Bandidos atacam motoristas na Vila das Torres

O mais novo pesadelo enfrentado pela polícia está concentrado na Vila das Torres e é conhecido por "ladrões quebra-vidros". A constante atividade desses indivíduos tem causado dor de cabeça nas polícias Civil e Militar há algum tempo. mesmo com o trabalho de repressão desenvolvido naquela área, o índice de criminalidade não regride e tende a crescer, fato que tem sido comprovado mês a mês. No final do ano passado, após um período crítico alcançado em setembro de 2004, o número de ocorrências dessa modalidade de crime teve uma baixa considerável, mas desde a primeira semana de janeiro deste ano, os "quebra-vidros" voltaram a atuar com força. Em fevereiro, somente nos primeiros 15 dias, foram registrados mais de 40 boletins de ocorrência na Delegacia de Furtos e Roubos (DFR). Dentre as vítimas estão uma delegada de polícia e uma deputada estadual.

No último dia 10, cinco casos foram denunciados na polícia. Na maioria das situações, os marginais atacam mulheres que estão sozinhas em seus veículos e que param o carro em pequenos congestionamentos à espera da abertura do semáforo. É o tempo necessário para que os "quebra-vidros" ajam. Eles roubam bolsas ou mochilas em busca de cartões de crédito, talonários de cheque, telefone celular e dinheiro.

Quem costuma carregar dinheiro vivo toma um prejuízo considerável. Um exemplo ocorreu às 19h do dia 10 de fevereiro, quando uma empresária, de 37 anos, foi assaltada em seu Vectra. Os marginais levaram cartões, documentos e R$ 1.300,00 em dinheiro e R$ 2.700,00 em cheques, além de um anel de ouro.

A polícia não possui uma estatística oficial de ocorrências envolvendo os "ladrões quebra-vidros". Entretanto, a situação é preocupante. Prova disso, é que desde a última quinta-feira, dia 17, começou a ser intensificado o policiamento naquela região. (Veja matéria nesta página) Num cálculo superficial, aconteceram em média três situações de roubo a mulheres em veículos por dia no mês de fevereiro. O número – que já é expressivo -torna-se alarmante, pois muitas vítimas sequer prestam queixa.

Incentivo

A atividade de "quebra-vidros" começou a ganhar amplitude a partir da metade de 2004, apesar de já ser praticada naquela região há alguns anos. Toda a rentabilidade do golpe resume-se, basicamente, na troca dos objetos roubados e furtados por entorpecentes dentro da própria Vila das Torres, um dos famosos pontos de venda de drogas em Curitiba. "Na maioria das vezes, o golpe é praticado por viciados para poder comprar drogas, principalmente o crack", informa o delegado Rubens Recalcatti, titular da DFR. Uma das preocupações do delegado está relacionada com a violência que a dissimulação desse golpe pode trazer.

Quadrilhas já disputam território ao redor da favela

A maioria dos "ladrões quebra-vidros" age sem o auxílio de armas. Eles observam objetos de interesse dentro dos veículos parados em sinaleiros nas ruas que circundam a Vila das Torres e atacam, quebrando o vidro lateral do passageiro. Para estilhaçar o vidro são utilizadas normalmente pedras. Porém, já foram registradas situações onde constatou-se o uso de armas de fogo para intimidar as vítimas.

Violência

Para piorar ainda a situação, a prática dos "quebra-vidros" começa a se organizar e isso significa indícios de crescimento de violência na região. Desde o declínio das principais gangues que disputavam o controle do tráfico de drogas na vila, as ações criminosas começaram a ser realizadas na área por indivíduos que agem sozinhos, no máximo em duplas, sem qualquer organização.

Entretanto, com o crescimento da ação dos "quebra-vidros" e o conseqüente aumento da rentabilidade dos golpes, essa situação começou a mudar. A polícia já registrou desavenças resolvidas a bala entre ladrões pela divisão de produto roubado. A Tribuna relatou um desses casos em setembro de 2004, mês em que a atividade dos "ladrões quebra-vidros" foi alarmante. Em 18 de setembro, Robson P.N. recebeu dez tiros na Rua Epaminondas Fugiatti, às 19h30. Mesmo alvejado nos braços, peito e barriga, o jovem sobreviveu. Segundo a polícia, dois homens encapuzados foram os autores e cometeram o crime devido à disputa por objetos roubados. A rentabilidade dessas ações não pode ser comparada a de grandes assaltos, mas em contrapartida, a probabilidade dos assaltantes serem pegos durante o golpe é mínima.

Por isso compensa.

Até crianças praticam o delito

Não há um perfil definido para os "assaltantes quebra-vidros". O delito é praticado por homens, adolescentes e até crianças, sem distinção de raça. O principal alvo são mulheres de carro, desacompanhadas, que trafegam pela região da Vila das Torres. As mulheres não têm tendências a reagir a assalto e ficam mais assustadas quando os vidros são quebrados, o que dificulta guardar características dos ladrões. São elas também que costumam carregar bolsas no banco do passageiro, uma presa fácil para os ladrões. Os recipentes normalmente contém celulares, dinheiro, cartões de crédito e objetos que podem ser trocados por drogas. Os homens portam, normalmente, apenas uma carteira.

