Aumento da violência gera onda de protestos

Protestos por mais segurança foram promovidos, ontem, em vários bairros de Curitiba e em São José dos Pinhais. ?Tenho que colocar cadeado no portão, ficar trancada dentro de casa e, quando saio, peço para o vizinho cuidar da minha casa. Moro aqui há 12 anos e agora a violência está ficando muito pior.?

O desabafo da moradora do Sítio Cercado Alice de Jesus dos Santos foi unanimidade na onda de manifestações. Comerciantes do Sítio Cercado, Barreirinha e de São José dos Pinhais fecharam as portas de suas lojas e, junto com moradores, foram às ruas pedir mais policiamento.

?Em três meses, fui assaltado três vezes. Na última, os bandidos levaram todo mundo para os fundos da loja e nos deixaram de joelhos?, contou Vanderlei Buba, proprietário

de uma panificadora no Sítio Cercado. ?Estou aqui há cinco anos e só tinha sido assaltado uma vez, quando abri a panificadora?, lembrou.

O protesto dos moradores e comerciantes do Sítio Cercado também contou com o apoio da população do Bairro Novo e do Alto Boqueirão. A população alega que a região tem uma viatura policial para atender 140 mil pessoas.

A população do Sítio Cercado fundou, em novembro do ano passado, a Associação Amigos do Bairro para se unir em busca de mais segurança. O protesto de ontem contou com o apoio da Força Sindical do Paraná, que emprestou caminhão de som e confeccionou as faixas. O diretor de mobilização da Força, Nelson Silva de Souza, afirmou que a entidade deve promover em breve novas manifestações no Alto Boqueirão e no bairro Ferraria, em Campo Largo.

Barreirinha

 
Anderson Tozato
Carro de som orientou protesto no Sítio Cercado.

Um assalto a uma joalheria, ontem de manhã, por dois homens armados foi a ?gota d?água? para a manifestação que reuniu cerca de 200 pessoas e fechou a Avenida Anita Garibaldi, por cerca de 30 minutos. ?Quase diariamente tem assaltos à mão armada aqui?, contou o padre Leocádio Zytkowski, que liderou a manifestação.

Nem a igreja escapou da ação dos bandidos. Segundo o padre, tanto a matriz quanto as 10 capelas da região já foram arrombadas. A população do Barreirinha, orientada por dois advogados voluntários, vai se reunir hoje à noite para discutir a criação do conselho de Segurança do bairro. Segundo o padre Leocádio, é preciso, no mínimo, mais viaturas patrulhando a região.

Cada um se vira como pode

Patricia Cavallari

Comerciantes da Rua Joinville, no bairro Pedro Moro, em São José dos Pinhais, baixaram as portas às 17h de ontem, em protesto por mais segurança. Faixas penduradas nas paredes de farmácias, panificadoras e lotéricas indicaram a indignação da população, que está cansada da audácia dos marginais e da ausência da polícia. A principal reivindicação é formação de mais um batalhão da Polícia Militar para a região metropolitana.

Imagem teria afugentado assaltantes.

A manifestação foi desencadeada pelo assassinato de Hamilton da Silva, 48 anos, ocorrido no último dia 8, perto da Rua Joinville. A vítima era proprietária de uma eletrônica, onde trabalhava há 20 anos. Mesmo sem reagir ao assalto, ele foi morto com um tiro no peito e outro na cabeça.

Assim como Hamilton, vários comerciantes da região já tiveram suas vidas nas mãos de bandidos. Ao longo da rua, funcionários e proprietários contam histórias semelhantes, envolvendo violência e medo. Quase todos os estabelecimentos têm segurança particular. Uma panificadora, que já foi assaltada duas vezes em 15 dias, reduziu o horário de atendimento e os proprietários construíram uma parede no lugar de uma das portas.

Reza

Além dessas medidas, os comerciantes passaram a contar com a ?ajuda divina?. O dono de uma farmácia relatou que já foi assaltado mais de dez vezes e que seus clientes, condoídos com a situação, começaram a lhe entregar orações e imagens de santos. ?Carrego meus santinhos para me proteger e graças a Deus nunca fui agredido pelos bandidos?, disse. Entretanto, o medo de ser assaltado tem atrapalhado seu trabalho e sua vida. ?Estou tenso toda hora. Sempre eu ou um funcionário fica na porta, enquanto o outro atende. Nunca descuido e chego a atender os representantes de laboratório na calçada, para que possa acompanhar o movimento. O nosso ?psicológico? fica muito fragilizado?, reclamou.

A lotérica, onde um segurança já foi assassinado, também recorreu à fé. A funcionária garante que a imagem de Jesus Cristo já intimidou os bandidos. ?Fomos assaltados quatro vezes no ano passado e, há 15 dias, a proprietária colocou a imagem no balcão. Esses dias dois suspeitos entraram e saíram dizendo: ?Aqui não, vamos para outra??, contou.

23 mortes

 

Marcelo Vellinho

A polícia civil de São José dos Pinhais, surpreendida pelos protestos da Rua Joinville, alegou que a violência tem sido combatida e que o número de crimes, naquela região, não está acima do normal. ?Criamos operações para combater o crime onde a situação fugiu do comum?, disse o delegado Paulo Silveira. De acordo com a polícia, em 2007, foram registrados 23 homicídios na cidade e 60% deles estariam elucidados. Na região de Pedro Moro, segundo o delegado, foram dois homicídios e um latrocínio.

?Afogado? em estatísticas

Marcelo Vellinho

Em resposta às manifestações promovidas em Curitiba e no município de São José dos Pinhais, o major Douglas Sabatini Dabul, da Seção de Planejamento do Comando da Capital, informou que é preciso criar um vínculo entre a população e a polícia. Segundo ele, as operações da Polícia Militar são baseadas em estatísticas e no que a população identifica na rua. ?Precisamos da ajuda das pessoas, para que nos alertem sobre as situações que observam e não chegam até nossas estatísticas?, disse.

De acordo com Dabul, a maioria dos crimes está relacionada ao tráfico de drogas e a população pode colaborar, denunciando pelo 181 – Narcodenúncia. ?Por menor que seja o crime, ele pode ter ligação com o tráfico?, alertou.

Com relação ao aumento do número de efetivo, reivindicado em alguns protestos, a Secretaria de Estado da Segurança Pública informou que existe um estudo para implantação de um novo batalhão na Região Metropolitana de Curitiba. Porém, segundo a secretaria, não há previsão de quando esse processo irá acontecer, porque depende de uma série de fatores.

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