Bandidos matam delegado no Litoral

O que deveria ser averiguação de rotina para o delegado José Antônio Zuba de Oliva, 49 anos, titular da delegacia de Ipanema, em Pontal do Paraná, transformou-se em tiroteio, mortes, perseguição e prisão.

Apanhado de surpresa, o que levantou a suspeita de cilada, o delegado levou quatro tiros (no pescoço, peito e braço) e morreu na hora. Seu auxiliar Adilson da Silva, 42, conhecido como “Dico”, também levou quatro tiros e morreu no Hospital Regional de Paranaguá.

Duas policiais que os acompanhavam Luiza Helena dos Santos Pinto e Noeli de Fátima Lima saíram ilesas “por milagre”, conforme afirmaram. O confronto aconteceu às 9h de ontem, no Camping Olho D’Água, no balneário de mesmo nome, em Pontal do Paraná.

Zuba, como era conhecido o delegado, recebeu a informação que homens armados estavam naquele local. Juntou a equipe, levando “Dico” como motorista (ele era funcionário da prefeitura, cedido para a delegacia) e tentou surpreender os suspeitos.

Abordagem

Assim que entraram no camping, com a viatura, o delegado desceu gritando “mãos para cima”, sendo seguido pelas duas policiais e pelo motorista. Três dos suspeitos tomavam café ao lado da churrasqueira e um quarto indivíduo (que foi preso em seguida) dormia dentro de uma BMW, estacionada na sombra de algumas árvores.

Ao ouvir os gritos, o rapaz que dormia no carro abriu a porta e armado com uma submetralhadora atirou contra os policiais. Há informações que os outros três estavam armados com pistolas e também atiraram. No fogo cruzado, os dois homens foram baleados. As policiais jogaram-se no chão e não foram atingidas.

Com o delegado morto e o colega ferido, elas pediram ajuda pelo rádio. O rapaz que atirou com a metralhadora saiu correndo a pé e os demais, carregando as armas (inclusive a arma do delegado) fugiram na BMW placa LBS-1131, e no Honda Civic, KMZ-8103, ambos do Rio de Janeiro. Pouco depois chegaram equipes de policiais militares e civis de todas as delegacias do Litoral e passaram a fazer buscas na região.

Buscas

Uma das equipes da PM deteve um suspeito caminhando pela praia. Os dois carros, abandonados numa casa de veranista, no balneário Junara, em Matinhos, foram apreendidos e também levados para a delegacia. Consta que são carros “quentes”. Através das placas a polícia identificará os proprietários que provavelmente fazem parte da quadrilha.

Da casa em que deixaram os veículos, os bandidos alcançaram uma vasta área de preservação ambiental. No início da tarde, mais de 100 policiais civis e militares cercavam a região em busca dos três suspeitos, com a ajuda do helicóptero da Secretaria da Segurança Pública, que levava atiradores de elite dependurados na porta. “Não temos dúvidas que eles estão no matagal”,afirmou o delegado Hamilton da Paz, titular do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope).

As polícias rodoviárias Estadual e Federal montaram cercos nas estradas que ligam Alexandra a Matinhos e BR-277 a Praia de Leste, e BR-277 a Curitiba. Todos os veículos, inclusive motocicletas eram parados e vistoriados.

Os motoristas dos carros eram obrigados a abrir o porta-malas e os motociclistas abriam mochilas para mostrar que não estavam armados. As revistas causaram lentidão no trânsito.

Cariocas planejavam assaltos


Mara Cornelsen e AEN

O suspeito detido na praia foi levado à delegacia de Paranaguá e identificado como Francisco Diego Vidal Coutinho, 20 anos. Ele confessou fazer parte do grupo que atirou nos policiais e disse que todos vieram do Rio de Janeiro para praticar assaltos no Paraná.

Conforme divulgado na Agência Estadual de Notícias ele é fugitivo do 63.º Distrito Policial de Niterói (RJ). Também foram identificados outros três suspeitos: Felipe, conhecido como “Tex”, e que portava documentos em ,nome de André Nascimento Gomes; Paulo “Tutancamon”, 42, e Paulo “Ganchinho”, ambos foragido do Bangu 4 (Presídio Jonas Lopes de Carvalho), no Rio de Janeiro.

Denúncias

“Pedimos à população que denuncie pelos telefones 181 ou 190 qualquer movimentação suspeita. Procuramos por pessoas que não morem no Litoral e que estejam fortemente armadas”, disse o secretário da Segurança Pública, coronel Aramis Linhares Serpa.

Chumbo no café da manhã

Mara Cornelsen

Os bandidos instalaram-se no Camping Olho D’Água na noite de anteontem. Chamaram a atenção pelos “carrões”, mas pareciam campistas “normais”, conforme informou o casal “Zico” e Maria (irmã de Adilson da Silva), que atendem o local. Armaram uma barraca e avisaram que, ontem pela manhã, iriam conhecer a Ilha do Mel.

Pouco antes das 9h, “Zico” juntava folhas secas caídas dos sombreiros, perto de uma das churrasqueiras, e viu três dos rapazes tomando café. Foi convidado a se juntar eles, mas recusou.

Em seguida, foi para a cozinha de sua casa, dentro do camping, e logo avistou a viatura da Polícia Civil, entrando em alta velocidade. Os policiais desceram e imediatamente começou o tiroteio.

“Tudo aconteceu em minutos. Logo o delegado estava caído em uma poça de sangue e o meu cunhado caído do lado da viatura, também sangrando. Os caras fugiram, deixando barraca, roupa e tudo o mais para trás”, contou “Zico. Todo o equipamento e as roupas dos suspeitos foram apreendidos e estão na delegacia de Paranaguá.

Informação

A princípio surgiu a informação de que Maria tinha visto armas com os campistas e, preocupada, avisou o irmão que trabalhava na delegacia, motivando assim a ida do delegado até o local.

No entanto, Maria assegurou à reportagem do Paraná Online que não viu nada de anormal nos indivíduos e que não avisou ninguém. A polícia deverá apurar como Zuba soube da presença dos suspeitos e confirmar se foi armada uma cilada para o policial.

Rigor no trabalho

Mara Cornelsen

Arquivo
Zuba foi capitão do Exército.

Zuba sempre foi considerado “linha de frente” e “durão”. Trabalhou durante anos em delegacias do interior do Paraná e, antes de ingressar na Polícia Civil, era capitão do Exército, cargo com o qual ocupou embaixadas estrangeiras na qualidade de adido militar do Brasil.

Apaixonado por armas, era exímio atirador e não descuidava de sua própria segurança. Ele não estar usando colete balístico para atender a ocorrência no camping intrigou os colegas.

O corpo do delegado passou pelo Instituto Médico-Legal de Paranaguá e às 20h seguiu para a Câmara daquela cidade, para ser velado. Hoje pela manhã, o cortejo seguirá para Campina Grande do Sul, para cremação. Zuba, que no primeiro semestre deste ano lutou contra um câncer e venceu a doença, deixou esposa e duas filhas. O velório de Adilson será Igreja Assembleia de Deus, em Shangri-lá.