Curitiba registra dez latrocínio em cinco dias

Doze latrocínios em Curitiba e outros 11 na Região Metropolitana ocorreram entre janeiro e junho deste ano, demonstrando que os ladrões estão cada vez mais ousados e violentos. Este é o resultado de uma pesquisa aos arquivos de reportagem da Tribuna do Paraná , que difere dos dados divulgados em 1.º de agosto, pela Secretaria de Segurança do Paraná, através da Agência Estadual de Notícias. A agência informou que entre janeiro e maio ocorreram três latrocínios em todo o Paraná. De acordo com a reportagem da Tribuna, neste período foram pelo menos 20 casos, somente na Grande Curitiba.

Por trás dos números frios, os crimes de latrocínio trazem uma realidade trágica. As vítimas são, em sua maioria, pessoas de bem – trabalhadores, aposentados, empresários -vitimados pela ganância e pela violência injustificada de criminosos, muitos deles movidos pelo uso de drogas.

O primeiro caso de latrocínio em Curitiba, reportado pela Tribuna este ano aconteceu em 2 de janeiro e foi publicado no dia 4. O auxiliar de serviços Divonsir Alves de Lima, de 44 anos, foi morto com um tiro nas costas na madrugada daquele dia. Três homens armados e encapuzados invadiram a residência da vítima, no bairro Boa Vista, e levaram R$ 3.700,00 – dinheiro que estava sendo guardado pela família para comprar um terreno.

Empresária

O segundo roubo seguido de morte ocorrido em 2003, em Curitiba, foi um dos casos mais rumorosos e comentados na cidade. A vítima foi a jovem empresária Taciana Ábila, de 27 anos, assassinada por dois assaltantes no dia 15 de janeiro, no início da tarde. Taciana tinha saído do banco e levava uma maleta com R$ 100 mil. Ela estava em seu carro, acompanhada de um funcionário que fazia as vezes de segurança. Dois homens em uma motocicleta dispararam contra a empresária quando ela parou o carro em frente ao prédio onde morava. Taciana foi atingida por dois tiros e morreu logo depois no hospital. Os assaltantes conseguiram levar a maleta com o dinheiro.

Um mês depois, no dia 17 de fevereiro, a Tribuna registrou mais uma morte violenta, em Curitiba, motivada por roubo. O entregador Vicente José Rimizowski foi assassinado com cinco tiros quando estava trabalhando – ele era contratado de uma confeitaria para entregar pães, bolos e doces em estabele-cimentos da cidade. Vicente foi seqüestrado às 4h40 da madrugada logo depois de fazer uma entrega em um hotel no centro da cidade. Apareceu morto, horas depois, dentro de sua Kombi, em um local ermo, em Pinhais. Os assassinos tinham rodado com ele para que fizesse saques em caixas eletrônicos, tomando-lhe dinheiro da conta corrente.

Corpo

No dia 20 de fevereiro, o corpo do representante comercial João Carlos Prestes, de 37 anos, foi encontrado no quarto da residência onde morava e trabalhava no Jardim das Américas. Prestes estava desaparecido há alguns dias. Foi um amigo, preocupado com o sumiço, quem encontrou o cadáver. Da casa, onde também funcionava o escritório de representação comercial, foram levados o Fiat Uno da vítima, computador, impressora, aparelho de fax, televisão, videocassete e telefone celular.

Por causa de R$ 60,00 o vendedor Cláudio Gonçalves de Oliveira, de 36 anos, foi agredido por assaltantes na noite de 12 de fevereiro, em uma barraquinha de cachorro-quente na CIC. Cláudio não resistiu ao violento golpe recebido na cabeça e morreu alguns dias depois no hospital.

Estrangulado

O quarto de um hotel de encontros, no centro da cidade, foi cenário de outro latrocínio ocorrido no primeiro semestre deste ano. Wilson Sorerzoski, de 60 anos, foi estrangulado com o próprio cinto. O suspeito do crime era um homem de aproximadamente 30 anos que o acompanhava quando os dois entraram juntos no hotel, na manhã do sábado, 22 de março. O assassino levou a carteira da vítima, com dinheiro, cheques e documentos.

Poucos dias depois, na quinta-feira, 27 de março, um bancário foi assassinado com uma facada no pescoço. Luís Carlos Ferreira, de 37 anos, tombou morto em uma esquina escura da Rua Almirante Gonçalves, no Rebouças, perto do trilho do trem e ao lado de um terreno baldio que servia de morada para desocupados. Ele tinha saído de casa a pé para comprar cigarros e levava apenas um pouco de dinheiro e o cartão do banco, que foram roubados pelos assassinos.

