Torcedores do Inter ficarão 60 horas em fila por ingresso

Convicto de que não pode perder a chance de ver o Internacional ser campeão da Copa Libertadores, o casal Fernando Bacchi, 22 anos, e Lisandra Bresolin, 26 anos, se instalou diante da bilheteria do Beira-Rio na noite de quinta-feira e só deixará o pátio do estádio no domingo, às 9 horas, quando comprará os dois primeiros dos quatro mil ingressos colocados à venda pelo clube para a decisão de quarta-feira, contra o São Paulo. Outros 40 mil entradas serão distribuídas aos sócios do clube e três mil serão destinados à torcida visitante.

O sacrifício em nome da paixão é grande. Munidos de um colchão, uma mochila com mantimentos e roupas e uma bandeira do clube para se enrolar, os dois torcedores passaram a primeira noite ao relento, sozinhos, contando apenas com os cuidados de seguranças do clube atentos ao movimento do pátio. Ao longo da espera, se revezam para ir ao sanitário de um bar próximo e não têm a perspectiva de tomar banho, a menos que recebam a visita de algum amigo disposto a segurar o lugar por algum tempo.

A compensação, acredita o casal, será o momento histórico que vai viver com a conquista do título. Quando o Internacional formou o grande time que ganhou três campeonatos brasileiros na década de 70, Bacchi e Lisandra nem eram nascidos. Depois, como torcedores, só comemoraram uma Copa do Brasil (em 1992) e alguns campeonatos gaúchos.

"Toda a minha vida sofri acompanhando os jogos do Internacional pelo rádio ou pela televisão e agora não poderia deixar de estar aqui para ver o sonho virar realidade", explica Bacchi, que mora com Lisandra em Bento Gonçalves, a 110 quilômetros da capital gaúcha, e poucas vezes vai ao Beira-Rio. "Agora só espero que o time tenha raça, isso é suficiente para ganharmos o título", avalia. "Quero uma vitória, precisamos comemorar com pelo menos um gol", complementa Lisandra.

A solidão do casal acabou ao meio-dia de ontem, quando outros colorados começaram a formar a fila dos que se submetem a qualquer intempérie para testemunhar uma conquista sonhada há muitos anos. A advogada Ana Paula Klein, 25 anos, sua mãe, duas primas e uma irmã chegaram com cadeiras, chimarrão, chocolate, casacos e capas de chuva.

"Somos cinco mulheres e nunca fizemos algo semelhante", revela Ana Paula, acostumada a vibrar com o Internacional desde que tinha nove anos. "Só ficaram em casa o pai e os dois cachorros".

Atrás de Ana Paula, o produtor cultural Joel Pereira, 28 anos, e seu sobrinho Gustavo, instalaram uma barraca e ficaram esperando mais cinco pessoas, com quem se revezariam no posto de espera pelos ingressos. "Essa fila vai ter mais de quatro mil pessoas bem antes do domingo", previa Joel. "Precisamos chegar cedo para garantir nosso lugares".

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