Jeito e inteligência são mais importantes que força

Em tempos de violência, como os que pautam a sociedade do século XXI, homens, mulheres, crianças e idosos são vítimas em potencial. A premissa pode parecer óbvia, mas é dela que parte a utilidade da defesa pessoal, técnica que utiliza o corpo para ser usado como uma ?arma? contra possíveis agressões. Especialistas garantem: esse tipo de luta serve para pessoas de ambos os sexos, sem importar fatores como altura, peso e idade – o que promete ser uma grande vantagem a quem recorre também aos utensílios que o ramo da segurança tem oferecido, com cada vez mais criatividade e tecnologia, ao potencial mercado do medo.  

O instrutor de defesa pessoal Cléo Pereira da Costa, que representa a Sociedade Internacional de Artes Marciais (Isma) em Curitiba, ensina a técnica às pessoas por meio do sistema WyngTjun, desenvolvido na China há mais de 350 anos. A prova de que é eficiente mesmo para quem é fisicamente menos avantajado é que a técnica foi desenvolvida por uma mulher, a monja Ng Mui. Mais tarde, foi a chinesa Yin WyngTjun quem aperfeiçoou o sistema, dando nome ao mesmo. ?Desenvolveram um sistema de luta que capacitasse e treinasse o praticante no menor tempo possível?, explica o instrutor. A técnica passou a ser difundida mundo afora somente no século passado, chegando finalmente ao Brasil por meio de dois mestres alemães, Hans-Jürgen Remmel e Andréas Geller.

O segredo da defesa pessoal, explica Cléo, é saber usar o corpo de forma inteligente, pensando em situações realistas, como um ataque na rua ou em situações em que não se sabe quem é o agressor. ?O sistema dá um pacote de soluções extraídas das artes marciais para todas as possibilidades de luta.? Assim, aprender a usar as pernas no momento e na distância adequados, bem como os braços, cotovelos e joelhos, são requisitos fundamentais para se sair bem na defesa pessoal. Até mesmo a possibilidade de ter de lutar no chão é abordada pela técnica. ?Aproveitamos a força do agressor e a utilizamos contra ele. Por isso, não exige força bruta e possibilita mesmo à parte mais fraca obter sucesso na luta?, explica.

A ressalva é apenas o momento de agir: a defesa pessoal tem cunho de proteção, e não ataque, conforme destaca o instrutor. ?Ensinamos a pessoa a prever a situação já no contato visual. Só quando não é possível controlar é que se usa a técnica. Além disso, você bate o suficiente para controlar o agressor, atuando de forma centrada e consciente para saber quando parar.? Fora o benefício de aprender a se defender, a técnica é ainda um excelente exercício físico. ?E trabalha a auto-estima, o que é importante para se sair bem em qualquer situação?, complementa o instrutor. 

Técnica dá confiança

A analista de sistemas Evelize Amaral dos Santos pratica defesa pessoal há dez meses e já sente os benefícios da atividade. ?Sempre fui muito medrosa e achei interessante porque você nunca sabe o que pode acontecer na rua. A técnica está me ajudando a ter mais confiança e a conhecer melhor minhas capacidades?, afirma. A aluna é a prova de que mulheres são as mais beneficiadas com o método WyngTjun. ?Os movimentos exploram muito o relaxamento e a postura. E a capacidade que a mulher tem de ser mais relaxada que o homem faz com que aproveite melhor a força alheia e reaja de forma mais precisa?, analisa.

Os homens que praticam esse tipo de luta também relatam muitos benefícios. Da mesma forma que Evelize, Zeno Stivanin, que pratica defesa pessoal há pouco mais de dois anos, garante que autoconfiança é o principal benefício. ?Mas, além disso, dá mais facilidade para analisarmos as situações antes que elas ocorram. Aprendemos que não basta praticar a luta; é preciso aprendermos a nos defender de todas as formas, usando da observação e do olhar atento?, explica o aluno, que buscou o WyngTjun depois de sofrer cinco assaltos, alguns deles com agressão física. ?Até hoje, nunca precisei aplicar a técnica e tomara que nunca precise. Mas, se for necessário, me sinto preparado para me defender. A diferença da defesa pessoal para outras lutas é que você aprende o foco da atividade; ela não se limita à situação do tatame.? (LM)

Spray de pimenta disfarçado de batom

Aquele batom inocente que toda mulher carrega na bolsa pode não ser bem o que parece. Apesar de nunca ter sido uma premissa cultural entre as brasileiras, a violência crescente tem feito com que as mulheres adotem novas táticas de autodefesa – e, nesse caso, o tal objeto pode ser não um batom, mas um spray de pimenta na embalagem dele. O resultado é, no mínimo, doloroso: a ardência forte nos olhos após uma rajada dura cerca de meia hora. Depois, o efeito passa e não há prejuízos à saúde.

É o que garante o diretor-gerente da empresa Secure Tech, Linaldo Guimarães, que revende no Brasil uma tecnologia francesa em spray pimenta pela internet. ?É bem diferente daquele tradicional, comum entre as norte-americanas, que pode provocar edema pulmonar e sérias complicações respiratórias, além de ser controlado pelo Exército?, explica. O segredo é que o francês contém fluidos tensoativos hidrodinâmicos como propelentes (ou seja, não tem gás CFC) e um líquido com alto poder hidratante com fixador do produto, propriedade que provoca a ardência temporária. ?Com isso, ele só acerta a pessoa para a qual for direcionado, sem se espalhar pelo ambiente. A pele e os olhos permanecem ardendo e o efeito passa conforme a pessoa for lacrimejando.? (LM)

Aparelhos ajudam na proteção

Que mulher – e homem também, por que não? – nunca pensou em ter um aparelho de choque elétrico? O equipamento é permitido porque, apesar de ter voltagem alta (50 mil volts), possui pouca amperagem, garantindo que o agressor leve um susto grande. Apesar da dor, este tipo de aparelho não causa prejuízos à saúde. A proprietária da loja de equipamentos de segurança Barddal, em Curitiba, Gislaina da Matta Barddal, conta que o utensílio é um dos que mais vendem. ?Geralmente os maridos vêm comprar para as esposas?, conta.

Outra opção que tem feito a cabeça de muita gente, que escolhe levar o equipamento no carro como uma ferramenta anti-assalto, é o bastão retrátil com molas. Gislaina explica como funciona: ?Basta ?jogar? o cabo que o bastão abre. As molas permitem que a pessoa projete o ferro que tem na ponta contra o agressor, podendo manter certa distância dele?. No entanto, para tudo há restrições. A comerciante enfatiza que não recomenda nenhum utensílio do tipo para quem não tem força ou técnica para operá-los. E que, mais que tudo, vale a consciência de quem está por trás do objeto. ?Até porque, se formos analisar bem, a maior parte dos objetos pode se transformar em arma. Tudo depende da forma como são utilizados?, diz.

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