Ataque de abelhas mata cão

Um ataque de abelhas por pouco não deixa quatro pessoas da mesma família – incluindo um bebê de 10 meses – moradoras na Avenida Presidente Kennedy, no Rebouças, gravemente feridas. O cão da família, um mestiço de Rotweiller com Fila, não conseguiu abrigo seguro e agonizou por mais de quatro horas até a morte, com cerca de 700 picadas, segundo contou o médico veterinário que atendia o animal. Os quatro passaram por momento de terror, enxergando, do lado de dentro de casa, a janela forrada de abelhas tentando entrar, e um dos familiares trancafiado dentro de um carro, com os insetos invadindo o veículo pela ventilação e pelo motor.

A dona de casa Fabiana de Barros, 29 anos, contou que as abelhas já tinham atacado uma vez, há cerca de um mês, e também feriram o cão, porém não de forma tão grave. Naquela ocasião ela se trancou com o bebê na lavanderia da casa, e escutava os insetos batendo na porta do cômodo. Fabiana diz que ligou para o Corpo de Bombeiros e pediu ajuda, mas não foi atendida.

?Eles disseram que a Secretaria do Meio Ambiente os estava proibindo de fazer a extinção de abelhas, porque se trata de insetos silvestres. Ligamos ao Meio Ambiente cobrando uma posição e a atendente nos disse que não faria a extinção dos animais porque não era em local público, e deveríamos chamar um apicultor. Além disso, a bióloga do órgão estava em férias, e também não poderia nos ajudar?, contou a dona de casa.

O tenente Leonardo Mendes, relações públicas do Corpo de Bombeiros, explicou que, na primeira vez Fabiana foi orientada a chamar um apicultor particular, para que extinguisse a colméia do forro de sua casa. Ela tinha se programado para chamar o apicultor na sexta-feira passada, justamente na tarde em que sofreu o segundo ataque, e o cão da família morreu.

Horror

Fabiana e o companheiro Welington Soares, 29, voltaram de férias na última sexta-feira. Por volta das 16h, as abelhas os atacaram. Fabiana conseguiu salvar o bebê de dez meses e trancou-se com ele e com a sogra dentro de casa. Welington se fechou no Voyage da família e ficou por cerca de quatro horas tentando se salvar das abelhas que invadiam o veículo. Ele levou cerca de 30 ferroadas, a maioria na cabeça. O bebê, por sorte, levou apenas uma picada no dedo, e Fabiana levou umas três ferroadas na perna. Enquanto isso, o cão da família agonizava no quintal. ?Eu olhava da janela, meu marido olhava de dentro do carro, mas não podíamos sair naquela nuvem preta lá fora. Depois que conseguimos sair, ainda o levamos no veterinário, mas já estava sem se mexer, e não deu para salvá-lo?, disse a dona de casa, com lágrimas nos olhos, e assustada até mesmo com uma mosca voando ao seu lado.

Fabiana diz que telefonou oito vezes ao Corpo de Bombeiros, que disse que não poderia fazer o salvamento durante o dia. À noite, por volta das 21h, os bombeiros apareceram e conseguiram retirar a colméia, que tinha um tamanho aproximado de 2m de comprimento por 1,50m de altura.

?O que mais nos deixou sentidos era o jogo de empurra. O Corpo de Bombeiros empurrou a culpa para o Meio Ambiente, e este mandava a gente procurar o Corpo de Bombeiros. Alguém de nós poderia ter morrido. Estávamos com um bebê de 10 meses em casa, que não suportaria muitas picadas. Sorte que nosso filho de cinco anos não estava aqui?, disse Welington.

Legislação deixa bombeiros em impasse

O tenente Leonardo Mendes, do Corpo de Bombeiros (CB), disse que a corporação muitas vezes fica no impasse entre a legislação e a vida humana. Segundo ele, há uma lei, de 1999, que proíbe a extinção de animais silvestres e produtivos (que trazem algum benefício à vida humana). ?Porém, quando há uma vida em risco, mesmo assim vamos contra a lei e assumimos as punições que podemos sofrer perante o juiz?, explica o oficial.

De acordo com o tenente, na primeira vez que Fabiana telefonou à emergência do CB, como não havia risco à vida humana, ela foi orientada a procurar um apicultor, que poderia extrair a colméia. Ela revela que, na sexta-feira, data do segundo ataque, voltava de viagem, e na chegada a Curitiba iria procurar o apicultor. ?Só que meu bebê estava com fome, então decidimos parar em casa antes de procurar o profissional. Foi quando aconteceu o segundo ataque?, justificou a dona de casa, que também reclamou dos bombeiros não terem ido prontamente atender a emergência.

Os bombeiros só foram retirar os insetos à noite porque, enquanto está claro, as abelhas estão muito atiçadas e nervosas, o que poderia ter colocado em risco a vida dos bombeiros. À noite, estão mais calmas e recolhidas na colméia, e a extinção se faz com um maçarico, queimando os insetos em seu refúgio.

Choque

Picadas de abelha podem ou não matar, dependendo de cada pessoa. As alérgicas podem se prejudicar com apenas uma ou duas picadas. As não alérgicas não sofrem riscos com poucos ferimentos. ?Tudo vai depender da quantidade de ferroadas que a pessoa levou e a reação do corpo de cada um?, explicou o tenente.

Picadas de abelhas em grande quantidade podem levar a vítima a seis diferentes tipos de choque. ?As alérgicas, em geral, sofrem o choque anafilático com uma ou duas picadas, e o corpo incha. A garganta fica trancada, há dificuldade de respirar, seguida da parada respiratória. O veneno da ferroada também pode levar à dilatação dos vasos sangüíneos e à queda da pressão arterial, e em conseqüência, à parada cardio-respiratória. Recomendamos à população que, assim que encontrem sinais de abelhas em suas casas, chamem de imediato um apicultor para evitar problemas mais graves no futuro?, informou o oficial.

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