Golpe pelo correio

Golpistas enviam cartas avisando sobre dinheiro a receber

O “presente” foi de encher os olhos de servidor público municipal aposentado, que não quis ter o nome identificado, quando abriu uma correspondência informando que havia quase R$ 73 mil referente a um pecúlio de aposentadoria pra receber, mais uma aposentadoria complementar vitalícia de cinco salários mínimos. Para isso, bastava ele pagar uma taxa de 4% do valor total do prêmio pra que ele fosse liberado. Além do aposentado, até mesmo um delegado da Polícia Civil já recebeu a “agradável” carta.

Antes de tomar qualquer atitude, o aposentado, de 64 anos, tratou de investigar. No setor de RH do órgão que trabalha desde 1979 ninguém sabia de nada. Então foi pesquisar na internet e logo descobriu que estava defronte a um golpe, e que isso acontece com mais frequência que ele imaginava.

Ainda há poucas informações precisas sobre o crime. O que chama atenção é que a remetente da carta, a seguradora ESPP Brasil, não tem site, nem Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e ainda expõe na carta o nome de uma advogada, com carimbo, número da inscrição na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Distrito Federal e rubrica. Chama atenção também o fato do endereço remetente ser de Brasília, enquanto o carimbo dos Correio é do Ceará.

A dúvida é como os golpistas conseguem ter acesso a diversos dados sigilosos das futuras vítimas. Muitas pessoas, ao constatar a existência dos números reais do RG, CPF, PIS, telefone e endereço na carta, acabam ficando mais suscetíveis ao golpe. De acordo com o titular da Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas, Matheus Laiola, é importante que as pessoas fiquem atentas quanto à divulgação de dados pessoais na internet, uma ótima fonte de informação para golpistas.

Na semana passada, um delegado da ativa da Polícia Civil do Paraná também recebeu tal correspondência. Segundo Laiola, outra vítima também procurou a delegacia para denunciar a ESPP Brasil. No inquérito, prestou depoimento uma advogada que é mencionada na correspondência. “Ela afirma que desconhece a empresa e que utilizaram seu nome e seu registro na OAB para aplicar o golpe”, diz o delegado. Ele comenta que os golpistas, aleatoriamente, escolhem na internet pessoas “laranjas” pra usar nos crimes.

O golpe

Laiola explica que quando a vítima entra em contato com a empresa, o atendente – uma pessoa extremamente educada e bem treinada – diz que há prazo para realizar o depósito. Passado meses do feito, o benefício não é liberado. A vítima novamente entra em contato com a empresa, que diz que houve um pequeno aumento na taxa para liberar o benefício e que a vítima tem que efetuar outro depósito, e por aí se vão muitos outros e o dinheiro nunca é visto. Uma vítima já foi lesada em R$ 30 mil.

Aposentados: cuidado

Arquivo

Os aposentados têm se tornado um público visado para a prática de golpes. “São pessoas ingênuas”, conta o presidente regional do Sindicato Nacional dos Aposentados de Curitiba e Região Metropolitana, Pedro Paulo da Silva. Ele diz que já viu muitos aposentados receberem correspondências e telefonemas informando ganhar casas, carros e outros benefícios e caírem no “conto”.

“Nós do Sindicato orientamos os aposentados a não serem inocentes. Ninguém ganha nada de graça, muito menos casa e dinheiro. Fazemos campanhas para deixá-los sempre alertas”, afirma.

Vítimas de tentativa de golpe devem denunciar o caso imediatamente no site da Susep (www.susep.gov.br/faleconosco/faleconosco.asp). Em Curitiba e região, o boletim de ocorrência pode ser feito na Delegacia ,de Estelionato e Desvio de Cargas. O telefone da delegacia é o 3261-6600.

Empresa não existe

A Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia federal que controla e fiscaliza o mercado de seguros e previdência privada no Brasil, alerta que a ESPP Brasil não é uma empresa de seguros e não é cadastrada para atuar nos mercados supervisionados pela autarquia. A empresa sequer existe. O órgão já registrou seis reclamações relacionadas à ESPP. “Ao que tudo indica, é um estelionato aplicado por alguma quadrilha em várias regiões do país”, afirma Antonio Carlos Fonseca, chefe de Gabinete da Susep.

A Susep orienta sempre que não seja feito qualquer tipo de pagamento nestes casos e que seja feito um comunicado à autoridade policial local. “Recebemos muitas reclamações similares, e como se trata de fato criminoso encaminhamos sempre ofícios à Polícia Federal, Polícia Civil e Ministério Público estaduais, para que sejam adotadas as medidas cabíveis”, diz Antonio Carlos.

Esse tipo de golpe sai de moda e volta com uma nova “roupagem”, afirma Claudia Silvano, diretora do Departamento Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). Geralmente, a falsa seguradora pede que a vítima efetue o depósito com a desculpa que o valor é referente à complementação do plano, visto que o destinatário teria supostamente contribuído por 12 anos e seis meses e seu plano é de 15 anos. “A população tem que ficar alerta porque na maioria das vezes a conta beneficiada está em nome de pessoa física”, conta Claudia.