Morro do Boi

Especialista aponta falhas em reconhecimento de suspeito

A semelhança de um comerciante do Uberaba com o retrato falado do criminoso que agiu no Morro do Boi, em Caiobá, e também com o principal acusado, Juarez Ferreira Lima, 42 anos, pode ter influenciado Monik Pergorari de Lima, 23, a fazer um reconhecimento errado. Ela, inclusive, pode ter descrito o assassino baseada em uma falsa memória. O reconhecimento feito por Monik é a única prova que existe contra Juarez.

A tese, defendida pelo psicólogo forense Rodrigo Soares Santos, 38, que estuda o crime, tomou mais corpo a partir da identificação de Marcelo Silva, 38, proprietário de uma loja de brinquedos de R$ 1,99, na Avenida Salgado Filho.

O estabelecimento era frequentado por Monik e pelo namorado dela, Osíris Del Corso, há mais de um ano. Mesmo depois do crime, em que ele morreu e ela ficou paraplégica, Monik voltou à loja, levada por parentes.

Boatos

Durante algum tempo, boatos diziam que Monik conhecia Juarez (que já cumpriu pena por tráfico de drogas) e, por isso, o descreveu com precisão à polícia. Tinha gente que jurava tê-los visto juntos mais de uma vez, na loja do Uberaba, mesmo bairro onde Juarez residia. E realmente viram Monik, mas não com Juarez e sim com Marcelo, dono da loja.

A semelhança entre os dois é muito grande e ambos são parecidos com Paulo Delci Unfried, 32, que foi preso em Matinhos em 25 de junho passado, portando o revólver calibre 38 usado contra os estudantes.

De rosto redondo e calvo, Marcelo confirmou que o casal esteve muitas vezes em sua loja, fazendo compras. “Foi uma pena o que aconteceu com eles e muita gente chegou a dizer que eu era irmão do tal Juarez. Só que eu não o conheço”, assegurou. “Ela mesma me contou que viu fotos muito parecidas comigo, apresentadas pela polícia, e em uma delas até achou que era eu mesmo.”

Possível indução ao erro

Para o psicólogo forense Rodrigo Soares Santos, 38, que acompanha o caso do Morro do Boi, Monik Pergorari não está mentindo, mas o reconhecimento que fez de Juarez pode ter sido associado a alguém que ela já conhecia. De acordo com o especialista, que há oito anos trabalha na área, o reconhecimento do suspeito feito no hospital foi contrário a técnicas científicas.

“Foram apresentados a ela seis homens com características diferentes. Somente um era parecido com o suspeito. Os demais eram policiais que ela já havia visto em algum momento. Portanto, Juarez só foi comprado a uma pessoa, e não a várias com características semelhantes”, explicou.

Lacunas

Ainda de acordo com o psicólogo, na versão apresentada por Monik existem falhas que levam a crer que ela não está falando tudo o que aconteceu. “Talvez por confusão mental, ela deixa lacunas em seus depoimentos”, analisou. Ainda segundo ele, se fosse Marcelo ou se fosse Paulo que estivessem enfileirados para o reconhecimento, ela teria apontado um deles.

Advogado contratado

A família de Monik contratou o advogado Elias Mattar Assad como assistente de acusação. Assad deverá se inteirar do processo a partir de hoje e promete buscar elementos que ajudem a esclarecer completamente o caso.

Lourival Pergorari, pai de Monik, que também é advogado, tem se sentido agredido por alguns setores da imprensa que, segundo ele, não tem respeitado Monik como vítima de uma tragédia que a deixou sem os movimentos das pernas e profundamente abalada.