Todos por um

O ritmo da procissão que acompanha o andor da cassação de mandatos dos deputados acusados de receber dinheiro do valerioduto está sob domínio do chamado baixo clero. A absolvição dos deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP) mostrou isso com riqueza de detalhes.

Pelo comportamento da maioria dos deputados ao votar os relatórios propondo a cassação de Brant e Luizinho, os que estão em lista de espera ficam autorizados a sonhar com a indulgência plena.

Afinal, diz o bestiário congressual, seus delitos são infinitamente menores e menos ruinosos para a integridade do tecido político brasileiro que as ações concebidas, por exemplo, pela cúpula dos partidos da base aliada em salas reservadas do Planalto.

Não será raciocínio temerário compreender o proverbial sentimento de autodefesa dos parlamentares federais, ao poupar companheiros de tantos anos do estigma da perda dos mandatos, quando os protagonistas da asquerosa página da política – Roberto Jefferson e José Dirceu – foram alijados da vida pública.

E as demais figuras de proa do escândalo, como Marcos Valério de Souza, Duda Mendonça, Delúbio Soares e quejandos irão, decerto, acertar suas contas com o Ministério Público e o Poder Judiciário.

É provável que incautos esperassem reação semelhante à noite dos longos punhais, quando as principais cabeças do esquema de apoio ao nazismo foram separadas dos respectivos corpos. Congresso corporativo como o brasileiro jamais chegaria a esse extremo, porquanto o lema recorrente entre deputados e senadores é o dos três mosqueteiros: ?Um por todos e todos por um?.

A tarefa de evitar que certas figuras deletérias voltem a ter assento no Congresso na próxima legislatura está na consciência dos eleitores. Marcação cerrada deverá ser exercida, de preferência, sobre os integrantes da lista de cassáveis tratados a pão-de-ló pelos colegas. A verdadeira justiça tarda, mas não falha.

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