Teoria e prática

O governo Lula sofre um novo revés a intervalos cada vez mais rápidos e preocupantes. Nesse ritmo, corre o risco de tornar-se completamente irreconhecível dentro de pouco tempo, não apenas comprometendo a imagem de seriedade usada para conquistar a massa, mas arrastando a hipótese do segundo mandato a um terreno minado altamente perigoso.

Não se conseguiu, ainda, e tudo leva a crer que demore, administrar a celeuma causada pela suspeita de atos ilícitos cometidos pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), ao contrair empréstimo com o Banco da Amazônia (Basa) para a empresa Frangonorte, da qual figurava como sócio-proprietário.

O presidente Lula ficará uns poucos dias longe da repercussão que os jornais conferem ao fato, embora estivesse ciente, ao embarcar para Roma, do explosivo pedido encaminhado pelo procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, ao Supremo Tribunal Federal (STF), para a determinação da quebra do sigilo bancário do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e das empresas por ele controladas.

A razão do pedido está na quantidade de indícios de crime de sonegação fiscal, remessa ilegal de recursos para fora do País e crime eleitoral. Em se tratando da principal autoridade monetária da República, o constrangimento natural torna-se insuportável na medida da relevância intrínseca à alta função confiada a Meirelles.

Segundo o noticiário, Meirelles teria participação em pelo menos nove empresas, dentre elas a Silvânia, que se apresentava com três razões sociais diferentes. O procurador-geral não duvida que todas pertençam ao ex-presidente do BankBoston. Investiga-se uma remessa avaliada em R$ 1,37 bilhão, cujo dinheiro não foi identificado, feita pela Boston Comercial Participações Ltda. por meio do banco multinacional.

Em 2001, Meirelles informou à Receita Federal morar nos Estados Unidos e não ser obrigado a declarar Imposto de Renda. Contudo, na documentação entregue à Justiça Eleitoral afirmou residir em Goiás, onde foi eleito para a Câmara dos Deputados em 2002.

O desgaste do governo é notório pelo desconforto oriundo da conflituosa diferença entre teoria e prática.

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