguma coisa, pois não conseguia ver meu filho se acabando”, contou a mulher.

Oração

Desesperada com o sumiço do garoto, Ninfa ficou sem dormir. Na noite seguinte, ainda insone, ela ouviu barulho na cozinha. Foi ver se era o filho, mas encontrou a avó do rapaz, também preocupada.

“Depois de quase duas noites sem dormir, pedi para Deus salvar meu filho. Nesse momento, sonhei com ele dizendo que estava bem e melhor que nós. Na manhã seguinte o irmão o encontrou morto”, contou, com lágrimas nos olhos.

Cinco mortes em duas semanas

Alisson foi a quinta pessoa assassinada no Osternack, em praticamente duas semanas. No último dia 27, Aldemir Rodrigues, 26 anos, foi morto com dois tiros na cabeça, por volta das 15h, na Rua Ivaiporã. No dia 1.º, os primos Luan Adolfo de Oliveira Alves e Juarez de Oliveira, ambos de 18 anos, foram assassinados na Rua Eduardo Pinto da Rocha.

Por último, na segunda-feira, Tiago Leandro Kraus Berger, 20, morreu na Rua Hussein Ibrahin Omairy, a golpes de cacos de vidro. A polícia apura se os casos estão relacionados e se o tráfico de drogas é o motivo dos crimes.

O investigador Pimentel, da Delegacia de Homicídios, disse que, há alguns meses, outro rapaz foi assassinado perto de onde Alisson foi encontrado. “Naquele crime, o jovem foi morto por estrangulamento e imobilizado com um cor,dão de tênis. Pode existir relação entre os casos. O local é o mesmo e os dois estavam amarrados”, completou. Quem tiver informações sobre a autoria dos assassinatos pode ligar para o telefone 3262-2641, para auxiliar a polícia. Não precisa se identificar.

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