Estudante de Medicina fuzilado por PMs na BR-277

Morreu na madrugada de ontem, no Hospital Evangélico, o estudante de medicina Luiz Carlos Brodbeck Reis, conhecido como “Deco”, 26 anos, ferido com um tiro na cabeça quando teve o carro – um Fiat Uno, de Ijuí (RS) – metralhado por policiais militares do Batalhão de Polícia Rodoviária, às 4h15 de quinta-feira, na BR-277, em Campo Largo. Por pouco sua mãe, a advogada Núbia Moreira Brodbeck, 52, e a noiva dele não morreram durante a desastrosa ação policial. “Fui salva pela mala”, comentou a mãe, ontem, ao liberar o corpo do filho no Instituto Médico-Legal (IML) de Curitiba.

A mãe do estudante informou que eles estavam indo para Toledo, onde ela tinha uma audiência, e retornariam no mesmo dia, para comemorar o aniversário de Luíz Carlos em Ijuí, junto com amigos e parentes. Eles saíram de Curitiba ainda de madrugada e seguiram pela BR-277. Como não conhecia a rodovia muito bem, o jovem resolveu retornar. “Estava escuro e de repente vimos um carro atrás da gente, dando luz alta. Não havia sirene. Acreditávamos que eram assaltantes”, relatou o advogada. Núbia disse que, por este motivo, o filho acelerou o Fiat Uno Mille, com pouca potência. “Ouvi uns estampidos e a minha futura nora disse que era tiro. De repente os pneus estouraram e achamos melhor parar. Quando atiraram no meu filho, o carro estava parado”, informou Núbia. “Ele estava parado e de repente caiu ferido”, repetiu ela.

Sem socorro

A advogada ressaltou que o filho estava quase morto e os policiais rodoviários fizeram ela e a nora colocarem as mãos na cabeça e deitar no chão. “Não atiramos contra eles. Nem armas tínhamos. Foram eles que levaram meu filho para o hospital porque não tínhamos outra saída”, relatou a mulher.

Ela informou ainda que, depois de constatado que os policiais rodoviários haviam cometido um engano, eles justificaram que estavam perseguindo um Fiat Uno vermelho, que estaria sendo utilizado para dar cobertura a uma quadrilha especializada em assaltos contra ônibus de turismo. Horas antes de os policiais rodoviários atirarem no carro do estudante, haviam sido presos três acusados de integrar o grupo de assaltantes: Leonardo Machado, 43 anos; Adenílton Bueno, 25, e Daniel da Silva, 23. Com o trio, também foi apreendido o Omega placa KFH-1396, que, segundo a polícia era usado nos assaltos para dar cobertura e fuga aos ladrões.

Como ontem era feriado para os funcionários públicos (19 de dezembro é comemorada a emancipação política do Paraná), o comandante do Batalhão de Polícia Rodoviária, coronel José Paulo Bettes, não foi localizado para dar a versão da PM e explicar as providências que serão tomadas diante do erro cometido por seus comandados.

“Tenho vergonha de ter nascido neste país”

“Espero que se faça justiça. Este é o País da impunidade. Posso me arrepender do que vou dizer, mas tenho vergonha de ter nascido neste País”. A frase é da advogada Núbia Moreira Brodbeck, 52 anos, que teve o filho morto durante uma ação policial realizada por PMs do Batalhão de Polícia Rodoviária Estadual (PRE).

A advogada atribui a morte do filho ao despreparo da polícia. “Esse despreparo é tanto no sentido material, já que a polícia não tem armamento adequado para trabalhar, quanto psicológico. Os nossos policiais agem na ofensiva e não para se defender”, afirmou Núbia. Ela comentou que é um absurdo atirarem no veículo que ocupava só porque era parecido com o que estaria sendo usado por quadrilheiros, segundo a polícia. “Espero que os fatos sejam apurados e os responsáveis punidos. Isso para que outras famílias não venham a passar pelo que eu estou passando agora”, salientou, quando fazia a liberação do corpo do filho no Instituto Médico-Legal de Curitiba..

Núbia disse que o filho iria se formar em Medicina no ano que vem e queria fazer residência médica em Curitiba. “Ele gostava muito daqui e gostaria de ajudar as pessoas. Tanto que, como ele teve morte celebral às 19h15 de quinta-feira, nós autorizamos a doação de todos os órgãos dele para que outras vidas possam ser salvas”, frisou a mãe do estudante.

Luiz Carlos será velado no município de Três Passos (RS), onde nasceu, e o enterro será na localidade de Padre Gonzales, no mesmo município.

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