Tucano depenado

O desconforto abateu-se sem piedade sobre o tucanato de alta plumagem com o rombo causado pela reportagem da revista IstoÉ, dando conta que o senador Eduardo Azeredo recebeu um empréstimo de R$ 700 mil, consubstanciado num cheque pessoal de Marcos Valério Fernandes de Souza – sempre ele – para pagar uma dívida com o tesoureiro de sua campanha ao governo de Minas, em 1998.

Partido que estoca metodicamente o PT, acusando-o da prática de corrupção com fins eleitoreiros, de repente o PSDB viu-se enredado na mesma teia que procurou lançar sobre o adversário. Escaldado pelas circunstâncias, mas sem abrir mão da pose de afetada nobreza, o tucanato esmerou-se para convencer ao senador, presidente nacional da sigla, a renunciar ao posto para melhor defender-se da pecha de beneficiário do famigerado caixa 2.

O PSDB fará sua convenção no dia 18 de novembro e o cearense Tasso Jereissati deverá ser eleito presidente da executiva nacional. Até lá, o prefeito de São Paulo, José Serra, voltará a ocupar o cargo antes cedido ao vice-presidente Eduardo Azeredo.

Mesmo sob visível constrangimento, os tucanos buscam minimizar os efeitos da publicação de cópia do cheque de Marcos Valério, enfim, prova concreta do fluxo de dinheiro não contabilizado no caixa do partido, fazendo das tripas coração para provar que o PSDB nem de perto pode ser comparado ao PT, este sim, o partido que inaugurou a corrupção sistêmica.

Ora, como bem poderia lembrar o conselheiro Acácio, personagem invocado nos momentos em que a razão sucumbe à verborragia dos insensatos, nada como um dia depois do outro. O fato é claro. O senador recebeu a ajuda financeira de Marcos Valério, possivelmente intermediada por Clésio Andrade, então candidato a vice na chapa de Azeredo, por acaso sócio das agências de publicidade do emitente do cheque.

Não há, portanto, desvio do foco da CPMI dos Correios quando parlamentares governistas se aprestam a convocar o senador Eduardo Azeredo, posto que o relator Osmar Serraglio ache melhor que sua excelência se ofereça espontaneamente para depor mais uma vez.

A revista que estampou a matéria decerto não está interessada em mudar o foco de coisa alguma e fez apenas o dever de casa: apurou e publicou o que lhe chegou ao conhecimento. Aliás, comprovando pela enésima vez que caixa 2 em eleições realizadas no País é coisa tão velha quanto a Sé de Braga.

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