Hospital é acusado de “práticas ilegais” em partos

A técnica em enfermagem Alessandra Muller Mosele, que trabalhava no Hospital e Maternidade Mater Dei, até o último dia 25 de agosto, prestou depoimento à Promotoria de Investigação Criminal (PIC) na tarde de ontem. Suas declarações serão anexadas ao processo que incrimina o casal Any Paula Fascolin, 29 anos e Nilson Moacir Oliveira Cordeiro, 32 anos, por abuso sexual e morte de seu filho aos sete dias de vida.

No depoimento, Alessandra disse que, no Mater Dei, o primeiro exame nos recém-nascidos é feito pelos próprios técnicos em enfermagem, que preenchem o relatório, assinado, posteriormente, pelo pediatra, prática que considera ilegal. A técnica em enfermagem salientou que o procedimento padrão, após o nascimento dos bebês, seria o da realização do exame dos sinais vitais pelo médico pediatra neonatal, que responderia pelo relatório constatando a saúde e/ou qualquer problema com o bebê.

Alessandra contou que fez a denúncia ao Conselho Regional de Enfermagem (Coren), que inspecionou o Mater Dei no dia 26 de agosto.

Ela não acusa direta e nominalmente algum médico do hospital. O inquérito que apura a morte do recém-nascido tem continuidade a partir de hoje, com depoimentos na Segunda Vara Criminal. A primeira a ser ouvida é Maria Júlia Martins Oliveira, mãe de Nilson. A seguir, o médico Luvercy Rodrigues Filho também será ouvido. Por último, serão colhidas declarações das assistentes sociais Claudete Maria Barbosa Porto e Márcia Yuri Nagata, que conversaram com Any após o falecimento do bebê.

Any e Nilson são acusados da morte do filho, que ocorreu no último dia 8 de julho. Segundo laudos do IML a morte da criança foi causada por uma infecção generalizada, devido a fissuras no ânus. O casal nega qualquer violência contra o bebê e um parecer médico obtido pelos advogados de defesa informa que a criança teria morrido em conseqüência de uma doença rara.

Coren confirma denúncia

A assessoria de imprensa do Conselho Regional de Enfermagem (Coren), confirma o recebimento da denúncia da técnica em enfermagem Alessandra Muller Mosele, no mês de agosto. A partir da denúncia, a assessoria informa que uma comissão do Coren visitou o Hospital e Maternidade Mater Dei, no dia 26 de agosto. Na ocasião, a chefe de enfermagem do hospital, cujo nome não foi divulgado, foi intimada a prestar depoimentos ao conselho. Após a intimação, o Coren revela que a chefe de enfermagem foi desligada do Mater Dei, porém não se sabe se o motivo que levou ao desligamento tem relação com a denúncia. A diretora do Coren, pelo fato de estar em viagem, não pode prestar esclarecimentos sobre os procedimentos permitidos ou não a enfermeiros e técnicos de enfermagem. A assessoria de imprensa do órgão informou que a diretora deve se pronunciar no retorno.

Família faz greve de fome

Desde o último domingo, alguns dos familiares do assessor Nilson Cordeiro estão em greve de fome. Luiz Fernando Martins, irmão do acusado, explica que o objetivo é chamar a atenção das autoridades para a soltura do casal Any e Nilson, que já poderiam estar em liberdade. "Não há nenhuma lei que determine exatamente o tempo máximo de uma prisão preventiva, porém a jurisprudência brasileira mostra que o prazo é de 81 dias. Eles já estão recolhidos há mais de 120 dias", reclama Nilton Ribeiro de Souza, advogado do casal. Any está na Penitenciária Feminina, e Nilson no Complexo Médico Penal, ambos em Piraquara. "Estamos indignados e pretendemos ficar em greve de fome até que as autoridades nos dêem uma resposta", afirma o irmão da vítima, que no protesto, será acompanhado pela mãe e outro irmão.

O advogado entrou com um pedido de liberdade, que foi indeferido na semana passada. Agora ele pediu habeas corpus e tenta o relaxamento da prisão por excesso de prazo.

"Somos em quatro irmãos e nenhum de nós nunca colocou os pés em uma delegacia. O Nilson é pai de outras duas crianças, uma menina de 7 anos e um garoto de 12, que ele ama muito. Acredito na inocência dele", completa Luiz.

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