Tragédia ou farsa?

Entre xingamentos, safanões, dedos na cara e a iminente troca de sopapos por parte dos delegados mais exaltados, a convenção nacional do PDT aprovou com maioria folgada de votos (236 a 97) a candidatura do senador Cristóvam Buarque à Presidência da República. Um espetáculo tragicômico oferecido pelo resquício do partido fundado por Leonel Brizola, logo após o golpe de mão perpetrado pelo general Golberi do Couto e Silva ao outorgar a legenda do PTB à deputada paulista Ivete Vargas, parente distante do ex-presidente Getúlio Vargas, ídolo maior do trabalhismo brasileiro.

Na véspera da convenção, um grupo de parlamentares e delegados entregou um abaixo-assinado ao presidente da executiva nacional, Carlos Lupi, solicitando ao partido a reconsideração da tese da candidatura própria, à vista da enorme dificuldade que a agremiação vai enfrentar na superação da cláusula de barreira. De acordo com o dispositivo, para ter direito à atividade parlamentar e acesso às verbas do fundo partidário, o partido necessita conquistar 5% dos votos válidos em todo o território nacional, ou 2% dos votos do eleitorado de nove estados.

Os pedetistas que tentaram evitar o lançamento da candidatura do senador Cristóvam Buarque, entre eles os paranaenses, também com o afã de lutar pela candidatura do senador Osmar Dias ao governo estadual em aliança com a dupla PSDB/PFL, sofreram uma derrota acachapante debitada às manipulações de Lupi e a seu projeto pessoal de ser candidato ao governo do Rio. Em face da verticalização, o PDT somente poderá acertar alianças estaduais com o PTB, numa irônica repetição em forma de farsa da tragédia da perda da legenda, PP ou PL, partidos sem candidato próprio à Presidência da República.

O aliado da primeira hora, o PPS, ao afastar sem cerimônia a candidatura do deputado Roberto Freire, também evadiu-se do compromisso anterior de marchar com o partido de Brizola, preferindo a colagem informal na campanha de Geraldo Alckmin e José Jorge, num gesto de extremo pragmatismo bastante característico dos atuais herdeiros do vetusto Partido Comunista Brasileiro e, daqueles políticos privados de bandeiras mais consistentes que passaram a compor esta massa falida.

Se há mérito na candidatura de Buarque, ele se concretiza na superior condição intelectual do ex-reitor da Universidade Nacional de Brasília e ministro da Educação do governo Lula, de longe, o mais culto dentre todos os pretendentes ao Palácio do Planalto. Infelizmente, porém, eleição não é uma prova de acuidade mental.

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