Ultimamente, a tendência dos ladrões é de roubar também a frente dos aparelhos rádio-cds. Normalmente quem pratica esses delitos são adolescentes e jovens que se mantêm através do crime.

Até setembro de 2004 não havia registros de envolvimento de crianças nessa atividade de roubo. Mas a situação mudou e atualmente não é novidade encontrar registro de boletins de ocorrência onde a vítima foi atacada por crianças de 6, 8 e 10 anos. No ano passado, uma ocorrência chamou a atenção da polícia pela precocidade dos envolvidos no assalto. Conforme registro, na tarde do dia 26 de setembro, três crianças com idades aproximadas de 5, 6 e 8 anos – que deveriam estar em creches, escolas ou em algum tipo de recreação – foram os protagonistas da ação. Eles quebraram o vidro do veículo Astra e levaram a bolsa de uma industriária de 47 anos, contendo cartões de crédito, talonário de cheque, documentos e R$ 50,00. Outros dois assaltos naquele mesmo dia tiveram a participação de crianças de 10 anos que, conforme relato das vítimas, são vistas freqüentemente brincando às margens da Avenida Comendador Franco. Essa situação permanece até o momento, já que no dia 4 de fevereiro há o registro de um roubo na mesma Avenida feito por "quebra-vidros" envolvendo um garoto com idade estimada entre 8 e 10 anos. É a inocência perdida.

Delegado evitou ataque

O aumento da criminalidade pela ação dos "ladrões quebra-vidros" fez com que o governo tomasse medidas de contenção. Desde a última sexta-feira, é possível encontrar nas esquinas que delimitam a Vila das Torres, duplas de soldados da PM realizando patrulhamento. Equipes da Delegacia de Furtos e Roubos, através do trabalho investigativo, também estão fazendo incursões na favela atrás de ladrões e receptadores de material roubado. No início desta semana, a equipe de reportagem da Tribuna encontrou diversas duplas de PMs realizando fiscalização a pé. Também foram vistas uma viatura da Rone (Companhia de Choque) e motos da PM circulando pela zona de risco.

De acordo com o delegado Rubens Recalcatti, no último ano, aproximadamente 30 homens envolvidos em situações de roubo, a partir da quebra do vidro de veículos, foram presos pela DFR. "Mais adolescentes envolvidos nessa prática também foram detidos e encaminhados à Delegacia do Adolescente", complementou. A última detenção realizada por policiais da DFR ocorreu na manhã do último domingo e envolveu o próprio delegado. Conforme o policial, ele se deslocava para a delegacia, por volta das 7h, quando na Avenida Guabirotuba suspeitou da ação de um jovem que se aproximou rapidamente de um Gol que estava parado, a espera da abertura do semáforo. O delegado acelerou seu veículo, encostou atrás do Gol e desceu rapidamente dando voz de prisão ao indivíduo. "Agi antes do rapaz da quebra", relatou Recalcatti. Em seguida, já apareceu uma viatura da Polícia Militar que conduziu o detido, de 18 anos, para a DFR. Lá, o rapaz forneceu um nome falso aos policiais e também foi indiciado por esse crime.

Só a polícia não resolve

Apesar dos trabalhos desenvolvidos pela Delegacia de Furtos e Roubos (DFR) e Polícia Militar para tentar amenizar o problema dos roubos na região da Vila das Torres, a situação é preocupante. Os delinqüentes têm muitos pontos a seu favor, diz o delegado Rubens Recalcatti. Depois de cometer os crimes, os bandidos se infiltram rapidamente na favela. Quando são localizados, não estão mais com a mercadoria furtada, eximindo-os do flagrante. Outras vezes, os assaltantes são menores de idade que não permanecem presos e voltam a agir em pouco tempo.

A Polícia Militar também têm efetivos na região, mas isso não inibe os marginais. A PM possui um módulo dentro da Vila das Torres e a algumas quadras adiante deixa uma viatura com dois policiais parados na esquina da Avenida Comendador Franco (Avenida das Torres) com Rua Guabirotuba, um dos pontos críticos.

Os policiais sugeriram a implantação de um policiamento ostensivo no horário das 7h às 24h durante todos os dias. "Ou então, retirar os semáforos daquela área", brincou um dos entrevistados. Para o delegado Rubens Recalcatti, seria importante também a implantação de câmeras nos pontos considerados críticos, apoio da Guarda Municipal e intensificar as operações dentro da favela.

A solução também passa por uma reeducação dos moradores daquele local, proporcionando-lhes melhores condições de vida. Criar projetos dirigidos principalmente aos jovens que não têm ocupacão e durante a ociosidade entram no mundo do crime.

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