?Ali passa-contêiner? está na cadeia

Apesar de estar detido há doze dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, o libanês naturalizado brasileiro, Ali Mohamad Zeaiter, cumpre pena por crimes pelos quais foi condenado pela Justiça comum. Acusado dos crimes de extorsão e ameaça pelo juízo da 11.ª Vara Criminal de Curitiba, Mohamad, que já foi preso em 2005 por liberar contêineres com cargas ilegais no Porto de Paranaguá, dessa vez foi parar na cadeia por ter roubado um processo no cartório da 8.ª Vara Cível de Curitiba e tentar tirar dinheiro, à força, da parte que movia a ação, para devolver os autos.  

O ato que deu origem à prisão aconteceu em 2002. Ali Mohamad foi denunciado pelo Ministério Público do Estado por ter enganado a funcionária do cartório e levado os autos de uma ação de perdas e danos movida contra o Banco Bamerindus, por Josias Marquesi Junior. Mohamad passou a estabelecer contato com Josias e seu advogado declarando ser ?lobista? do Poder Judiciário e exigindo dinheiro para agilizar os trâmites do processo, o qual estaria em seu poder.

Mohamad teria exigido até R$ 40 mil para devolver a papelada, conforme a denúncia do Ministério Público. No entanto, acabou fechando o negócio por R$ 1,2 mil. Combinado o encontro para a troca, a vítima avisou a polícia e Mohamad foi preso em flagrante. Na ocasião, ele teria ainda ameaçado Josias de morte, ao que foi atribuída a denúncia pelo crime de ameaça.

O processo correu ao longo dos últimos cinco anos com uma série de recursos interpostos pela defesa, alegando a inocência de Mohamad que, em depoimento, negou as acusações dizendo que o pagamento que recebia era referente a uma dívida. Nenhuma apelação foi aceita e, em fevereiro de 2005, ele acabou sendo condenado pelo juiz Davi Pinto de Almeida, da 11.ª Vara Criminal da capital, a cumprir cinco anos de prisão pelo crime de extorsão e mais três meses pelo de ameaça. A pena seria cumprida em regime semi-aberto. Novos apelos foram colocados e vistas foram abertas ao Ministério Público e ao Tribunal de Justiça, que em todos os recursos se posicionaram contra a absolvição de Ali Mohamad Zeaiter.

Finalmente, em 18 de maio deste ano, o juiz Almeida expediu o mandado de prisão contra ele e, em 1.º de junho, o delegado da Polícia Federal Jonathan Trevisan Junior confirmava a detenção do acusado. Na confirmação, consta que Mohamad deve ser transferido para a carceragem estadual, porém, sem especificar datas.

A assessoria de comunicação da Polícia Federal confirmou, ontem, oficialmente, a prisão de Mohamad, que já era especulada desde a semana passada. De acordo com a assessoria, a causa da prisão foi crime contra a administração pública. Não há informações, porém, sobre o motivo pelo qual o acusado foi preso pela Polícia Federal, uma vez que sua condenação não se deu pela Justiça Federal o que, nesse caso, seria de praxe que fosse feito pelas polícias Militar ou Civil.

Em 2005, ele já havia sido preso

Em novembro de 2005, Mohamad foi preso pela PF depois de liberar mais de vinte contêineres com carga ilegal no Porto de Paranaguá. Passou a ser conhecido, a partir de então, como ?Ali Passa-contêiner?, devido a sua forte influência no âmbito da autarquia. Amigo pessoal do superintendente do porto, Eduardo Requião, Mohamad também é famoso como assíduo freqüentador das reuniões da escolinha de governo das quais está sumido desde que foi preso.

Mesmo flagrado à época pela PF enquanto conduzia um comboio ao porto, Ali acabou solto em seguida. Foi quando o então deputado estadual José Domingos Scarpellini (PSB) solicitou que o governador Roberto Requião, o secretário Waldyr Pugliesi, dos Transportes, e o superintendente dos Portos de Antonina e Paranaguá explicassem à Assembléia Legislativa a liberação dos contêineres em nome do libanês. Meses depois, a resposta: ?O governador, através da Casa Civil, informou que o Pugliesi e o Eduardo Requião não tinham conhecimento da existência dessa pessoa?, lembra o ex-deputado.

Mas Scarpellini não deu créditos à justificativa. ?Acredito que sabiam o que ele fazia.? Além disso, para o ex-deputado, o ?Passa-contêineres? ainda hoje atua no porto.

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