Crime sob guarda policial

As acusações de pedofilia pela internet, envolvendo uma quadrilha da qual estariam participando também policiais civis, estão tomando proporções assustadoras. Por enquanto, apenas uma pessoa foi presa. Trata-se do ex-policial militar Lincon Lima dos Santos, tio de Luciana Polerá Correa Cardoso, apontada como a mentora do esquema que aliciava meninas em um colégio do bairro Portão, em Curitiba, e escolhia os clientes pela rede mundial de computadores para que os programas fossem feitos no apartamento dela, na Fazendinha.

O caso está sendo investigado pelo Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crime (Nucria). Ontem, a delegada Ana Claúdia Machado interrogou Lincon, preso na noite de quarta-feira, e também ouviu cinco meninas. Entre elas uma adolescente de 15 anos, irmã de uma das acusadas, que fazia o elo entre os aliciadores e as colegas de escola. As meninas também teriam reconhecido alguns policiais através de fotografias mostradas pela delegada.

À tarde, investigadores do Nucria entraram no apartamento de Luciana, onde a maioria dos encontros sexuais aconteciam, porém ela já tinha fugido. A acusada estaria escondida em casa de parentes, em Matinhos, litoral do Estado.

A delegada Ana Cláudia não conversou com a imprensa. Disse que irá se manifestar sobre o caso só depois que as investigações forem concluídas. Em paralelo, a Corregedoria da Polícia Civil, sob a chefia da delegada Charis Negrão Tonhozi, investiga as denúncias contra os policiais civis. A corregedora informou que está sendo apurado o envolvimento de policiais do 4.º Distrito (São Lourenço). Também não quis detalhar o assunto, porém não negou que policiais de outras delegacias estão sob a mira das investigações. Seus nomes deverão ser divulgados quando forem devidamente identificados e se forem confirmadas as denúncias contra eles. Apesar do silêncio da polícia, sabe-se que as investigações se voltam também para o 7.º e 12.º distritos, situados na Vila Hauer e em Santa Felicidade, respectivamente.

Farsa montada pra extorquir "clientes"

Durante a entrevista concedida ao Tribuna na TV, uma das meninas, aliciadas pela quadrilha, contou que ela e outras duas menores eram orientadas por Luciana a entrar no quarto com o cliente e tirar a roupa. Quando as carícias estavam "esquentando", uma garota previamente escolhida, dizia que queria ir ao banheiro. Era o sinal aguardado por Luciana para acionar o esquema de extorsão. Policiais civis que fariam parte da trama, invadiam o local (seja quarto de motel ou o apartamento da aliciadora) e fotografavam e filmavam o pedófilo. As meninas eram instruídas a chorar e dizer que queriam a mãe. A farsa servia para obrigar o "cliente" a dar boas somas em dinheiro para não ser preso.

No dia 19 de abril, o empresário Adi Sfredo, 53 anos, caiu na cilada. Foi preso em flagrante por policiais do 4.º Distrito quando estava com algumas meninas no motel Você que Sabe, na Rodovia do Café. Ele foi autuado por tentativa de estupro. O delegado do 4.º DP Edson Costa informou, ontem, que os policiais foram até o motel (que fica fora da área de atuação da delegacia), porque receberam denúncia anônima de pedofilia. O delegado garante que não houve nenhuma irregularidade na prisão do acusado.

Outra versão

Porém, uma segunda versão para o caso circula inclusive nos meios policiais. Há quem afirme que Adi só foi autuado em flagrante porque não pagou R$ 5 mil exigidos pelos investigadores. Assustado, ele teria pedido ajuda ao filho, possivelmente para arrumar o dinheiro, mas o filho achou melhor procurar a Corregedoria da Polícia Civil e denunciar o que estava acontecendo. Ainda segundo informações de quem acompanhou o episódio à curta distância, enquanto o filho denunciava a extorsão, o flagrante era lavrado às pressas para justificar a ação policial.

Ainda para desmentir a versão da polícia, uma funcionária do motel, procurada ontem pela reportagem, garantiu que nas últimas semanas não ocorreu qualquer batida policial no estabelecimento e que ninguém foi preso ali. O que leva a supor que os investigadores já estariam em algum quarto próximo – travestidos de clientes -, aguardando o sinal para surpreender o empresário atraído pela rede de pedófilos.

Desmentido

A mesma Luciana que agora fugiu da polícia, foi detida no dia 28 de abril, pelos policiais militares da Patrulha Escolar – soldados Rosemeri e Castro – que tinham sido alertados da ação dos quadrilheiros pela família de uma das garotas. A acusada foi levada ao 8.º Distrito Policial, junto com uma mulher grávida, conhecida por Pâmela. Lá Luciana foi reconhecida pela menina, cuja família fez a denúncia. A delegada soube então que o caso estava sendo "atendido" pelo 4.º Distrito e encaminhou todos para lá. Nesta distrital, Luciana foi liberada sem ser ouvida. De acordo com o delegado Edson Costa, quando a garotinha foi ouvida, negou conhecer a acusada, obrigando-o então a soltar Luciana por falta de prova. Em outro depoimento, já prestado a dois policiais militares e uma promotora de Justiça, a menina e sua mãe disseram ter sido forçadas – mediante ameaças de prisão – a dizer que não conheciam Luciana, propiciando sua soltura. No mesmo depoimento, a menina teria sido forçada a dizer que saiu para beber em um bar e quando acordou estava em um motel. E ainda que havia perdido a virgindade com seu namorado.

Voltar ao topo