Banho de sangue no Cajuru

O Cajuru, tido como um dos bairros mais violentos de Curitiba, fez jus à fama ontem. Quatro homicídios e uma tentativa foram praticados na região, que teve as ruas manchadas com sangue. Em plena luz do dia, às 14 horas, dois homens foram executados dentro de um carro, com mais de 20 tiros. Antes, de madrugada, outro havia sido morto por envolvimento na compra ilegal de armas e lança-perfume. Também à tarde, um camioneiro foi vítima de um provável acerto de contas. E ainda um adolescente foi baleado quando estava ao volante de um carro emprestado. Este sobreviveu e está hospitalizado.

O primeiro assassinato aconteceu por volta das 00h30, na Rua Engenheiro Costa Barros, quando Diego Isaac Rizzi, 17 anos, foi morto com quatro tiros no rosto. De acordo com a mulher dele, o rapaz havia saído de casa 40 minutos antes, para comprar remédios. Um cobrador de ônibus, que trabalha perto do local do crime, contou à polícia que apenas ouviu os disparou e viu quando um indivíduo fugiu correndo. No local, os investigadores da Delegacia de Homicídios descobriram que a vítima estava envolvida com a compra de armas e de drogas e que vinha sendo ameaçada de morte. Ninguém soube dizer quem estaria fazendo as ameaças.

Através de uma denúncia anônima, os investigadores foram informados que um indivíduo conhecido por Maicon, envolvido com o roubo de carros, seria o autor do crime. Ele também teria tentado matar outro indivíduo, chamado Luiz Fernando, antes de executar Diego.

Execução

No início da tarde, mais de 20 tiros foram disparados ao lado da linha férrea que separa a Vila Trindade da Vila Autódromo. As vítimas – Daniel Andrade Silva, 32 anos, e Samuel Alves Dias, 28, seriam assaltantes. Daniel era foragido da cadeia de Chapecó, Santa Catarina, há quase um ano.

De acordo com moradores, por volta das 13h40 os amigos trafegavam com o Gol placa KNE-1227, próximo a Rua Roraima, quando um indivíduo de bicicleta se aproximou e abriu fogo. Quando os policiais civis e militares chegaram descobriram que o carro tinha alerta de furto e que as vítimas tinham passagem na polícia por roubo. Juliana do Prado, 21, que tem uma filha de dois anos com Daniel, contou que todos os dias ele saía de casa, em Pinhais, para visitar a criança no Cajuru. "Ele não ia para a Vila Autódromo porque lá tem muitos policiais e ele tinha medo de receber uma geral porque era foragido da cadeia desde fevereiro do ano passado", contou.

A jovem foi levada à Delegacia de Homicídios para prestar depoimento, uma vez que os investigadores Tiquinho e Castro descobriram que Juliana também cumpre pena no sistema penitenciário de Santa Catarina. "Ela saiu da cadeia através de portaria, por 14 dias, vamos reencaminhá-la o quanto antes. Lá ela cumpre pena por formação de quadrilha e porte ilegal de arma, mas ainda não sabemos se ela agiu em algum crime aqui com Daniel", contou Tiquinho.

Por fim, populares contaram que no carro das vítimas tinha duas pistolas, que sumiram misteriosamente

Outro

Também, no começo da tarde, o caminhoneiro Daniel Chagas, 49, perdeu a vida a tiros, dentro de sua casa, na Rua Wenceslau Bispo dos Santos. Ele estava no quarto, com a filha de três anos, quando dois homens ocupando uma moto, foram procurá-lo. Segundo testemunhas, enquanto um dos assassinos permaneceu no veículo, mantendo-o ligado, o outro caminhou até a janela do quarto da vítima. De lá efetuou três disparos. Daniel estava com a filha e conseguiu empurrá-la para baixo da cama. Ele morreu na frente da criança. Um amigo dele contou que ouviu quando os criminosos gritaram "viemos acertar a moto", referindo-se ao financiamento que Daniel não havia quitado antes de revender o veículo. A mulher da vítima foi avisada e quando chegou em casa, chocada, desmaiou em frente ao portão. De acordo com o investigador Tiquinho, o duplo homicídio e o assassinato de Daniel não tem ligação, havendo apenas a coincidência de terem ocorrido no mesmo horário. Os quatro assassinatos serão investigados pela Delegacia de Homicídios.

Sobrou bala até pro Pato Donald

Na rua em que costumava se reunir com amigos, Luiz Fernando Limônia dos Santos, 17 anos, quase perdeu a vida, na noite de quarta-feira. Ele foi baleado quando estava ao volante do Gol placa GTJ-2653, parado na Rua João Gribogi, quase esquina com a Sebastião Marcos Luiz, no Centenário, Cajuru, por volta das 22h.

Foram três disparos que perfuraram o pára-brisa e atingiram o adolescente no peito e na barriga. Nem o Pato Donald de pelúcia – pendurado no retrovisor do carro – escapou dos tiros. Uma das balas rasgou a pata do boneco.

Acredita-se que o atirador, até agora não identificado, tenha usado um revólver calibre 38, devido à capa de um projétil encontrada no interior do veículo. No local, também foi recolhida a cápsula de um projétil de pistola calibre 380.

A mãe de Luiz explicou que o filho trabalha como mecânico e tinha pegado o carro na oficina. Antes de chegar em casa, na Rua Catulo da Paixão Cearense, a poucas quadras do local dos tiros, parou para conversar com amigos, como fazia habitualmente. Ela disse não ter idéia do que possa ter ocorrido, já que o filho não bebe, não fuma nem usa drogas.

Luiz foi socorrido pelo Siate e levado ao Hospital Cajuru, em estado grave. Apesar de estar conversando no interior da ambulância, ele não contou aos soldados Cláudio e Caleffi, do Regimento de Polícia Montada, RPMont, quem atirou, tampouco os motivos do atentado.

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