Um mistério a mais

Mais uma nódoa na ampla cortina estendida sobre o governo Lula, desde que as denúncias do deputado cassado Roberto Jefferson atingiram a parte mais considerável do comando petista, num golpe de dados, varrida dos principais cargos da executiva nacional.

No fluxo interminável de denúncias, Jefferson dirigiu o foco para o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, coordenador da campanha de Lula à Presidência da República. Considerado crime comum, apesar de inúmeras perguntas não respondidas pelo inquérito policial e, por isso, questionado até hoje pelo Ministério Público paulista, há muito mistério em torno dessa morte.

Além dos promotores, os próprios irmãos do ex-prefeito reiteram evidências da operação montada na Prefeitura de Santo André para cobrar pedágio dos empresários do transporte coletivo, enfim, uma trama que teria culminado com o assassinato do íntimo colaborador de Lula.

O caso acaba de ganhar uma conotação de alta periculosidade com a morte – ainda não esclarecida – do médico legista Carlos Delmonte Printes, autor do laudo pericial no cadáver de Celso Daniel, no qual se comprova que a vítima foi barbaramente torturada antes de morrer e, dessa forma, pondo em dúvida severa a tese do crime comum.

O Instituto Médico-Legal da Polícia Civil do Estado de São Paulo tem dez dias para fornecer o resultado da análise que deverá esclarecer a causa da morte de Printes, nesse momento sob não pequena suspeita de que tenha sido por envenenamento. Não havia marcas de violência no corpo e a hipótese de acidente cardiovascular foi afastada.

A urucubaca invocada pelo presidente Lula para explicar o inferno astral de seu governo, como se observa, está em franca evolução. Recente depoimento do legista morto havia reacendido a discussão sobre Celso Daniel, agravada pelas revelações dos irmãos do ex-prefeito às CPIs.

Tudo pode fazer parte de um pesadelo e, logo, desfazer-se como a névoa. Mas a quantidade de coincidências e nexos, que encaixam pormenores aparentemente antagônicos, dá ao caso natureza explosiva de elevada potência. Daniel coordenava a campanha de Lula, portanto era quadro de primeira linha.

Aleivosias à parte, por sua importância em futura administração petista, as causas de seu desaparecimento, ao que parece, foram estabelecidas com um açodamento não condizente com a rotina policial. Daí as profundas lacunas abertas na consciência de todos quantos privaram de sua amizade e convívio.

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