Vida e morte Severino

As denúncias de corrupção, mensalões e mensalinhos se multiplicam. Acusados são muitos. Suspeitos, quase todos os políticos, pois, como uma praga nunca combatida com eficiência, as imoralidades na vida pública brasileira se eternizam e atingem todos os níveis. Existem políticos honestos. O problema é detectá-los e, com uma absurda inversão da prova que cabe a quem acusa, os honestos que se apresentem.

Nessa espécie de Baile da Ilha Fiscal, em que parece estarem de despedida, não da monarquia e, sim, da nossa República, muitos dos malandros que usam e abusam do poder para se locupletar e negociar os poderes que os mandatos populares lhes conferem, agora entra até o presidente da Câmara dos Deputados, o pernambucano Severino Cavalcanti (PP), já tachado de ?rei do baixo clero?.

Ele foi eleito num golpe contra Lula e a arrogância do PT, mas parece que os insurretos foram infelizes. Não elegeram para a presidência da Câmara o candidato de Lula nem um dissidente do PT que também se apresentou. Acabaram levando ao mais alto cargo do parlamento federal um político da velha guarda. Velha não por causa da idade e sim das idéias vetustas e superadas que sustenta, como o nepotismo e, agora, a condescendência com os deputados e partidos que receberam mensalões.

Ele, Severino, vinha construindo uma péssima imagem no País e principalmente no Congresso, acusado de impropriedades. Agora é acusado de cobrar mensalinho de R$ 10.000,00 mensais do concessionário de um restaurante que funciona dentro da Câmara. O proprietário do restaurante, que recebeu um documento de Cavalcanti garantindo-lhe cinco anos de concessão, quando as normas exigem renovação anual, teria denunciado o mensalinho a duas das principais revistas semanais do País. O presidente da Câmara desmentiu através de nota oficial e diz que não se lembra se assinou o dito compromisso de cinco anos. Mas, se o fez, foi sem ler. Talvez lendo, sabendo, mas passando por cima das normas para garantir o seu ?jabá? mensal, acreditam os que se lhe opõem.

E opõe-se a Severino a grande maioria dos deputados federais, em especial aqueles que exigem a cassação dos parlamentares corruptos. As lideranças do PSDB, PFL, PPS e PV exigem o afastamento de Severino enquanto é investigado, por determinação do Ministério da Justiça. Outros, entre eles o PFL e o PSDB, exigem que ele seja levado à Comissão de Ética, pois sem provas e sendo presidente da Câmara, portanto num cargo em que deveria estar eqüidistante das bancadas, tratando seus membros com isenção, andou dizendo à imprensa que tudo não passa de uma manobra daqueles partidos para desmoralizá-lo. As lideranças pefelistas e peessedebistas acham que essa atitude não pode ficar sem resposta, tenham ou não existido os tais mensalinhos.

No mais, nada justifica Severino assinar um documento dando cinco anos de concessão do restaurante da Câmara quando as normas da Casa exigem renovação ano a ano. E o contrato acabou agora. Daí porque Severino, em defesa própria, fala em estar sendo vítima de chantagem do gestor do restaurante, o que não prova. Como ainda não está provado o pagamento do mensalinho e o dono do restaurante agora nega que tenha existido, para garantir um mínimo de isenção se impõe pelo menos o afastamento de Severino. Mas é decisão para a semana que vem, pois ele viajou para Nova York, onde participa de um encontro de presidentes de parlamentos dos países membros da ONU.

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