Aposentado

O corpo do vigilante aposentado Valdo Antônio Cassol foi encontrado no primeiro dia do mês de abril dentro de sua residência, no bairro Campo Alegre, Cidade Industrial. Ele foi assassinado a golpes de ripas. Os autores roubaram R$ 1.200,00 e um televisor. O corpo do aposentado, que morava sozinho, foi encontrado embaixo de uma pilha de madeira e objetos revirados, já em adiantado estado de decomposição.

A triste história do comerciante Joaquim de Campos exemplifica o grau de violência gratuita praticada pelos marginais. Campos foi assassinado na noite de 27 de abril por três assaltantes que invadiram o mercadinho que ele tocava junto com a esposa no Xapinhal. O comerciante foi atingido por três tiros na cabeça, em frente à mulher, que nada pôde fazer. O detalhe trágico é que Campos chegou a tomar a arma de um dos bandidos, na tentativa de se defender. Mas, por ser evangélico praticante, não teve coragem de disparar contra os marginais. Acabou sendo baleado por um dos assaltantes, que fugiram levando os R$ 400,00 do caixa – a féria do dia da pequena mercearia.

Em 26 de abril, o cobrador José Piechotta, de 38 anos, foi morto a tiros por um adolescente de 16 anos. O assassino se irritou porque na caixa coletora do ônibus Vila Verde (CIC) só havia R$ 10,00. O rapaz encostou a arma na cabeça de Piechotta exigindo mais dinheiro – o cobrador disse que não havia e implorou pela própria vida em vão.

Sem reação

Outra vítima de latrocínio no primeiro semestre de 2003 foi um jovem de 19 anos, funcionário da Associação Paranaense de Reabilitação. A história da morte de Rodrigo Henrique Frutuoso ilustra tristemente o balanço trágico do período: ele foi morto por ladrões quando regressava de uma agência bancária para o seu local de trabalho, na Rua dos Funcionários, Cabral, na tarde do dia 30 de abril. Ele não reagiu ao assalto, mas mesmo assim foi baleado na barriga por um dos dois homens que o abordaram quando entrava na Associação Paranaense de Reabilitação (APR). Os bandidos levaram a pasta que Rodrigo carregava com cheques e documentos. Ele foi levado para o Hospital Cajuru mas não resistiu e acabou morrendo três dias depois.

Refém

No dia 18 de junho, o funcionário da Prefeitura de São José dos Pinhais Daniel Alves Kuller, de 47 anos, foi feito refém por um assaltante que entrou em um mercado na Rua das Castanheiras, naquela cidade. Depois de apoderar de R$ 60,00 do caixa, o bandido matou Daniel com um tiro. A vítima foi usada como escudo pelo assaltante, que ainda tentou roubar-lhe a carteira. Os dois discutiram e Daniel recebeu um balaço no peito à queima-roupa. Daniel morreu ao lado do balcão do estabelecimento e o assaltante fugiu em uma bicicleta, sem levar a carteira.

O balanço de latrocínios do semestre se encerra com o caso do comerciante Jorge Felicetti, de 41 anos. Ele foi assassinado no dia 25 de junho por ladrões que invadiram seu local de trabalho, no Sítio Cercado, e levaram todo o dinheiro que a vítima guardava, além de uma pistola e um aparelho de telefone celular. Felicetti comprava veículos batidos, consertava e os revendia. No dia anterior ao crime, tinha fechado um negócio e estava com cerca de R$ 5 mil em dinheiro.

Dados divergentes deverão ser esclarecidos

No final da semana passada, a Secretaria de Segurança Pública divulgou balanço estatístico informando que houve redução no índice de criminalidade no Estado, nos primeiros cinco meses deste ano, se comprados aos cinco meses iniciais de 2002. De acordo com a Sesp, aconteceram apenas três casos de latrocínio (roubo seguido de morte), em todo o Estado, durante o período. Os dados levantados pela Tribuna, no entanto, são diferentes, indicando que no primeiro semestre de 2003 aconteceram 22 roubos cujas vítimas foram assassinadas pelos bandidos. Procurada pela reportagem da Tribuna, a assessoria da Sesp esclareceu que pode ocorrer divergências nos dados, porque alguns dos crimes podem ter sido considerados homicídios e portanto estão sendo investigados pela Delegacia de Homicídios e não pela Furtos e Roubos, cuja competência abrange os crimes de latrocínio. Mesmo assim, a diferença entre os números apurados pela Sesp e os levantados pela reportagem é bastante grande.

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