Traficante confirma que Hildebrando comandava o esquadrão da morte

O traficante Alexandre Alves da Silva, o Nin, transformou-se hoje (10), após aceitar o acordo de "delação premiada", na principal testemunha de acusação contra o ex-deputado Hildebrando Pascoal, apontado como mandante do assassinato do policial Walter José Ayala, em 1997, e chefe de um grupo de extermínio no Acre. Os criminosos comandados supostamente por Hildebrando ficaram conhecidos por "turma da serra elétrica", pela barbárie com que executavam suas vítimas, algumas mutiladas ainda vivas com motossera. "Rio Branco inteira sabia que ele (Hildebrando) era o chefe do esquadrão da morte", acusou Nin.

Irmão do ex-deputado José Alekssandro da Silva (PSL) – que assumiu o mandado em 2000, no lugar de Hildebrando, e na última eleição foi candidato derrotado ao Senado, no Acre – Nin revelou que soube do crime pelo pistoleiro Raimundo Alves de Oliveira, autor dos disparos que mataram Ayala.

Segundo Nin, Raimundo lhe confidenciou que o assassinato do policial fora encomendada por Hildebrando e por um de seus principais comparsas, o sargento da Polícia Militar Alex Fernando Barros. Ele confirmou que a motivação do crime foi "queima de arquivo", já que Ayala "sabia muito" e ameaçava delatar o esquadrão à comissão federal de direitos humanos que investigava o crime organizado em Rio Branco.

Nin mudou completamente a versão que havia contado no primeiro depoimento à justiça. Ele revelou que era amigo e freqüentava a casa de Hildebrando, para quem já havia feito alguns "serviços". Quando a juíza Maria de Fátima de Paula Costa pediu detalhes, ele disse que exerceria o direito de permanecer calado, mas que explicaria o caso quando fosse ouvido em outro processo que corre na justiça estadual do Acre.

Réu no mesmo processo de Hildebrando, Nin negou que tenha participado do assassinato do policial. Disse que depois que optou pelo acordo com a justiça, passou a ser tratado como "dedo-duro" pelo grupo do ex-deputado, a quem acusou de ter encomendado seu assassinato por R$ 50 mil a outros dois detentos do Presídio de Rio Branco, onde cumpre pena por tráfico de drogas.

Nin é apontado como um dos criminosos mais frios ligados ao esquadrão comandado por Hildebrando. Em um dos casos, é acusado de ter matado um rapaz, Antônio Francisco Amâncio da Silva, por motivo banal. O rapaz teria "mantido um relacionamento amoroso" com a mulher de um amigo e integrante do esquadrão, o ex-PM Marcos Figueiredo Gonçalves.

Embora garanta que não tem medo, Nin disse que está preocupado com a segurança de sua mulher e as duas filhas – com idades de um ano e meio e três anos. "Quem sabe muito que nem eu….", acrescentou, ao responder com um "positivo" quando o procurador da República, Pedro Taques, perguntou se temia que "toquem fogo em sua casa ou algo parecido".

Nin disse que aceitou colaborar com a Justiça em troca da redução da pena em outro assassinato em que é acusado. Disse que mentiu no primeiro depoimento por orientação de Hildebrando e dos advogados que trabalham para o ex-deputado. Citou como participante do "combinado" feito dentro do presídio, em Rio Branco, os advogados acreanos Valdomiro da Silva Magalhães, Rui Duarte e o "Doutor Jair", este último, o único dos acusados que se encontrava no tribunal.

"Doutor Jair" é o advogado Jair Medeiros, que defende o pistoleiro Raimundo Alves de Oliveira. Ele negou o "combinado" e atribuiu a acusação a uma artimanha improvisada por Pedro Taques para defender os procuradores Roberto Santoro e Marcelo Serrazul.

Um dos advogados de defesa dos presos, José Wilson Mendes Leão, induziu o ex-PM Reginaldo Rocha de Souza, outro réu a afirmar em depoimento, ontem à noite, que os procuradores o haviam pressionado para delatar Hildebrando Pascoal em troca dos benefícios do programa de delação premiada – que ele, afinal, não aceitou. "Quem me conhece sabe que no Acre sou o maior defensor do programa de proteção a testemunhas. Não faz nenhum sentido terem citado meu nome", reagiu Jair Medeiros.

O procurador Pedro Taques disse que embora nos bastidores sempre se levante suspeitas sobre a atuação de advogados, essa é a primeira vez que um réu, em depoimento, revela formalmente um esquema destinado a induzir um réu a mentir à justiça para proteger outro réu. "Vou pedir à juíza que encaminhe à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) um pedido de apuração", disse o procurador.

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