Absolvição dos ciganos leva caso à estaca zero

“O assassino está nas ruas. Ele está solto e pode pegar outras crianças. E nós cobramos isto, nós queremos Justiça”. Esta frase foi pronunciada ontem à tarde em Quatro Barras por Albani Costa, 50 anos, tia da garota Giovanna dos Reis Costa, assassinada em 10 de abril de 2006. Albani foi uma das poucas familiares que acompanharam até o fim o julgamento dos ciganos Vera Petrovich e seu filho Pero Petrovich, inocentados do crime pelo Tribunal do Júri nas primeiras horas da madrugada de ontem. Ela se referia ao fato de o Estado não ter resolvido o crime.

O sentimento de Albani e o da família era de cansaço, frustração e tristeza. Uma dor que vai se prolongar até quando ninguém sabe. A decepção foi por conta do inquérito elaborado pela delegada Margareth Alferes Motta, aceito pelo promotor Octacílio Sacerdote Filho e desenhado no primeiro dia de julgamento como uma peça pífia de acusação. “Não teve uma prova. Na época tinha até outras linhas de investigação que foi levada para a delegada e ela ignorou, preferindo esta”, recorda Albani. Ela suspira decepcionada: “Muita falha, muita falha. Hoje eu não consegui trabalhar direito. Naquele julgamento parece que a gente desenterrou a Giovanna. Foi muito difícil”, diz ela.

“Eu só quero justiça”

A mãe de Giovanna, Cristina Aparecida Costa, amanheceu frustrada e triste em sua residência em Quatro Barras. O seu marido, Altevir Costa, entrou em depressão, perdeu três quilos e se recusa a comer e a beber. Ficou doente e não foi trabalhar na empresa em Colombo, nem ontem e tampouco anteontem. O problema que atormentou os pais da garota nestes últimos seis anos ainda continua latejando em suas cabeças. E, desta vez, de forma ainda mais inquietante: “Quem matou minha filha? Eu só quero Justiça. Eu quero que o Estado saiba que eu tenho direito a Justiça. Eu quero saber quem matou minha filha”, diz Cristina num fio de voz.

Os pais da menina nem foram ao terceiro dia de julgamento. O frustrante desempenho da delegada Alferes Motta, arrolada como testemunha de defesa pelo advogado Cláudio Dalledone Júnior, evidenciava as poucas chances da família sair do tribunal com a sensação de caso encerrado e justiça feita. Não havia provas materiais contra os acusados: a peça acusatória era frágil e controversa.

Um massacre

Os furos e contradições – e principalmente ausência de provas sólidas para incriminar os acusados – eram tantos, que Cristina Aparecida e Altevir Costa começaram a chorar. E o advogado de defesa Cláudio Dalledone Júnior, à frente de uma banca com mais quatro assistentes, fez a delegada de gato e sapato: foi um massacre. “O Estado devia excluir esta delegada de seus quadros por incompetência”, disse ele num dos intervalos no primeiro dia de julgamento. Não sobrou muita coisa para a ação do promotor Marcelo Ralzer, de Ponta Grossa, que substituiu Octacílio Sacerdote Filho, o autor da denúncia. Nos debates, no começo da noite do terceiro dia de julgamento, ele se referiu a si mesmo com palavras que servem para definir o caso para o qual foi escalado: “Dizem que sou o defensor das causas impossíveis”.

Do jeito que o inquérito chegou ao tribunal, aquela era uma causa impossível de defender. Cristina Aparecida, a mãe de Giovanna, percebeu. Nem foi conferir o último dia. E ontem era a própria imagem do desespero. “Eu estou decepcionada. A delegada disse uma coisa para nós e agora nós percebemos que está tudo errado. É muito frustrante. Eu só quero Justiça. Quero saber quem matou minha filha e peço punição”, disse. “Esta pessoa pode ser outra que está solta por aí. Eu estou indignada. Eu não sei mais nada”, disse, cansada de esperar a promoção de Justiça, que devia ser feita pelo Estado. Uma espera que vai se alongar mais. Muito mais.