Ex-policial é suspeito de matar amante e sumir com a filha

Dois dias antes de completar 39 anos de idade, o ex-sargento da Polícia Militar Edson Prado deverá sentar, amanhã, no banco dos réus, para responder pelo assassinato da artesã Maria Emília Cacciatore Florêncio, 38, com quem teve um caso amoroso – e pelo sumiço da filha do casal, Vivian Florêncio, de apenas 3 anos.

Galanteador, de porte físico atraente e bom atirador, Prado, que apesar de casado não resistia a aventuras extraconjugais, viu o sonho de terminar seus dias usando a farda ser jogado na lama, da mesma forma que o cadáver de Maria Emília, encontrado cinco dias depois do desaparecimento (em 9 de março de 2005), numa cova rasa, coberto por cal, no meio do mato, em Campina Grande do Sul.

Tão logo apareceu como suspeito do crime, o sargento, que havia sido preso em 1996, por seis dias, por transgressão disciplinar – frequentava a Boate Quatro Bicos de farda e viatura -, foi novamente preso e outra vez submetido a processo disciplinar, que agora lhe valeu exclusão da corporação a bem da disciplina. Os indícios de seu envolvimento no assassinato, apesar da negativa de autoria, o deixaram em situação delicada.

Prisão

Por mais de dois anos, Prado amargou prisão preventiva, só relaxada em novembro de 2007, graças a intervenção de seus dois defensores, Alessandro Silvério e Bruno Augusto Vianna, os mesmos que atuarão no júri.

Eles enfrentarão a promotora Lúcia Inez Giacomitti Andrich, em embate diante do juiz Daniel Ribeiro Surdi de Avelar. O julgamento está marcado para às 9h e promete ser longo, já que o processo conta com sete volumes e 15 anexos, onde constam investigações adicionais. Silvério e Vianna têm uma postura discreta como defensores. Não tornam pública a estratégia que vão usar, mas desta vez ela é muito clara: negativa de autoria.

Numa das raras vezes que concedeu entrevista, Vianna afirmou que a investigação policial neste caso foi falha, uma vez que a polícia seguiu apenas uma linha, a que apontava para o sargento, desprezando outras de igual importância. Estas outras ele deverá expor aos jurados, levantando dúvidas quanto à autoria. E todos sabem, num julgamento “em dúbio pró réu”.

Arquivo
Menina nunca apareceu e corpo de Maria foi achado coberto de cal.

Caso começou no trabalho

O romance entre Maria Emília e Prado começou em um supermercado. Ele fazia “bico” como segurança e ela trabalhava no caixa. Ela era separada e tinha dois filhos do primeiro casamento. Ele era casado e não queria complicações. Com o nascimento de Vivian, ela saiu do emprego e passou a trabalhar como artesã.

Enfrentava dificuldades financeiras. Ele estava integrando o Grupo Águia (considerado de elite dentro da PM) e parecia bem de vida. A família dela a orientava a pedir pensão alimentícia para a filha ou, ao menos, o pagamento de um plano de saúde.

Mistério

Na tarde de 4 de março de 2005, Maria Emília pegou Vivian na creche e foi para a Praça Tiradentes, onde Prado havia marcado encontro com ela, supostamente para falar da pensão. Nunca mais foram vistas.

Cinco dias depois, o corpo da mulher foi achado no mato, em decomposição. Da criança, até hoje não tem qualquer notícia. Muitos acham que está morta, como a mãe. Outros porém, tem esperança de encontrá-la viva.

Luiz Ubaldino e Marlene Florêncio, pais de Maria Emília, acreditam que se Prado for condenado amanhã, ele contará o que fez com a menina. Para o casal, que sofre com a situação, não há dúvida de que o ex-PM é o ,responsável por tudo. “Nossa filha não tinha inimigos. Era muito religiosa e benquista”, diz a mãe.

Emoções

Os pais de Maria Emília convidam a população a participar do julgamento. Com faixas e cartazes, pretendem comover a opinião pública. E o júri promete mesmo ser cheio de emoções, já que os dois filhos mais velhos da vítima, hoje com 15 e 19 anos, serão testemunhas, assim como outra namorada de Prado, uma jovem policial militar, que o viu na noite do crime, com os sapatos sujos de barro e folhas, como se tivesse andado no mato.

Laudos de perícia serão apresentados, indicando que foi encontrado cal no porta-malas da viatura que ele usava, com semelhança de 99,99% ao que cobria o corpo da vítima.