Dois soldados da PM furtam toca-CDs no Largo da Ordem

Qualquer cidadão que souber onde estão os dois policiais envolvidos no furto de um aparelho de som de um veículo, ocorrido no Largo da Ordem, deve ligar para o 190 e denunciá-los. O pedido foi feito pelo Comando do Policiamento da Capital (CPC) da Polícia Militar, ontem à noite, após a divulgação de imagens de dois soldados removendo o equipamento de um carro que tinha sido arrombado.

As cenas, transmitidas pela TV Paranaense, na noite de ontem, em matéria denunciando a ação de ladrões na região central da cidade, causaram indignação não só à população, mas também à toda a corporação, que imediatamente iniciou uma verdadeira caçada aos acusados.

Lotados na 1.ª Companhia do 12.º Batalhão, os soldados Adriano Fronza, 34 anos, e Altemes Pinheiro, 37, foram flagrados na noite de sábado passado, abrindo um carro e retirando o equipamento de som, escondendo-o na viatura 6333, que é usada para o patrulhamento no Largo da Ordem. Tão logo a reportagem foi ao ar, por volta das 19h15, ambos desapareceram. Fronza, que está na PM desde 1992, morador no Tingüi, fugiu com toda a família. Seus vizinhos revelaram que o viram saindo de casa em um Gol preto.

Já Altemis, que reside em Araucária e é policial desde 1989, fugiu sozinho, mas deixou avisado aos familiares que irá se apresentar.

A reação também foi imediata do comando da PM e na Secretaria da Segurança Pública. Assim que ocorreu a divulgação das cenas, a Sesp determinou a prisão dos envolvidos e o Serviço Reservado (P2) do CPC foi mobilizado, com ordem de deter os dois acusados, e encaminhá-los à sede do 12.º BPM, em Santa Quitéria.

O comandante do batalhão, major Correia, assim como o subcomandante, major Rota, se deslocaram para a sede da unidade, transmitindo ordens para que todos os policiais em patrulhamento também auxiliassem nas buscas, que iriam acontecer durante toda a noite.

O clima entre os colegas dos acusados era de tristeza e revolta, pois muitos PMs já estavam sendo xingados nas ruas, por populares mais atrevidos. A viatura 6333, que era usada por outra dupla de soldados, foi levada para a sede do batalhão, para evitar que os policiais do turno fossem confundidos com os acusados.

O 12.º BPM é um dos maiores da capital. Conta com efetivo de 600 homens e é responsável pelo policiamento ostensivo e preventivo de 35 bairros, inclusive o São Francisco, onde as imagens do furto foram gravadas.

Escolheram o lado errado

De acordo com o major Correia, que há cinco meses assumiu o comando do 12.º BPM, todas as providências administrativas estão sendo tomadas. ?Não podemos aceitar uma atitude como esta. Infelizmente eles escolheram o lado errado e vão responder por isso?, disse o oficial, salientando que estava instaurando um inquérito policial militar (IPM) e que o caso será levado ao Conselho de Disciplina, que decidirá as punições cabíveis aos dois soldados. ?O Conselho é que deve decidir se ambos permanecerão ou não na corporação?, disse Correia, sem descartar a possibilidade de serem expulsos.

O comandante também lamentou a divulgação da reportagem, sem que antes fossem solicitadas as prisões dos acusados. ?Caso a emissora tivesse nos avisado na mesma noite, eles já estariam detidos. Ou pelo menos nos alertado algumas horas antes, as providências já teriam sido tomadas?, assegurou Correia.

Fronza e Altemis deveriam entrar em serviço hoje. Acredita-se que ambos procurarão advogados antes de se apresentar.

Sem vergonha na cara

Patricia Cavallari

O flagrante mostra que, primeiro, os policiais estacionam a viatura 6333 próximo a um carro. Com uma lanterna, um deles verifica se há ou não aparelho de som. Quem passa e presencia a ação dos policiais acredita que eles apenas inspecionam o carro. De repente, a surpresa. Um dos policiais militares percebe que a porta está aberta – provavelmente fruto de um arrombamento de outros bandidos ou do esquecimento do proprietário. Ele a abre, senta no banco, arranca o aparelho, e fecha o carro. A ação acontece sob o olhar atento do colega de equipe.

O PM coloca o toca-CD ocultado sob uma prancheta, disfarça, como se estivesse fazendo alguma anotação, e sorrateiramente coloca o aparelho na viatura. Fica perto do veículo arrombado, simulando certa preocupação com o furto. Tem a audácia de esperar o casal, proprietário do carro, chegar. As vítimas ficam desoladas e os policiais as acompanham como se estivessem ali para protegê-las. O casal nem imagina que o aparelho de som está na viatura estacionada atrás do carro deles, e que os policiais com quem conversavam eram os próprios ladrões.

Omissão dificulta prisões

Marcio Barros

A ?certeza? de que o aparelho de som não será recuperado e que ninguém pagará o prejuízo do arrombamento do carro, faz com que muitas vítimas desistam de ir até a delegacia para registrar a queixa do furto. De acordo com o delegado Rubens Recalcatti, titular da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), este é o principal erro cometido pelas pessoas lesadas, e que prejudica o trabalho da polícia.?As pessoas levam o prejuízo para casa. Não querem esquentar a cabeça indo até uma delegacia para fazer a queixa. Isso dificulta a ação policial?, comentou.

Segundo Recalcatti, a policia já investigava os quebra-vidros que agem no Largo da Ordem há bastante tempo. Alguns foram presos, mas, por falta de provas e testemunhas, voltaram para as ruas. ?A ação é rápida e o objeto furtado é repassado para outra pessoa que leva para um carro ou mocó. Dificilmente eles são detidos em flagrante?, disse o delegado.

Para a noite de ontem, a DFR em parceria com o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), já havia programado uma operação no Largo da Ordem.

Em outubro de 2005, cinco homens foram detidos, acusados de furtar aparelhos de som e objetos do interior de veículos. Dois, no Largo da Ordem.

Voltar ao topo