Advogado culpa alto escalão da PM por morte de major

?Foi gente do alto escalão da Polícia Militar que matou o major Pedro Plocharski. Enquanto os inocentes estão presos, os culpados estão rindo". A frase comprometedora é do advogado Peter Amaro de Souza, acusado de envolvimento no assassinato do oficial, ocorrido em janeiro. O advogado foi denunciado pelo Ministério Público por formação de quadrilha. Ele teve a prisão preventiva decretada e estava foragido desde o dia 16 de junho.

Aproveitando a brecha eleitoral, pelo referendo sobre a venda de armas, Peter se apresentou no início da tarde de ontem à juíza substituta da 1.ª Vara Criminal de Curitiba, Suzana Loretto de Oliveira. O defensor tinha audiência marcada para as 13h30 e foi interrogado por uma hora e meia. Em seguida, foi liberado, apesar do mandado de prisão estar em vigor. A magistrada não permitiu que a imprensa acompanhasse a audiência e solicitou que a entrevista coletiva fosse feita no saguão do prédio e não no corredor da 1.ª Vara Criminal, no 4.º andar do prédio, na Avenida Marechal Floriano, no centro. "Ela queria saber quem matou o major. Eu disse que não sei e se soubesse não diria", comentou Peter, com ironia. "É uma questão de segurança pessoal, para me preservar", disse o advogado, no início da entrevista. "Quem matou é um problema da polícia, que sabe quem são os autores", assegurou.

Crime

Apesar de resistir ao interrogatório da juíza, o defensor acabou falando ao ser "bombardeado" pelos repórteres. "A Polícia Civil desviou a linha de investigação. Eu sou advogado criminalista e também investigativo. Sei que seria gente do alto escalão quem matou", afirmou.

Peter se referiu ao delegado da Homicídios, Luís Alberto Cartaxo de Moura, como "Dick Vigarista", fazendo uma alusão a um personagem de desenho animado. Ele afirma que "o oficial foi morto por traficantes, mas que investigava os próprios membros da corporação e não o tráfico de drogas". "Inclusive, ele estava averiguando a venda de promoções na Polícia Militar", salientou. "Agora colocam como autor o ex-tenente da Polícia Militar, Alberto da Silva Santos, que estava preso no dia do crime, na Colônia Penal Agrícola, em Piraquara. Isto foi comprovado", afirmou. "As testemunhas dizem que os autores estavam encapuzados. Como então reconheceram o ex-tenente?", indagou Peter. "Vou processar o Cartaxo e o delegado Fernando Francisquine, da Polícia Federal, por abuso de autoridade. Não é nada pessoal nem vingança", assegurou.

Investigações

O advogado considera que cabe à polícia investigar o caso. Ele preferiu não falar sobre os autores do crime, alegando que teme por sua vida. "Eu não tenho medo de morrer. Tenho dó de morrer. Agora tenho uma missão que é o estado de direito. Ninguém tem segurança neste País. Eu tenho o direito de ficar calado. É uma questão de ética profissional", falou. "Nem isso eles respeitam. Arrombaram meu escritório, retiraram documentos. Depois foram na minha casa e policiais federais apontaram armas para minha família. Meu filho de 15 anos foi obrigado a ficar de joelhos e o intimidaram com armas para dizer onde eu estava. A minha filha, de 13 anos, até hoje recebe telefonemas anônimos", lamentou.

Lei da "ditadura" beneficia foragidos

Desde a zero hora de ontem até 48 horas após o término do Referendo do Desarmamento, que deve acontecer no próximo domingo, nenhum eleitor pode ser preso, salvo ser for em flagrante ou se tiver sido condenado por crime inafiançável. É o que diz o artigo 236 da Lei 7437/65 (Código Eleitoral).

No caso do advogado Peter Amaro, a prisão continua em vigor e ele poderá ser preso 48 horas após o término do referendo. A lei vale para eleições, referendos ou plebiscitos.

Cartaxo se defende

O delegado Luís Alberto Cartaxo de Moura, da Delegacia de Homicídios, afirmou ontem que vai processar o advogado Peter Amaro de Souza, por denunciação caluniosa e danos morais, devido às declarações feitas por ele à imprensa. "Ele que produza provas nos autos. O que existe hoje é o resultado de uma investigação de seis meses em trabalho conjunto das polícias Civil, Federal, Militar e do setor de inteligência da Secretaria de Segurança Pública", assegurou Cartaxo.

As afirmações de Peter, de acordo com o policial, contradizem todas as conclusões que o juiz e o promotor tiraram do inquérito. "O que ele está fazendo se chama animus esperniandi. O que é próprio das pessoas que não têm defesa e atacam a polícia", disse o delegado.

Cartaxo afirmou que, no processo, há provas suficientes de que o tenente Alberto deixou várias vezes a Colônia Penal Agrícola. "É notório que o controle da Colônia Penal é deficiente, ou pelo menos, era na época em que ocorreu o crime", frisou.

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