Valério diz que toda a cúpula do PT sabia, menos Lula

Belo Horizonte (AE) – Depois de um depoimento cheio de lacunas à CPI dos Correios, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza começa a falar. Em entrevista à Agência Estado, ele diz que o deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro-chefe da Casa Civil, sabia de todas as operações de empréstimo feitas em favor do partido e era informado pelo ex-tesoureiro da legenda Delúbio Soares sempre que um novo financiamento era liberado.

Valério conta que os bancos BMG e Rural tinham conhecimento que o ex-ministro era uma espécie de avalista de todos os empréstimos tomados em favor do PT. "Por que você acha que os bancos emprestaram? Algum banqueiro desse País daria o aval para Delúbio e Valério? Alguém deu aval para Delúbio? Os bancos só deram aval porque sabiam que por trás tinha um conforto, uma garantia", argumenta, sugerindo que esse conforto era o todo-poderoso chefe da Casa Civil, que manteve inclusive encontros com dirigentes dos bancos envolvidos nas operações.

De acordo com o empresário, as transferências de dinheiro aos diretórios do PT e aos partidos aliados do Planalto determinados por Delúbio foram acompanhados passo a passo por Dirceu. "Delúbio tinha uma fidelidade canina e não fazia nada sem conversar com Zé Dirceu", comenta. Os repasses começaram a ser feitos em 26 de fevereiro de 2003 e totalizaram, segundo Valério, R$ 55,8 milhões – valor igual ao que o empresário tomou emprestado no BMG e no Rural com aval do ex-tesoureiro.

"Nos dois últimos anos, eu fui a pessoa mais íntima do Delúbio. Ele me disse que Zé Dirceu sabia das dívidas do partido que Zé Dirceu sabia dos compromissos com os outros partidos da base. Delúbio assumiu mais compromissos do que realmente poderia. Além de Zé Dirceu, todo mundo na cúpula do PT sabia dos empréstimos de Delúbio e das transferências para diretórios do PT e para partidos aliados", afirma o homem que vem sendo comparado ao empresário PC Farias.

O único preservado por ele é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "O presidente Lula não sabia e Delúbio nunca me contou nada com o nome dele". De acordo com Valério, os empréstimos e transferências de recursos começaram depois da eleição de 2002. Foi no segundo turno da disputa presidencial que ele começou a se reaproximar de um velho amigo petista, o deputado Virgílio Guimarães (MG), seu conterrâneo da cidade de Curvelo. No mesmo ano, conheceu Dirceu e ficou próximo da cúpula do PT.

Depois de tudo que ocorreu, ele não tem queixas de Delúbio, mas considera que Dirceu está fugindo de suas responsabilidades. Valério diz não saber se o Roberto Marques que aparece na lista de pessoas autorizadas a fazer saques no Banco Rural é o secretário particular do ex-ministro, mas revela que foi Delúbio quem pediu que colocasse seu nome na relação de sacadores. "O dinheiro não era meu. Era do Delúbio. A ordem vinha do Delúbio e eu cumpria", assegura. Em 15 de junho do ano passado, Marques foi autorizado a sacar um cheque de R$ 50 mil, mas não compareceu à agência. No dia seguinte, foi emitida uma nova autorização em nome de Luiz Carlos Mazano, identificado pela CPI como funcionário da Bônus-Banval, corretora que era usada por Valério para transferir dinheiro para políticos.

O dono das agências de publicidade SMP&B e DNA afirma que decidiu contar o que sabe para atender aos apelos da opinião pública e demonstra a preocupação de não parecer um chantagista. Ele avalia que não tem mais nada a perder: "Minha vida está uma droga". Valério conta ainda que venderá sua parte nas empresas de que é sócio, mas jura que não se arrepende do período em que conviveu com o ex-tesoureiro do PT. "Agora vou contar tudo o que sei, mas não de uma vez. Vou contar devagarinho e vou fazer um estrago, um barulhão", ameaça.

O empresário rejeita o termo "mensalão", usado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) para se referir aos repasses de dinheiro a políticos e partidos aliados do governo Lula. Para Valério, a palavra não é apropriada.

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