Bala perdida mata costureira

Uma bala perdida que teria sido disparada durante um confronto entre policiais militares e marginais acertou a cabeça da costureira Vanira Costa, mais conhecida como “Dona Nena”, 63 anos. O fato ocorreu na Rua Visconde de Abaeté, no Bairro Alto, no início da madrugada de sábado. A mulher estava sentada em frente a máquina de costura, fazendo o vestindo da neta Gabriela, que estava completando 4 anos. Seria uma grande festa, já que no mesmo dia Mariza, a filha da costureira, comemorava 43 anos, e a própria Vanira faria 64 anos no domingo.

Mariza Costa contou que a mãe costumava ficar até a madrugada costurando. Mas na noite de sexta-feira, tinha um motivo especial: o aniversário da neta Gabriela. “Ela queria terminar o vestido para hoje (sábado) ajudar a fazer os salgados”, comentou Mariza, inconformada. Ela disse que resolveu ir dormir para recomeçar os preparativos da festa, marcada para as 14h, logo cedo. Vanira resolveu ficar um pouco mais.

Por volta da 1h da madrugada, Mariza contou que ouviu o barulho de um Fusca, que aparentava estar sendo perseguido por uma viatura da PM. Em seguida, os disparos. “É comum tiroteios por aqui a noite. Viaturas e confronto com a polícia também”, salientou a mulher. Mariza disse que quando cessaram os disparos, ela dormiu tranqüilamente, sem imaginar a tragédia que havia acontecido.

Encontro

Às 8h de ontem Mariza, que mora nos fundos da casa da mãe, acordou e foi ao encontro de Vanira. Ela encontrou o pai fazendo café na cozinha e foi até o quarto de costura chamar a mãe para tomar café. “Pensei que ela estava rezando. Abri a porta e encontrei a minha mãe caída no chão. Pensei que ela havia desmaiado ou teve algum problema devido a idade, mas logo percebi o sangue na cabeça e a massa encefálica no chão”, lembrou Mariza.

Em seguida, Mariza percebeu que na janela do quarto havia uma perfuração de bala e entendeu que a mãe foi vítima de uma bala perdida.

Investigações

A perita Vilma Benkencorf, da Polícia Científica, informou que a costureira estava sentada na máquina quando foi alvejada na testa. “Ela vomitou quando foi atingida e parte da massa encefálica saiu, como se pode ver no chão e no pedal da máquina de costura. Ela estava costurando e o fato ocorreu por volta da 1h da madrugada”, explicou Vilma.

Na parede da Igreja do Evangelho Quadrangular, ao lado da casa da costureira, a polícia localizou duas perfurações de bala. “O curioso é que o projetil da parede foi retirado e desapareceu. O local foi limpo, o que não é comum marginais fazerem”, comentou o delegado Stélio Machado, titular da Delegacia de Homicídios.

O policial informou que, como testemunhas afirmam que a Polícia Militar esteve no local no mesmo horário, ele irá solicitar ao Comando de Policiamento da Capital (CPC) as armas dos policiais. Também vamos aguardar para ver o calibre do projetil, para ver se é compatível com as armas usadas pela polícia, como a ponto 40. Apesar da bala ser retirada da parede da igreja, permaneceu uma na cabeça da vítima”, salientou o policial.

Stélio disse que seus policiais examinaram o local e presumiram que uma pessoa poderia ter pulado o muro da residência, que é baixo, para tentar escapar da polícia, e até mesmo ter atirado contra a polícia, que poderia ter revidado e um dos disparos acertado a janela da casa da costureira, e conseqüentemente sua cabeça.

PM nega ter ocorrido troca de tiros no Bairro Alto

Apesar de moradores do Bairro Alto afirmarem que houve confronto entre policiais militares e bandidos durante a madrugada, a Polícia Militar negou o fato, através da assessoria de imprensa.

De acordo com o relatório da assessoria, policiais militares estiveram na Rua Visconte de Abaeté, no Bairro Alto – local onde a costureira Vanira foi morta com uma bala perdida – às 2h16 de sábado. Eles foram acionados por um morador, que relatava que ocupantes de uma Caravan estavam atirando em direção a um rapaz. A denúncia foi feita às 2h12 e a viatura demorou apenas quatro minutos para chegar ao local.

Ainda de acordo com a assessoria, a Caravan fugiu tomando a direção da Rua da Integração, onde há uma favela nas proximidades. A PM informou que o local é ponto de tráfico de drogas, mas quando os policiais chegaram não encontraram os suspeitos nem a vítima, encerrando a ocorrência, que levou o número 1.376.132.

Dois casos semelhantes em apenas uma semana

No domingo da semana passada a garotinha Danielle da Silva Rebelo, 4 anos, também foi vítima de uma bala perdida. Ela estava na casa da avó, na Rua Catulo da Paixão Cearence, Vila Centenário, no Cajuru, quando foi atingida por um projétil na cabeça. Socorrida pelos pais, morreu no dia seguinte, no Hospital Cajuru. O autor do disparo, segundo a polícia, é o foragido da Justiça David de Oliveira Pompeo, 22, conhecido por “Farol”. Embora a Delegacia de Homicídios tenha concentrado esforços para localizar o suspeito, até agora não obteve nenhuma pista do paradeiro dele.

Danielle observava o trabalho dos pais, que ajudavam na festa de aniversário de um sobrinho. Enquanto isso, na rua, “Farol”, descarregava seus revólveres contra ocupantes de um Chevette, contra os quais teria jurado vingança. Várias balas atingiram o veículo, sem contudo ferir os três rapazes que estavam nele. Um dos projéteis, porém, atravessou a janela do sobrado onde Danielle se encontrava e a feriu na cabeça.

Familiares da criança denunciaram que é comum ocorrer trocas de tiros no Cajuru e que mesmo durante o dia não é difícil observar pessoas andando pelas ruas exibindo armas de fogo. “Farol” é temido em toda a região, sendo considerado um indivíduo bastante perigoso. Está ligado ao tráfico de drogas e é acusado de outros homicídios. Ele conseguiu fugir da carceragem do 11.º Distrito Policial (CIC), há alguns meses. De acordo com informações da DH, o criminoso costuma andar armado com dois revólveres. Informações de seu paradeiro podem ser dadas à polícia mesmo que anonimamente.

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