Caso Giovanna – depois da morte, a correria

O cadáver de Giovanna, amarrado com pedaços de fios de luz e embalado em saco plástico azul, foi removido para o Instituto Médico-Legal. Iniciava-se, na tarde de 12 de abril de 2006, uma quarta-feira, a ação da polícia científica. Qualquer detalhe, uma simples fibra de tapete deixada sob o corpo, poderia ajudar a elucidar o mistério. Por outro lado, a Justiça fazia sua parte, emitindo em caráter de urgência um mandado de busca e apreensão coletivo, permitindo aos policiais de Quatro Barras e do Sicride entrarem nas casas das ruas por onde ela tinha passado. Era uma corrida contra o tempo. Quanto mais demorassem, mais longe do criminoso estariam. Ralos, bueiros, tanques, caixas d?água, banheiros e lixeiras foram revistados, em busca de vestígios de sangue, sacos de lixo e fios de luz similares aos usados pelo maníaco.

Cerca de 30 casas foram revistadas. Muitos moradores colaboravam, abrindo as portas. Outros, porém, ficavam ressabiados. Durante o período de buscas, os policiais já haviam mapeado suspeitos e procuravam o local em que a menina tinha sido morta. Havia certeza de que o crime ocorreu no interior de uma casa. Não havia testemunha, o corpo foi lavado e o assassino esperou a melhor oportunidade para se desfazer dele. Trabalho de uma mente doentia, que exigiu sangue frio e paciência.

A polícia assegura que o crime foi de oportunidade. O assassino aproveitou o fato de a criança estar sozinha e a atraiu para a morte, com a promessa de comprar uma rifa. Abusou dela, asfixiou-a, banhou o cadáver – podendo mesmo tê-lo deixado em imersão -, embalou e esperou para dispensá-lo, o que ocorreu na noite do dia 11 (terça-feira), provavelmente entre 22h e 24h, no terreno baldio distante duas quadras da casa da vítima. Cuidou de detalhes, como não deixar impressões digitais e ainda jogou as roupas da criança dentro de uma sacolinha de supermercado em outro terreno vago, o mesmo do carreiro que Giovanna costumava passar. Isso reforçava a suspeita de que o matador era morador na região e ainda estava por ali.

Pressionados pela população e pela imprensa, os policiais investigavam e enumeravam suspeitos: um homem que tinha em sua casa fios de luz semelhantes ao que serviu para amarrar o corpo e um colchão molhado de urina; um indivíduo visto abaixado no matagal em que o cadáver foi deixado; um idoso que bolinava as netas; um morador que tentou dispersar a atenção da polícia dizendo que Giovanna esteve em um bar longe dali e um usuário de drogas que ficava sozinho em casa.

Passou o sábado de Aleluia e o domingo de Páscoa sem novidades. Na segunda pela manhã, a delegada Margareth, de Quatro Barras, foi até a única casa que não tinha sido vasculhada, por estar fechada. Justamente a moradia dos ciganos. Um vizinho, preocupado com a segurança, tinha removido todo o mato e o lixo que havia no terreno ao lado, passando um trator. Ao costear o muro, buscando o melhor lugar para pulá-lo e entrar na casa, Margareth viu sacolas de lixo e as abriu. Para sua surpresa, encontrou as roupas da menina morta, meticulosamente dobradas, com as sandálias colocadas por cima. Estava tudo ali: a calça jeans, a calcinha úmida de urina, a blusinha e até mesmo o ?rabicó? branco que ela usava no cabelo.

Na casa até então não revistada morava ?Dona Diva?, cartomante que um ano antes tinha se mudado para o Jardim Patrícia, com o filho e a nora. Eles tinham deixado Quatro Barras na noite anterior ao encontro do corpo de Giovanna. A polícia invadiu a casa. Achou objetos considerados estranhos, como velas pretas, fitas vermelhas amarradas em caveira, sapos secos e cobras em vidros, além de um altar com muitos santos. A cena reforçou a hipótese de que a garotinha havia sido assassinada em um ritual de magia. A partir daquele momento, Vera Petrovitch (verdadeiro nome da cartomante), o filho Pero Theodoro Petrovitch Vich, e a mulher dele, na época com 15 anos, passaram a ser apontados como autores do assassinato.

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